“Igual a tantos milhares de projetos, fechamos nossas portas em março de 2020 para proteger a comunidade da covid-19,” explica Dan Baron. Segundo ele, as oficinas, espetáculos, cine na rua, biblioteca, jardim medicinal, bicicletadas e festivais foram paralisados. “Mais atrás, estávamos atuando, online, não para adiar o fim do mundo, mas para transformá-lo!”, justifica.
Em julho de 2020, Camylla Alves, da AfroMundo, contou para Dan um sonho, quando foi engolida por uma baleia. Após seis meses de ensaios por WhatsApp, saiu a obra virtual “A Baleia e a Dançarina”.
“A dança me curou do trauma da pandemia. Mas vivendo a memória do mundo na barriga da baleia, reencontrei minha raiz. A vida simples, de conviver com a natureza. E aprendi que quem vive essa visão ecológica vai sobreviver ao colapso climático”, sustenta a jovem.
Leia mais:Ao longo de 2021, Dan Baron produziu quatro vídeos sobre a criação coletiva dos monumentos “As Castanheiras”, de Eldorado dos Carajás, e 500 Anos de Resistência dos Povos Indígenas do Brasil. Narrados por Manoela Souza, os vídeos mostram como, no centro desses grandes símbolos emergirem escolas de formação artística de eco-pedagogas.
Durante a pandemia, o projeto também realizou 24 mesas virtuais: No Limiar entre Ecocídio e Bem Viver, com artistas, educadores, advogadas e políticos do mundo. Camylla Alves e Elisa Dias, do Coletivo AfroRaiz, foram convidadas para contar como, ao longo de 12 anos, suas experiências na beira do rio viraram consciência ecológica”.
“Recusei um contrato para ministrar cursos de dança na Usina da Paz. Optei em ser dança educadora e estudante de educação física. Ganho menos, mas não quis que a Vale use minha história para enganar Marabá”, destaca Camylla Alves.
Os vídeos inspiraram a ONU (Organização das Nações Unidas) a convidar Dan Baron para apresentar o projeto ao Comitê dos Direitos do Povos Indígenas. “Já converteu o projeto em programa educacional pela sustentabilidade?”, perguntou a coordenadora Rashmi Jaipal, da Índia. Segundo ela, isso motivará o mundo a reimaginar a escola como lugar para aprender a plantar cidades ecológicas através das artes.
Numa mesa virtual, em junho de 2021, surgiu o Coletivo EcoeBrasil para criar um Projeto de Lei que reconhece a destruição dos rios, florestas, oceanos e terras como ‘crime de ecocídio’. Em junho do 2023, o PL 2933 foi protocolado no Congresso. “Quem teria imaginado os jovens do Cabelo Seco inspirando isso? Mas, sem artistas e eco-pedagogas em cada escola do aís, não sairá da gaveta”, lamenta Dan Baron.
Por trás disso tudo, Manoela Souza estava estudando terapias corporais e aquáticas de forma online. “Desde 1999, vi como as artes sensibilizam comunidades, com efeitos terapêuticos. Mas sem artes de cura, os traumas de genocídio, escravização e pobreza ficam adoecendo a alma. Cadê as terapias para todos?”, questiona.
Em abril de 2023, ela montou uma piscina terapêutica na Casa dos Rios, iniciando um projeto de cura que integra o jardim Salus. “Dizem que nossas mudas de boldo salvaram centenas de vidas no Cabelo Seco durante a pandemia.”
Professora Doelde Ferreira, autora do projeto Conexão Afro na Escola Irmã Theodora e Claudelice Santos, fundadora do Instituto Zé Claudio e Maria (IZM), foram as primeiras parceiras para vivenciar a aquaterapia. Entraram numa caravana de Marabá para participar da Sessão Especial da ALEPA (Assembleia Legislativa do Pará) no dia 4 de setembro, idealizada num diálogo entre Dan Baron e o deputado Dirceu ten Caten, autor da primeira lei estadual do Bem Viver, no Brasil.
Dan Baron e a equipe da ALEPA afastaram as cadeiras e mesas do palco formal no auditório para criar Viva Amazônia Bem Viver, uma roda de diálogos, perguntas e escutas permeada por danças indígena, afro-raiz e carimbó.
“Vivenciamos uma assembleia colaborativa de diálogos entre deputados, gerações, legisladores e comunidades, em solidariedade com a Amazônia e o futuro do mundo”, avalia “, Mauro Pereira, da ONU”.
Rios de Encontro está de volta, pronto para oferecer seu novo programa Viveiro: Cura, Formação Eco-Pedagógica e Convivência Artística.