Correio de Carajás

Rios de Encontro lança Viveiro: Raízes do Futuro

Desde o VII Festival Beleza Amazônica, no final de 2019, Marabá vem perguntando: “E o projeto? Enraizado na comunidade Cabelo Seco desde 2009. Não volta mais?”

Dan Baron e Karol Cunha iniciam na Alepa o 1º diálogo sobre Bem Viver na vida pessoal

“Igual a tantos milhares de projetos, fechamos nossas portas em março de 2020 para proteger a comunidade da covid-19,” explica Dan Baron. Segundo ele, as oficinas, espetáculos, cine na rua, biblioteca, jardim medicinal, bicicletadas e festivais foram paralisados. “Mais atrás, estávamos atuando, online, não para adiar o fim do mundo, mas para transformá-lo!”, justifica.

Em julho de 2020, Camylla Alves, da AfroMundo, contou para Dan um sonho, quando foi engolida por uma baleia. Após seis meses de ensaios por WhatsApp, saiu a obra virtual “A Baleia e a Dançarina”.

“A dança me curou do trauma da pandemia. Mas vivendo a memória do mundo na barriga da baleia, reencontrei minha raiz. A vida simples, de conviver com a natureza. E aprendi que quem vive essa visão ecológica vai sobreviver ao colapso climático”, sustenta a jovem.

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Ao longo de 2021, Dan Baron produziu quatro vídeos sobre a criação coletiva dos monumentos “As Castanheiras”, de Eldorado dos Carajás, e 500 Anos de Resistência dos Povos Indígenas do Brasil. Narrados por Manoela Souza, os vídeos mostram como, no centro desses grandes símbolos emergirem escolas de formação artística de eco-pedagogas.

Dan Baron explica ao deputado Marquito Abreu (PSOL-SC) o potencial da força eco-pedagógico do monumento As Castanheiras de Eldorado dos Carajás na ALESC

Durante a pandemia, o projeto também realizou 24 mesas virtuais: No Limiar entre Ecocídio e Bem Viver, com artistas, educadores, advogadas e políticos do mundo. Camylla Alves e Elisa Dias, do Coletivo AfroRaiz, foram convidadas para contar como, ao longo de 12 anos, suas experiências na beira do rio viraram consciência ecológica”.

Elisa Dias do Coletivo AfroRaiz explica o significado do resgate da raiz na sua formação como artivista comunitária

“Recusei um contrato para ministrar cursos de dança na Usina da Paz. Optei em ser dança educadora e estudante de educação física. Ganho menos, mas não quis que a Vale use minha história para enganar Marabá”, destaca Camylla Alves.

Os vídeos inspiraram a ONU (Organização das Nações Unidas) a convidar Dan Baron para apresentar o projeto ao Comitê dos Direitos do Povos Indígenas. “Já converteu o projeto em programa educacional pela sustentabilidade?”, perguntou a coordenadora Rashmi Jaipal, da Índia. Segundo ela, isso motivará o mundo a reimaginar a escola como lugar para aprender a plantar cidades ecológicas através das artes.

Numa mesa virtual, em junho de 2021, surgiu o Coletivo EcoeBrasil para criar um Projeto de Lei que reconhece a destruição dos rios, florestas, oceanos e terras como ‘crime de ecocídio’. Em junho do 2023, o PL 2933 foi protocolado no Congresso. “Quem teria imaginado os jovens do Cabelo Seco inspirando isso? Mas, sem artistas e eco-pedagogas em cada escola do aís, não sairá da gaveta”, lamenta Dan Baron.

Manoela Souza explica a relação entre cura, eco-pedagogia e Amazônia Bem, Viver na Alepa

Por trás disso tudo, Manoela Souza estava estudando terapias corporais e aquáticas de forma online. “Desde 1999, vi como as artes sensibilizam comunidades, com efeitos terapêuticos. Mas sem artes de cura, os traumas de genocídio, escravização e pobreza ficam adoecendo a alma. Cadê as terapias para todos?”, questiona.

Em abril de 2023, ela montou uma piscina terapêutica na Casa dos Rios, iniciando um projeto de cura que integra o jardim Salus. “Dizem que nossas mudas de boldo salvaram centenas de vidas no Cabelo Seco durante a pandemia.”

Conexão Afro, da Escola Irmã Theodora, celebra o resgate de raízes culturais

Professora Doelde Ferreira, autora do projeto Conexão Afro na Escola Irmã Theodora e Claudelice Santos, fundadora do Instituto Zé Claudio e Maria (IZM), foram as primeiras parceiras para vivenciar a aquaterapia. Entraram numa caravana de Marabá para participar da Sessão Especial da ALEPA (Assembleia Legislativa do Pará) no dia 4 de setembro, idealizada num diálogo entre Dan Baron e o deputado Dirceu ten Caten, autor da primeira lei estadual do Bem Viver, no Brasil.

Dan Baron e a equipe da ALEPA afastaram as cadeiras e mesas do palco formal no auditório para criar Viva Amazônia Bem Viver, uma roda de diálogos, perguntas e escutas permeada por danças indígena, afro-raiz e carimbó.

“Vivenciamos uma assembleia colaborativa de diálogos entre deputados, gerações, legisladores e comunidades, em solidariedade com a Amazônia e o futuro do mundo”, avalia “, Mauro Pereira, da ONU”.

Mauro Pereira, da ONU, explica os 17 ODS com apoio de Maria da Oliveira, Kemilly da Souza e Markus de Sousa, do Conexão Afro

Rios de Encontro está de volta, pronto para oferecer seu novo programa Viveiro: Cura, Formação Eco-Pedagógica e Convivência Artística.