Correio de Carajás

“Quero ele pra mim”, diz mulher que encontrou bebê no lixo

Na manhã desta segunda-feira (16) o Correio de Carajás foi até a Folha 11, na Nova Marabá, no local exato onde um bebê recém-nascido foi encontrado no último sábado (14) dentro de uma lixeira, e conversou com o casal que o resgatou.

Leide Sarah Moreira ainda estava muito emocionada com tudo o que viveu naquele dia. Para a reportagem, ela começa apresentando o relato da noite que antecedeu o episódio. “Estávamos em casa e ficamos conversando sobre ter outro filho. Eu falei que queria adotar um menino e meu esposo disse que queria outra menina. Naquela noite, eu sonhei com um bebê no meu colo e na manhã seguinte aconteceu isso”, revelou, bastante emocionada.

Assim que o dia amanheceu, Sarah afirma que a filha pediu pra ir ver o dia que estava lindo e a mãe a levou para o quintal, mas a pequena bateu o pé que queria ir para a rua. “Fui lá fora e escutei um gemido, mas achei que era gato. Meu marido, naquele instante, tinha saído para ir comprar pão e quando voltou também ouviu o barulho. Ele estava acompanhado do meu primo, que ficou inquieto com o barulho e foi caçar de onde vinha. Ao abrir o saco, que estava se mexendo, ele viu o bebê e deu um grito”.

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Local exato onde a criança foi encontrada na Folha 11, Núcleo da Nova Marabá – Foto: Evangelista Rocha

Sarah disse que correu para fora e não conseguiu pensar em nada. Ela afirma que a criança estava chorando e o cordão umbilical ainda sangrava quando pegou o bebê no colo. “Foi mágico, na hora que o coloquei no meu colo o choro acalmou e o sangue parou. Ele estava com fome, ficava no colo caçando leite”, relembra, com os olhos marejados.

Segundo relatos de Gilsivam Gonçalves, esposo de Sarah, quando encontrou e abriu a sacola plástica, o bebê estava totalmente sufocado.

“Foi Deus. Não sabemos o que houve na cabeça dessa mãe, não vou julgá-la, mas hoje em dia existem muitas formas de prevenir uma gravidez: tem preservativo, tem remédio. Espero que todos possam refletir sobre esse acontecimento”, fala o técnico em motocicletas.

“Se ela não quiser, que procure a gente. Ele vai ser bem cuidado”, diz Gilsivam – Foto: Evangelista Rocha

Com muita emoção, Sarah explica que não pode engravidar novamente e que queria muito conseguir adotar o bebê. “O conselheiro (tutelar) me falou que é muito difícil eu conseguir. Eu quero ele pra mim, mas sei que existe uma burocracia. Foi obra de Deus, foi muito mágico no momento que eu peguei aquela criança no colo. Senti como se fosse a minha filha, a mesma sensação de quando a peguei nos braços pela primeira vez”.

Gilsivam finaliza a entrevista e faz um apelo. “Se a mãe desse bebê aparecer, espero que ela fique com ele. Se a não quiser, que procure a gente. Ele vai ser bem cuidado e com muito amor”.

Conselho Tutelar

O Correio de Carajás foi até o Conselho Tutelar da Nova Marabá para saber quais os procedimentos que serão tomados a partir de agora.

De acordo com informações do conselheiro tutelar, Edivaldo Santos, o bebê está bem e provavelmente terá alta ainda nesta segunda-feira (16). “Assim que a equipe do Hospital Materno Infantil nos informar que a criança recebeu alta, iremos levá-lo para o acolhimento e informaremos o juiz da Vara da Infância e Juventude”.

Conselheiro alerta sobre os julgamentos contra a genitora “Precisamos saber como está a saúde física e psicológica dessa mulher” – Foto: Chagas Filho

Edivaldo explica que se a genitora ou parentes não forem encontrados nos próximos 90 dias, a criança será colocada para adoção. “Existem muitas pessoas cadastradas no sistema de adoção só esperando esse momento. Serão feitas todas as tentativas de encontrar os familiares e saber as causas, razões e circunstâncias que levaram a genitora a praticar esse ato. A família que socorreu a criança não tem prioridade. Eles agiram de forma correta e exerceram o papel de cidadãos, mas se ela quiser a criança, terá que requerer a adoção e entrar na lista de espera”.

Sobre a mãe da criança

“Quando acontece uma situação dessa, a primeira coisa é atirar pedra. Contudo, ninguém entende o que se passou na cabeça dessa mãe. A sociedade julga, diz que ela merece morrer, ser apedrejada porque fez isso com uma criança, entre outras coisas. Mas precisamos encontrar essa pessoa. Ninguém sabe se ela teve um surto psicótico, depressão pós-parto, se estava sofrendo algum tipo de pressão, se esse filho é de uma relação extra conjugal e o pai não quis. Existem diversas situações que a podem ter levado a cometer esse crime. Ou simplesmente foi uma negligência mesmo. Mas o primeiro passo é encontrá-la. Precisamos saber como está a saúde física e psicológica dessa mulher que precisa de cuidados. A questão do processo criminal por abandono de incapaz vai continuar, mas precisamos saber o que aconteceu com ela”, finaliza o conselheiro. (Ana Mangas)