“Toda questão tem dois lados”. Essa frase, atribuída ao filósofo grego Protágoras, serve de bússola para quem deseja fazer o bom jornalismo, sem tomar partido e buscando sempre mostrar a verdade para os leitores. Foi com esse pensamento que o Jornal CORREIO foi atrás de Leudinalva Ribeiro Alves. Ela é mãe das quatro crianças encontradas em situação de abandono há uma semana na Folha 31, Nova Marabá.
As crianças de 4, 5, 7 e 8 anos foram encontradas em um ambiente insalubre, desnutridas e uma delas, de 5 aninhos, apresentava queimadura no tórax e no rosto. Mas Leudinalva contou uma versão bem diferente do que foi dito até agora. Caberá a cada um que ler as próximas linhas decidir se acredita ou não na versão apresentada por Leudinalva.
Ela foi entrevistada na feira da Folha 28, onde trabalha em uma peixaria, serviço em que ganha pouco e tem que sustentar os quatro filhos porque o pai das crianças está preso, acusado de tentar matá-la. “Sou mãe solteira, porque o pai dos quatro se encontra preso, porque ele tentou me matar por não aceitar o fim do relacionamento”, relatou.
Leia mais:Leudinalva diz que a casa onde mora pertence a um tio seu, porque ela não tem dinheiro para pagar aluguel. Aliás, nem para pagar a conta de energia elétrica da casa que está cortada por falta de pagamento.
Mesmo assim, ela nega que passe noites fora de casa como foi dito por alguns vizinhos. Inclusive na segunda-feira da semana passada, quando as crianças foram recolhidas pela polícia e pelo Conselho Tutelar, Leudinalva afirma que esteve em casa na hora do almoço e só ficou sabendo do ocorrido por volta das 18h40 quando fechava o estabelecimento em que trabalha.
CRIANÇAS COZINHANDO
Sobre a filha de 5 anos que está com queimadura no tórax e na face, a mãe explica que não era a menina que estava fazendo comida quando o acidente aconteceu, mas era ela mesma quem cozinhava, acontece que a menina, por curiosidade, se aproximou do fogão.
Perguntada se é verdade que eram as crianças quem faziam a comida no horário de almoço, ela confessou, revelando que tem ainda uma filha de 15 anos de idade, mas esta foi embora de casa, de modo que ela ensinou o filho mais velho, de 8 anos, a cozinhar. “Quando a minha filha de 15 anos resolveu me abandonar, eu tive que ensinar ele a fazer comida por questão de precaução, pois nem todo patrão dá horário de almoço e eu não tinha como contar com ninguém”, relata.
Questionada se faz uso de drogas ilícitas ou de álcool, Leudinalva negou tudo. Disse que já está há três meses sem beber e tampouco usar drogas ilícitas, colocando-se inclusive à disposição para ser submetida a qualquer exame toxicológico.
Ela se queixa de que muita gente espalhou boatos sobre ela, mas ninguém nunca a procurou perguntando se ela precisa de alimentos, de produtos de higiene ou mesmo de uma casa para morar. “Enquanto eu ouvia críticas, meus filhos continuavam precisando se alimentar, por isso eu passava o dia fora”, desabafa.
OS FILHOS DE VOLTA
Perguntado se precisa de alguma ajuda neste momento, ela diz que a única coisa que precisa é ter os filhos de volta. “Eu amo meus filhos e não quero ficar longe deles”, desabafou, acrescentando que conseguiu o direito de visitar as crianças três vezes por semana.
Leudinalva lamentou por não ter condições de constituir um advogado para requerer a guarda dos seus filhos de volta. Mas diz ter um “Plano B”. Caso a Justiça entenda que ela não tem condições de ficar com as crianças, um irmão dela pediu a guarda.
Perguntada se não tinha medo de deixar os filhos o dia inteiro sozinhos em casa, ela disse que sempre pensava que algo de ruim poderia acontecer, como um incêndio, ou alguém fazer mal a elas, mas não tinha o que fazer.
Inclusive, Leudinalva relatou algo interessante: nunca recebeu auxílio-reclusão por conta da prisão do pai das crianças. A informação repassada a ela era de que o ex-companheiro teria que ser condenado para que ela tivesse direito ao auxílio. O que ela relatou mostra que, diferente do que tem sido pregado no País, o auxílio-reclusão não é algo pago automaticamente a todos os detentos.
O único momento da entrevista em que chorou foi quando falou do encontro que tem com seus filhos, dos abraços apertados, que precisam ser desfeitos quando termina o horário de visita, no Espaço de Acolhimento Provisório (EAP), mantido pela Secretaria de Assistência Social da Prefeitura (SEASP).
Certamente por isso, ao ser perguntada que tipo de ajuda precisa nesse momento, ela disse que a única coisa que quer é ter os filhos de volta, embora não rejeite alguma ajuda material, pois é uma pessoa paupérrima.
Ela diz que se alguém quiser ajuda-la para melhorar sua moradia, com cimento para fazer o piso da casa, ou madeira para terminar de fechar as brechas nas paredes, isso será bem-vindo, pois foi ela mesma que pregou várias tábuas. “O que vocês puderem me ajudar eu aceito, mas em primeiro lugar eu quero meus filhos”,
ABANDONO DE INCAPAZ
Mas a situação de Leudinalva diante da Justiça não é das melhores. Segundo a delegado Simone Felinto, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Criança e ao Adolescente (DEACA), ela foi indiciada no Artigo 244 do Código Penal Brasileiro (CPB).
O crime é deixar, sem justa causa, de prover a subsistência ao filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho… deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: A pena para esse tipo de crime é a detenção de um a quatro anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. (Chagas Filho com informações de Josseli Carvalho)
SAIBA MAIS
Leudinalva pediu para fazer constar na reportagem o endereço completo onde reside, para o possível surgimento de pessoas dispostas a ajudar a sua família. Ela mora na Folha 31, Quadra 8, Lote 34, na segunda rua à esquerda, depois do Campus I da Unifesspa. É a última casa da rua.