A doméstica Madalena Santiago da Silva, negra, que foi resgatada de um trabalho análogo à escravidão em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, chorou ao tocar na mão da repórter da TV Bahia, Adriana Oliveira. O caso aconteceu durante uma reportagem feita pela jornalista.
Durante a reportagem, a doméstica, emocionada, desabafou com a jornalista.
“Fico com receio de pegar na sua mão branca”, disse Madalena.
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A repórter questionou a frase forte dita pela doméstica e estendeu as mãos para ela. “Mas por quê? Tem medo de quê?”.
A doméstica então falou que achava feio quando colocava a mão dela em cima de uma mão branca.
“Porque ver a sua mão branca. Eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso”, explicou.
Adriana Oliveira abraçou a idosa, a elogiou e ressaltou a importância da igualdade racial e de gênero.
“Sua mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim, aqui não tem diferença. O tom é diferente, mas você é mulher, eu sou mulher. Os mesmos direitos e o mesmo respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você”, destacou a jornalista.
Madalena Santiago foi resgatada pelo Ministério do Trabalho (MT), em março do ano passado, após trabalhar 54 dos 62 anos de idade sem receber salários. Nesse período, a doméstica contou que conviveu com maus-tratos, e que a filha dos patrões fez empréstimos no nome dela e ficou com R$ 20 mil da aposentadoria da doméstica.
“Eu estava sentada na sala, ela passou assim com uma bacia com água e disse que ia jogar na minha cara. Aí eu disse: ‘Você pode jogar, mas não vai ficar por isso’. Aí ela disse: ‘Sua negra desgraçada, vai embora agora’, disse Madalena.
“Era um sábado, 21h, chovendo e eu não sabia para onde ir”, concluiu.
Atualmente, Madalena da Silva recebe seguro desemprego e um salário mínimo da ação cautelar do MPT.
Projeto de resgate
Neste primeiro ano do Projeto de Combate à Exploração do Trabalho Doméstico, 550 empregadores foram fiscalizados na Bahia. O MPT informou que 90% das denúncias aconteceram em Salvador.
A pena para quem submete trabalhadores à situação análoga à escravidão é de 2 a 8 anos de reclusão. No entanto, até o momento nenhum empregador “sujo” ficou preso na Bahia.
O procurador-chefe do MPT afirma que há esperança que a punição ocorra no mesmo ritmo de crescimento de trabalhadores resgatados. Em 2021, o número cresceu 168% em relação à 2020.
(Fonte:G1)