Um medicamento utilizado para calvície e artrite reumatóide também pode desacelerar a progressão da diabetes tipo 1, segundo um estudo realizado pelo Instituto St Vincent, filiado à Universidade de Melbourne, na Austrália.
No Brasil, o baricitinibe é indicado para pacientes com artrite reumatoide, dermatite atópica, quadro grave de Covid-19 e alopecia. Ele é capaz de bloquear duas enzimas que ajudam a transmitir sinais reguladores do sistema imunológico e inflamações.
O estudo, publicado no New England Journal of Medicine na última quarta-feira (6/12), descobriu que a ingestão diária de 4 mg de baricitinibe pode preservar a produção de insulina, hormônio responsável pelo transporte do açúcar no sangue para as células do corpo. O efeito, porém, só é eficaz quando iniciado até 100 dias após o diagnóstico da doença autoimune que afeta quase 590 mil brasileiros.
Leia mais:A diabetes tipo 1 provoca o ataque e a morte involuntária das células do pâncreas (células beta) que produzem insulina, o que leva à dependência de aplicações constantes do hormônio. Com o bloqueio das enzimas JAK 1 e JAK 2, o sistema imunológico torna-se incapaz de controlar e matar as betas, que vão continuar funcionais.
“Quando a diabetes tipo 1 é diagnosticada, ainda há a presença de um número substancial de células produtoras de insulina. Queríamos observar se poderíamos proteger essas células da destruição pelo sistema imunológico”, afirma o professor Thomas Kay, líder da pesquisa, para o site HCP Live.
Diabetes tipo 1: menor dependência da insulina
A pesquisa é um ensaio clínico randomizado duplo-cego e controlado por placebo que monitorou os níveis de glicose no sangue e a produção de insulina dos participantes ao longo de 11 meses (48 semanas). Os 91 pacientes tinham entre 10 e 30 anos de idade, todos com diabetes tipo 1. Deles, 60 receberam o baricitinibe e 31 tomaram o placebo, mas todos mantiveram a terapia com insulina.
Os pesquisadores observaram que o grupo que tomou baricitinibe apresentou menor variação nos níveis de glicose e passou mais tempo na faixa ideal de açúcar no sangue. O resultado coincidiu com uma redução na necessidade de terapia com insulina.
Seis meses após o início do estudo, o grupo que recebeu o medicamento precisou de menos insulina, enquanto o grupo placebo teve que aumentar a dose. Ao final das 48 semanas, a média diária de insulina foi de 0,41 unidade/kg para quem tomou baricitinibe, comparada a 0,52 unidade/kg no grupo controle.
“Até agora, as pessoas com diabetes tipo 1 dependiam da insulina administrada por injeção ou bomba de infusão. Nosso ensaio mostrou que, se a administração é iniciada cedo o suficiente após o diagnóstico e enquanto os participantes tomam a medicação, a produção de insulina é mantida”, acrescenta Kay.
Entretanto, muitos pacientes recebem o diagnóstico quando as células responsáveis pela produção de insulina já estão danificadas — por isso, ainda não é viável um tratamento sem a necessidade de insulina.
Outra limitação é a necessidade de realizar novos estudos com mais participantes e investigar os efeitos em um período superior a um ano. Em outras doenças tratadas com medicamentos semelhantes, houve uma recaída gradual após a interrupção do tratamento.
(Metrópoles)