Correio de Carajás

Raízes do Cabelo Seco sustentam esperança

O projeto eco-cultural e socioeducativo, Rios de Encontro, enraizado na comunidade de Cabelo Seco desde 2008, acolheu Elisa Dias e Dan Baron de volta a Marabá na semana passada depois de uma viagem que os levou para Bélgica, Alemanha, Polônia, Espanha e, no caso de Dan Baron, Inglaterra.

Entre 30 de maio a 9 de junho, os dois arte-educadores reuniram-se com produtores da organização Kinder Kultura Caravana (Caravana Infantil Cultural) para finalizar preparações para uma turnê europeia que em setembro e outubro de 2019 levará seis jovens dançarinas, percussionistas do Coletivo AfroRaiz aos palcos de escolas, teatros, festivais e praças em cinco países  na defesa do planeta em colapso climático.

“Fui abrir caminhos para Rios de Encontro, Marabá e nossa região na Amazônia”, diz Elisa (22 anos), percussionista e co-coordenadora do micro-projeto Salus, que planta jardins medicinais em comunidades e escolas ribeirinhas de Marabá, na busca de educação e saúde bem viver. “Encontrei adolescentes críticas e corajosas organizando as greves ‘Sextas pelo Futuro’ em defesa do planeta. Visitei exposições e museus dedicados à defesa de direitos humanos e da memória para evitar a reprodução dos passados violentos autoritários no futuro. E realizei um sonho de anos de conhecer Europa”, avalia.

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Elisa reflete que no final abriu o encontro internacional ‘Concertando o Futuro’ com um solo no djembe do novo espetáculo ‘Rios Voadores’, e escutou pedagogas, chefs, advogadas, comunicadoras, médicos, arquitetos e gestoras culturais apresentando projetos de alta qualidade para um futuro sustentável. “Descobri que o bem viver é bem avançado! Só falta a vontade politica e a auto-confiança coletiva popular de falar não à ganância”, diz ela.

Dan Baron, da coordenação adulta do projeto, celebrou a contribuição de Elisa, integrante do projeto desde 11 anos de idade. “Fiquei orgulhoso, vendo-a abrindo ‘Concertando o Futuro’ em Barcelona, diante uma plateia tão concentrada, reconhecendo nela não apenas um símbolo da resiliência Afro-Amazônica, mas também do bioma mais sustentador do mundo, e em risco cada vez maior, por causa do desmatamento acelerado e dos mega-projetos industriais, planejados para nossa região e a Amazônia inteira”.

No final do encontro, Dan e Elisa convidaram as 400 organizações presentes a juntarem-se com os 600 cientistas no mundo apelando às Nações Unidas e ao Parlamento Europeu para paralisar os mega-projetos predadores, em nome da sustentabilidade da vida. “Eles responderam de pé, e quando Elisa encerrou com a frase ‘Sou Amazônia, cuide de vocês através do cuidado de mim’, senti uma esperança internacional numa visão mundial de bem viver”.

Dan Baron e Elisa Dias voltaram a Marabá para se reintegrarem no primeiro Arraial de Rios de Encontro, na Orla de Cabelo Seco. “Saí da comunidade para o mundo e voltei, consciente de que minha raiz sustenta a Amazônia, que sustenta o mundo. Mas voltei a nosso coletivo, gestor de um arraial que é muito mais do que festa. É nossa raiz camponesa, nossa rua sem arma, nossa gestão comunitária, nossa cultura de generosidade, convivência e sustento bem viver”, encerrou.