Pesquisadoras do Instituto Adolfo Lutz (IAL), em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), identificaram os quatro primeiros casos de tuberculose extensivamente resistente a antibióticos no Brasil. Esta é uma variação da doença que é caracterizada por uma maior resistência a antibióticos e propensão a casos graves. Os diagnósticos foram feitos em abril, mas só foram divulgados nesta sexta (16/6).
A bactéria ultrarresistente é um tipo de tuberculose que apresenta uma resistência aos medicamentos tradicionalmente usados no tratamento da doença, incluindo os quatro mais novos incluídos nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a doença: bedaquilina, delamanida, linezolida e clofazimina.
Os quatro pacientes com esta variação da bactéria Mycobacterium tuberculosis foram encontrados entre 74 amostras de pacientes que não estavam respondendo ao tratamento como esperado. Apesar de mais difícil de tratar, a cepa não é mais contagiosa que a tuberculose tradicional.
Leia mais:Os indivíduos apresentaram resistência a pelo menos dois dos antimicrobianos mais recentes introduzidos para o tratamento da tuberculose no Brasil. Dois se mostraram resistentes a bedaquilina e clofazimina, um resistente a delamanida e linezolida, e um paciente, aos quatro fármacos.
A variação foi detectada a partir de uma análise genética que permite um mapeamento mais rápido e detalhado do microrganismo, em comparação com a análise tradicional em que os bacilos têm sua reação a cada fármaco testada individualmente.
A USP e o IAL estão conduzindo um estudo para identificar em laboratório como se dá a resistência deste bacilo. O projeto tem como objetivo entender as características fenotípicas e genéticas da Mycobacterium tuberculosis.
Resistência ao tratamento
O tratamento da tuberculose extensivamente resistente é mais complexo e prolongado do que os demais e dura até 18 meses. Até o momento, haviam sido detectados apenas casos de bactérias multirresistentes, que é quando há resistência a dois dos fármacos utilizados pelo SUS para tratar a doença, a rifampicina e a isoniazida.
A multirresistência costuma surgir justamente pelo abandono do tratamento, que normalmente dura seis meses. Segundo a pesquisadora Lucilaine Ferrazoli, coordenadora do estudo, muitos pacientes deixam de lado as medicações, principalmente por se sentirem bem após algumas semanas, e não completam o tratamento.
“Quando o paciente recebe uma indicação e tem acompanhamento, isso garante que o tratamento seja realmente efetivo. Por isso, é importante que, juntamente com o monitoramento dos casos de resistência, haja também valorização do tratamento do SUS e da vacinação, que teve o calendário atrasado na pandemia”, diz ela.
“A detecção da resistência aos novos medicamentos, como a bedaquilina e delamanida, que foram aprovados para uso no Brasil nos últimos cinco anos, reforça a necessidade de um esforço constante para o monitoramento do surgimento desses casos como também a busca de novos medicamentos”, diz a coordenadora do Departamento de Microbiologia do IAL, Ana Marcia de Sá Guimarães.
A tuberculose no Brasil
A detecção dos casos de tuberculose extensivamente resistente reforça a necessidade de atenção no Brasil, país das Américas onde há maior incidência da doença. Foram mais de 100 mil casos no ano de 2021, sendo 5 mil mortes, de acordo com dados da OMS. Apesar disso, o país não figura entre as nações com mais casos da tuberculose multirresistente, ocupando a penúltima posição no ranking de seu continente.
Para Lucilaine, isso se dá graças ao desempenho do Programa Nacional da Tuberculose no país, que inclui o controle de distribuição dos medicamentos utilizados. “O fato desses medicamentos não serem vendidos em farmácia e serem fornecidos somente com indicação médica é uma estratégia importante para mantê-los seguros e eficazes”, diz.
(Fonte: Metrópoles)