Nesta semana, o Instituto Transformance realizou dois lançamentos da exposição digital Amazônia Sem Molduras (contemplado com o Prêmio de Artes Visuais, da Lei Aldir Blanc, Foto Ativa/Secult-PA). As 22 obras poético-fotográficas retratam momentos chaves nos primeiros 10 anos do projeto eco-cultural socioeducativo Rios de Encontro, que está em execução na comunidade Cabelo Seco desde 2009.
A proposta da exposição surgiu da co-fundadora do Instituto, Manoela Souza. “Cada obra começou sua vida como um grande ‘outdoor’ frente à pracinha de Cabelo Seco, fruto de nossos diálogos e ações na comunidade. Dan Baron percebeu a poesia e criatividade nas suas frases e gestos cotidianos, e os transformou em instalações visuais. Cada obra retratou, celebrou, provocou, sensibilizou e convidou, ao mesmo tempo, e continua assim, um processo vivo de eco-alfabetização dialógica!”
Segundo Dan Baron, a exposição revela um complexo retrato íntimo sobre uma comunidade amazônica em processo de se re-conhecer, e sobre o colapso climático que a Mãe Natureza sofre hoje. “Mas esse duplo retrato gera esperança, porque mostra criatividade, solidariedade e sabedoria infantis e adolescentes, na rua, casa e escola, uma comunidade violentada buscando seu projeto alternativo do Bem Viver”, reflete ele.
Leia mais:No dia 2 de dezembro, Dan realizou a primeira ação de lançamento na Escola Municipal Irmã Theodora, junto com Doelde Ferreira, professora de geografia e gestora do projeto Conexão Afro, colaboradora com Rios de Encontro desde 2015.
Dan brincou com os 30 alunos de 13 e 14 anos da turma 8ª B, transformando a dificuldade de entender seu sotaque galês em recurso pedagógico. “Perguntou por que ele não sabia falar sua própria língua originária, e quem ali sabia sua língua indígena ou africana, e de onde veio o Português na sua boca? Ninguém sabia”, relembra Doelde.
Depois, Markus Sousa e Kemilly de Souza, do Conexão Afro, apresentaram dança afro de Guiné Bissau. “A turma ficou encantada! Logo, Dan perguntou por que a dança de raiz não está sendo usada como linguagem de ensino e aprendizado?”, perguntou Doelde.
Markus explicou o quanto se conheceu e se libertou dançando suas raízes. Dan logo convidou Kemilly a pegar um quadro da exposição que retrata a Biblioteca Folhas da Vida do projeto, e ler o poema Consciência Negra. Kemilly leu, captou e recitou o poema que narra a experiência de uma criança se abrindo, se lendo e escrevendo sua história, desenhando e dançando. Todos aceitaram o convite para colaborar com uma escola indígena e com uma escola solidária com a Amazônia na Alemanha.
Na live realizada no dia 7 de dezembro, uma roda adulta conhecia a exposição virtual, para focalizar prioridades na segunda década do projeto. A chuva dificultou a participação de parceiros da UNIFESSPA, AESSPA e gestoras de Cabelo Seco, mas Livy Malcher (muralista de Belém), Deize Botelho (gestora cultural), Carlos André Souza (educador), Doelde Ferreira, Manoela e Dan gravaram duas horas de diálogo para criar um recurso ecopedagógico para Marabá e a região.
A roda identificou arteterapia comunitária, formação ecopedagógica de professores, e projetos interculturais como prioridades numa segunda década. Porém, destacou o potencial do projeto para se tornar um programa nacional, cultivando escolas como projetos comunitários de bem viver para nutrir cidades ecológicas sustentáveis.