O Departamento de Homicídios da Polícia Civil em Marabá conseguiu identificar os quatro detentos acusados de terem assassinado um colega de cela na Central de Triagem Masculina de Marabá (CTMM), esta semana. Os presidiários acusados são Antônio Soares da Silva, Diogo Vinícius Lopes Lima, Fernando Ruy Cardoso de Sousa e Jean Carlos Silva Marques. Segundo o delegado Ivan Pinto da Silva, que coordena as investigações, os quatro foram autuados em flagrante por homicídio qualificado por motivo torpe.
O detento assassinado é Wesley Bispo dos Reis, o “Galo Cego”, de 25 anos, que estava preso acusado de um homicídio ocorrido em 2017, mas também era acusado de tráfico de drogas. Ele apareceu enforcado na cela, mas as investigações acabaram apontando para um homicídio.
Na cela, havia nove detentos junto com Galo Cego, mas, segundo informou o delegado Ivan Silva, uma série de elementos materiais, informações colhidas no local e também a motivação do crime acabaram fazendo com que a polícia identificasse os acusados.
Leia mais:“A gente já constatou lesões nas mãos, a motivação e até mesmo a posição das camas em volta do corpo”, explica o delegado, acrescentando que houve luta corporal entre Galo Cego e seus algozes antes de ele ser morto. “Todos esses indícios levaram a esses detentos que foram flagranteados”, complementa.
Ainda de acordo com Ivan Pinto da Silva, todos os detentos foram interrogados e todos negaram envolvimento no crime, mas deixaram muitas pistas que foram detectadas pela perícia.
Conforme divulgado na última edição, embora Galo Cego não pertencesse a nenhuma facção criminosa, ele matou um membro do PCC quando estava fora da cadeia e quando foi preso acabou indo parar nas garras da facção, que se vingou dele.
Sobre a polêmica declaração de que o PCC estaria comandando os presídios de Marabá, o delegado Ivan explicou ontem à Imprensa que quando ele disse isso foi no sentido de que essa facção criminosa detém o maior número de membros e de simpatizantes, diferente de outros presídios no Estado e Brasil a fora, onde há membros também do Comando Vermelho.
Inclusive, segundo o delegado, a autuação rápida dos quatro presos, com a parceria eficaz da Superintendência do Sistema Penal do Pará (SUSIPE), deixa isso bem claro. “Isso mostra que quem dita as regras no CTMM são os servidores do Estado”, reafirmou.
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Além dos crimes que já respondem (pelos quais estão presos), os quatro detentos acusados também vão ser levados a júri popular dentro de alguns anos para responder pelo homicídio do companheiro de cela.
Diretor da CTMM fala sobre os procedimentos adotados no caso
Ouvido pelo Jornal CORREIO, também ontem pela manhã, o diretor da CTMM, coronel Antônio Ferreira de Araújo (PM da reserva), explicou que, por volta das 5h da madrugada do dia 29, um dos internos da cela chamou os agentes prisionais de serviço informando que um dos detentos estava enforcado. A partir daí foi feito o procedimento normal, que foi o isolamento dos demais detentos e acionar o Instituto Médico Legal (IML) e a Polícia Civil para fazer o levantamento de local de crime.
Segundo ele, causou estranheza o fato de que imagens feitas pelo IML, no momento da perícia, estavam circulando pelas redes sociais, dando a entender que teriam sido os detentos quem filmaram antes mesmo do assassinato. “Na verdade, aquelas imagens foram feitas pelo IML; isso aí já e uma grande falha, porque ali é uma área de segurança, ninguém poderia vazar aquela imagem nem para a Imprensa, muito menos para o público em geral”, critica.
Araújo também criticou a fala do delegado Ivan, de que a facção criminosa domina o presídio. Na visão do diretor, essa facção pode até ter uma influência sobre outros presos, mas quem domina, de fato, o presídio é o Estado, seguindo a lei de Execuções Penais, garantindo direitos aos detentos e cobrando também os deveres.
A CTMM abriga hoje 243 detentos, enquanto o seu anexo, que é o Centro de Recuperação Regional Masculino (CRRM), conta com 98, perfazendo um total de 341 presos, mas a capacidade das duas unidades é de 392, de modo que apenas 87% das vagas foram preenchidas. “Não temos problemas de superlotação”, resume.
Ainda segundo Araújo no ano passado ocorreram três fugas e desde 2014, quando foi inaugurada a CTMM, foram registradas três mortes. “Não é aceitável, mas devemos considerar que pelo menos é razoável. Não é absurdo três mortes em cinco anos. Isso ocorre em qualquer presídio”, observa, acrescentando que o controle e o domínio dos presídios estão garantidos. (Chagas Filho)