Correio de Carajás

Quando o amor chega na terceira idade

O doce Raimundo, octogenário, e a geniosa Rosália, de 62, vivem um namoro sem pressa e sem pressão. Ele só deseja ficar mais tempo ao lado dela.

O Amor nos tempos do cólera é um incrível e irresistível romance que trata do amor e da velhice. O sentimento que persiste em todas as fases da vida, que mesmo que esteja destinado à morte, se mantém acesso enquanto a energia vital persistir. Com seu maravilhoso talento e seu estilo próprio de narração que insere o leitor num emaranhado de histórias sem nenhum tipo de sistematização, Gabriel Gárcia Marquez fala sobre o um amor que desabrocha quando mais nada se espera da vida e por isso mesmo torna-se tão intenso.

Parece o cenário atual dos personagens que apresentamos abaixo. A data de 12 de junho, Dia dos Namorados, é comemorada pelas pessoas que estão em um relacionamento – seja longo ou curto. Sem idade certa para amar, os relacionamentos após os 60 anos contribuem – e muito – para o aumento da vontade de viver nessa fase da vida. Além disso, ajuda a manter mais estável o estado emocional, evitando casos de depressão, por exemplo.

Muita gente ainda pensa que após os 60 anos o idoso tem que ter uma rotina de reclusão (o que é uma bobagem). Contudo, o que se vê por aí são homens e mulheres, com mais de 60 anos, superando preconceitos, praticando esportes e se redescobrindo em novas relações.

Leia mais:

E estar apaixonado não é – e nem deve ser – um privilégio apenas dos mais jovens, e o casal Rosália e Raimundo sabem muito bem disso.

Rosália Dias dos Santos, tem 62 anos, e Raimundo Taveira Damasceno, 81 anos. O encantamento, como ela gosta de falar, aconteceu no Forró dos Idosos. “Ele me viu e veio ficar de conversinha comigo, fiquei só observando o jeito dele”, relembra ela, com uma certa timidez.

Rosália e Raimundo participam das atividades do CRAS para a festa junina. Foi ali que tudo começou – Foto: Evangelista Rocha

Antes disso, Rosália ressalta que foi casada por 36 anos. Do casamento ficaram onze filhos, oito netos, três bisnetos e muito trauma. “Quando meu matrimônio acabou eu fiquei traumatizada. Passei quatro anos sem sair pra lugar nenhum e isso estava me causando o início de uma depressão. Até que me indicaram o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e fui. Hoje me sinto muito bem”.

Voltando ao encantamento,depois de algumas trocas de olhares e conversas, veio o pedido do número de telefone. “Notei que ele estava nervoso. Com as ‘carnes tremendo’”, sorri Rosália.

Ela conta que,à época, o namorado não tinha telefone e ela pediu para que ele comprasse um, para que pudessem conversar sobre “as historinhas do namoro e de amor”.

Há mais de três anos juntos, Rosália admite que o namorado faz tudo o que ela quer. Morando em casas separadas, eles fazem de tudo para se encontrar todos os dias. E quando isso não acontece, seu Raimundo admite que é ruim. “Não temos um transporte certo. Então, às vezes não dá pra gente se ver. Não é bom dormir longe, mas não tem o que fazer. Por mim, todo dia ela estava pertinho de mim, o dia todinho”.

Sobre o namoro, Rosália conta que sente como se estivesse recomeçado sua vida. Feliz com a relação, ela admite que é muito estressada e mesmo assim o namorado ainda gosta muito dela “Ele cuida muito de mim. Mas, o nosso namoro é social, igual aquele povo antigo. Essas coisas de beijo na boca não gosto não. Nessa fase o que queremos é companheirismo e amizade”, confessa.

E Raimundo é um companheiro e tanto. Ela afirma que desde o início do namoro cuida de Rosália. “Fui na Velha Marabá, comprei roupas e calçados pra ela, agradei, cuidei dela, e ela agradou. E assim é até hoje. Não cuido mais dela porque não tenho condições financeiras”, fala, apaixonado.

Junto, o casal participa de diversas atividades promovidas pelo CRAS. A mais recente é a quadrilha da festa junina que vão participar.

(Ana Mangas)