Nos últimos seis meses, o Instituto Transformance, gestor do projeto comunitário Rios de Encontro enraizado no Bairro Cabelo Seco desde 2009, vem semeando sua segunda década, Viveiro Bem Viver: reimaginando educação no fim do mundo.
No dia 17 de abril, Dan Baron, co-fundador do Rios de Encontro, contribuiu à roda de abertura do Acampamento Pedagógico Juvenil do MST na Curva do S. Na mesma semana, Dan levou o primeiro historiador em residência no projeto, o paraense Raphael Uchôa, conhecido numa roda sobre Rios de Encontro na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, ao cine de formação no Acampamento Terra e Liberdade, em Parauapebas, para a estreia de seu documentário “A Negação da Memória Amazônica”.
Logo em seguida, no Dia dos Povos Indígenas, Dan ministrou um curso de Audiovisual Bem Viver na escola da Aldeia Akrântiketêjê, co-idealizado e filmado com o historiador.
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“Fiquei impactado sobre como os projetos do Instituto tocam na memória, espiritualidade e imaginário”, disse Raphael, “para revelar e curar sequelas da colonização e cultivar eco-comunidades. “O curso me ajudou imaginar o próximo projeto do instituto: resgatar as raízes originárias da comunidade de Cabelo Seco.”
A comunidade não para de perguntar quando Rios de Encontro vai retomar o Cine Coruja, a Biblioteca na Rua, o Festival do Verão e de Pipa com suas bicicletadas.
“Em breve”, responde Manoela Souza, co-fundadora do Instituto Transformance. “Estamos reorganizando nossa Casa dos Rios para acolher uma clínica de terapia aquática, um salão de formação em eco-pedagogia através das artes, e um viveiro que resgate raízes bem viver”.
“Durante a pandemia, realizamos muitas rodas internacionais virtuais com os jovens de AfroRaiz”, explica Dan Baron, observando que elas inspiraram a criação do EcoeBrasil, um coletivo de juristas que elaborou em abril de 2023 o Projeto de Lei 2933, que tipifica ecocídio como crime.
“Realizamos em setembro passado um debate na ALEPA envolvendo os deputados Dirceu ten Caten e Marquito Abreu sobre a Amazônia Bem Viver. Em seguida, o genocídio e ecocídio em Gaza explodiu. Logo realizamos diálogos de solidariedade entre jovens lideranças do AfroRaiz e do MST, e artistas indígenas da Palestina, do Teatro Ashtar de resistência e cura”, rememora Dan.
Em outubro de 2023, o Viveiro Bem Viver foi um de 29 projetos contemplados no Brasil pelo Fundo Casa, coordenado pelo cacique Licuri Pataxó no Monte Pascoal e ainda com Dan Baron. No mesmo mês, a Secretaria Nacional de Participação Social do Governo Federal convidou Dan para colaborar para reimaginar educação a partir da ecocultura popular, inspirada por Rios de Encontro.
Isso gerou o programa piloto educacional Viveiro Bem Viver. Entre 5 a 7 de junho, Dan está envolvido com o Encontro de Participação Social com Educação Popular em Belém, antes de retornar a Marabá para ministrar um curso de formação em eco-pedagogia na escola Municipal Martinho Motta.
“Já havíamos recusado disputar editais com a nova geração de arte-educadoras que formamos no Rios de Encontro, e com os movimentos sociais”, explica Dan.
Ele disse que foram incentivados por aliados a captar até R$3 milhões para financiar o programa emergente Viveiro Bem Viver, através do edital celebrando os 75 anos da Petrobras. “Recusamos. Como deixar nossa história respaldar uma petroleira, mesmo estatal, que pretende explorar a Bacia do Amazonas em nome de ‘Novos eixos de sustentabilidade e diversidade’?”.
“Queremos aprender a plantar sementes no asfalto da escola e da universidade, transformando-as em viveiros de uma Marabá agroecológica que resgatam as raízes, os saberes das ancestralidades de todos. Queremos transformar, não adiar, o fim do mundo!”