O nível dos rios Itacaiunas e Tocantins segue em subida vertiginosa e preocupa autoridades públicas, novamente. Apesar de que já estava previsto o repique, o ritmo acelerado da subida do nível da água torna o panorama ainda mais preocupante do que no início do ano. O Tocantins subiu um metro em dois dias e ontem estava em 11,40 metros às 18 horas, mas alcançou 11,54 neste sábado. No último dia 10, ou seja: na semana passada, chegou a estar em 9,86 metros, no último dia em que recuou.
E a coisa ainda deve piorar nos próximos dias. O último Boletim de Vazões e Níveis (BVN) da Eletronorte, divulgado nesta sexta-feira (18), prevê o rio chegando a 12 metros neste domingo, dia 20 e indo a 12,27 na segunda-feira.
Diante dos novos dados, o CORREIO procurou a Defesa Civil. O coordenador Walmor Costa, que disse que atualmente o município presta apoio para 1.014 famílias distribuídas em 22 abrigos, construídos nos quatro cantos da cidade com estrutura de caixa d’água, banheiros químicos e energia elétrica. Garante que do dia 1º de fevereiro até esta sexta-feira (18), foram distribuídas 3.930 cestas básicas para desabrigados e desalojados.
Leia mais:A previsão é de que ainda sejam distribuídas ainda este mês mais de 2 mil cestas básicas. A partir de segunda-feira (21), continua a distribuição de 1.012 vales para auxílio gás de cozinha, somente para desabrigados, proveniente de recurso municipal. Até o momento soma-se 7.592 famílias cadastradas na Defesa Civil, atingidas pela cheia dos rios Tocantins e Itacaiunas.
Os construídos pela Sevop (Secretaria de Viação e Obras Públicas) são localizados na Obra Kolpping, ginásio “Irmã Theodora”, Igreja do Amapá, Praça do São Félix, 5 de abril, Ginásio do São Félix, antiga Borges Informática, Folhas 31, 32, 23 e 14, Praça da Feirinha, Sororó, Escola Doralice – quadra), laje da Yamada folha 33, galpão Opção Calçados, Venezuelanos, Francisco Coelho, Clínica de hemodiálise, Clínica Dr. Veloso e Ginásio da Folha 16.
Neste sábado (19), o abrigo localizado na Quadra da Escola Doralice, no Bairro Belo Horizonte, recebe ação de saúde com médicos e estudantes de Medicina da Facimpa, com atendimento médico, distribuição de medicação (com receita), exames laboratoriais, palestras entre outros atendimentos.
A Defesa Civil Municipal informa que vem prestando todo o apoio desde dezembro para os atingidos com a enchente do rio Tocantins. Ao longo desse tempo, além de atendimento de saúde, distribuição de cestas básicas, várias outras ações foram e continuam sendo desenvolvidas, estas incluem até mesmo atendimento social e psicossocial, através da Seaspac.
A Defesa Civil Municipal comunica, ainda, que ainda realiza cadastros e mudanças e todo atendimento na nova sede localizada na 7 de junho, nº. 1020, na Marabá Pioneira. (Da Redação, com Defesa Civil)
Nos abrigos, flagelados reclamam de estrutura
Enquanto tenta administrar uma enchente atípica, iniciada junto com o ano novo e que vai mantendo pessoas fora de suas casas há quase dois meses, a Prefeitura de Marabá sofre críticas que alguns flagelados que se dizem ainda sem a assistência adequada. Desde a estabilidade de energia nos abrigos a falta de água potável ou número insuficientes de colchões, estão na listagem de queixas. Na passagem da reportagem do CORREIO ontem pelo abrigo da Folha 33, alguns deles foram ouvidos.
Residente do abrigo 8, Railane França Matos, 20 anos, relata o que tem passado junto com o marido e dois filhos, ambos neuroatípicos. Ela diz que após a construção de 40 barracões, a prefeitura se recusou a oferecer espaço para mais desabrigados, o que ocasionou um protesto dos inquilinos que ali já estavam, e somente assim, voltaram para fazer mais barracos.
“Somente depois do protesto, os benefícios começaram a aparecer, e ainda pela metade, e foram distribuídas pela Defesa Civil. É justo que uma família inteira receba somente um colchão de solteiro? Nunca nem houve água potável ou energia estável, o que acaba por estragar aparelhos eletrônicos como geladeiras”, diz Railane.
“Com muita demora, recebemos as cestas básicas enviadas pela prefeitura. Já o gás e a água potável nunca tivemos acesso, é preciso fervê-la como dá. Pelo menos estamos abrigadas e não em situação de rua, mas se fosse para exigir uma mudança, seria na segurança do abrigo, no policiamento, que ao contrário do que é dito e postado pela Polícia, não acontece”, diz Regina Alves.
Na Marabá Pioneira, a reportagem voltou a ruas alagadas do Bairro Santa Rosa, onde as famílias consideradas “ilhadas”, vão se virando no cotidiano. São as pessoas que construíram um segundo piso nos imóveis, para onde transferem a moradia nesse período de cheia.
“Essa luta acontece há 10 anos, já é parte da cultura, vivemos com isso todos os anos, mas nunca deixa de ser difícil, não é algo que eu vejo pra minha velhice, acho que eu mereço algo muito melhor, meu direito de ir e vir”, avalia Valquilene França Matos, 39 anos.
Morador da Velha Marabá, residindo na rua Parsondas Carvalho, Francisco de Oliveira, 53 anos, é um dos que esteve desabrigado, mas retornou para casa com o recuo do rio. “Quando a enchente alaga a rua é preciso chamar o DMTU com urgência pra evitar que caminhões de mudança passem e estraguem os portões, que já se encontram submersos”, reclama ele, se referindo ao vai e vem que deve recomeçar com a nova subida do rio. (Reportagem: Thays Araújo)