Três mil construções – umas mais adiantadas, outras menos – que já foram alvos de reportagem do Jornal Correio mais de uma vez estão sob movimento de ocupação desde a noite da última sexta-feira, dia 26, quando um grupo de pessoas chegou ao Residencial Magalhães, projeto desenvolvido com recursos do programa federal Minha Casa, Minha Vida, e começou a demarcar e ocupar imóveis ainda não finalizados.
O residencial está situado no Núcleo São Félix, em Marabá, e o projeto do Governo Federal é executado a partir de contratos firmados com Caixa Econômica Federal e com Banco do Brasil, responsáveis pelo financiamento de 1.500 unidades habitacionais cada e também pelas fiscalizações.
Leia mais:As obras estão sendo executadas pela construtora HF Engenharia com orçamento de R$ 76,7 milhões e deveriam ter sido entregues à Prefeitura Municipal em 2014. Em 2017, entretanto, última visita da Reportagem ao local, 77,06% da construção havia sido executada e então paralisada.
Sete anos antes, em 2010, conforme o Atlas Brasil 2013, Marabá tinha 23.992 habitantes vivendo abaixo da linha de extrema pobreza. Este é o levantamento do último censo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter ideia, isso é pouco menos que a atual população estimada do município de São Domingos do Araguaia.
Ainda de acordo com o último Atlas Brasil, em 2010, 7,73% da população de Marabá vivia em domicílios com paredes inadequadas, ou seja, que não são de alvenaria e nem de madeira aparelhada, o que totalizava 17.936 habitantes.
Nesta segunda-feira (29) a equipe do Portal Correio de Carajás esteve novamente no local e conversou com as pessoas, revoltadas por não terem casa própria, estarem desempregadas e não terem meios de sustentar alugueis. Um destes casos é o de Roberto Oliveira Santos que, sem emprego, relata que as ações do grupo são pacíficas e visam, apenas, garantir moradias para quem está desabrigado.
“Estamos aqui passando sede, necessidade, mas não temos como manter aluguel por crise. Só a gente sabe o que passa para pagar aluguel e sem ter de onde tirar dinheiro para isso. Muita gente fez cadastro (no programa) e tem casas abandonadas. Estamos querendo moradia e não estamos tentando tomar as casinhas, queremos que a Caixa venha resolver com a gente. Se tivermos que pagar taxinha não tem problema”, declarou, recebendo apoio de outras pessoas que estavam próximas.
Muitos deles escreveram, inclusive, os nomes nas fachadas das casas em construção, demarcando os imóveis. A Polícia Militar esteve no local acompanhando equipes da HF Engenharia e um dos representantes da empresa foi abordado pela Reportagem, mas não quis gravar entrevista e nem conversar sobre o caso.
Em contato com a assessoria de comunicação da Caixa Econômica Federal na tarde desta segunda, esta solicitou prazo maior para encaminhar posicionamento sobre o assunto. Já a assessoria do Banco do Brasil ainda não retornou contato por e-mail. (Luciana Marschall – com informações de Josseli Carvalho)