Correio de Carajás

Quais alimentos reduzem o risco de câncer? Especialistas montam lista

Especialistas alertam que uma alimentação equilibrada é um dos aspectos essenciais que pode influenciar o risco de câncer de diversas maneiras

Tomate é um dos alimentos que ajudam a reduzir o risco de desenvolvimento de câncer — Foto: iStock

O câncer é uma doença multifatorial, provocada por diversos fatores, externos e internos, e a alimentação tem impacto nessa complexa equação. Há alimentos que, segundo a ciência, contribuem para a diminuição no risco de desenvolvimento do câncer.

De todos os mais de 100 tipos de câncer já identificados, estima-se que só de 5% a 10% podem ser diretamente atribuídos à genética. O restante está associado a fatores dietéticos, ambientais e de estilo de vida – sozinhos ou, o mais comum, combinados.

Especialistas garantem que uma dieta adequada para a prevenção do câncer é a equilibrada, rica em frutas, legumes, verduras e fibras, com restrição de alimentos ultraprocessados, fritos, gordurosos e com adição de açúcar.

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Alimentos que reduzem risco de câncer

  1. Tomate (e demais alimentos com licopeno)

Estudos apontam que o consumo de tomate está associado à menor incidência de câncer de próstata, pulmão e estômago.

O licopeno é um dos elementos que desempenham papel protetivo, pois impede a angiogênese (a proliferação de vasos e capilares que nutrem as células anormais e o crescimento de células tumorais). Ele está presente em alimentos como melancia e goiaba.

Outras pesquisas mostram a ligação do consumo de tomates e a redução da incidência do câncer de próstata. No entanto, o licopeno só é ativado adequadamente quando o tomate é consumido cozido.

Outro estudo demonstra que os carotenóides podem prevenir o câncer de mama. E a carga de vitaminas e minerais presentes no tomate contribui para fortalecer o sistema imunológico, o que é importante para prevenir a formação de células malignas.

— Evidências científicas indicam que os alimentos que contém licopeno – carotenóide que apresenta pigmento natural que dá cor vermelha a alguns alimentos, como o tomate, a melancia e a goiaba – ajudam a prevenir os cânceres de próstata e de mama. No entanto, isso não significa, por sua vez, que quem consumir tomate em excesso deixará de desenvolver câncer de próstata, por exemplo — alerta o doutor em Ciência com ênfase em Oncologia José de Moura Leite Netto.

  1. Maçã

Uma revisão sistemática de 40 estudos científicos mostrou que pessoas que consumiam uma maçã por dia apresentaram menos riscos de desenvolver diversos tipos de cânceres, como os de pulmão, de intestino, boca, sistema digestivo e de mama.

O consumo regular de maçã ainda equilibra a quantidade de açúcar no sangue e aumenta o número de anticorpos, ajudando a reduzir também o risco de diabetes.

Além disso, a maçã diminui os níveis de colesterol no sangue e diminui a pressão arterial, graças à presença de fibras solúveis e polifenóis na composição.

  1. Vegetais crucíferos de cor verde

Os vegetais crucíferos de cor verde, como repolho, rúcula, couve-flor, agrião, brócolis e couve, além de serem ricos em vitaminas, minerais e fibras, possuem compostos importantes na prevenção de diversas doenças, incluindo o câncer.

Eles contêm, na composição, diversos produtos químicos bioativos conhecidos como glucosinolatos e S-metil cisteína sulfóxido, incluindo produtos químicos protetores contra o câncer contendo enxofre.

Muitos estudos atestam que a ingestão diária de vegetais sulfurosos ajuda a prevenir a formação de câncer e reduz a incidência, especialmente o colorretal.

  1. Frutas vermelhas e roxas

Evidências crescentes relatam uma variedade de benefícios para a saúde vinda das frutas vermelhas e roxas, que geralmente são atribuídos aos compostos bioativos não nutritivos, principalmente substâncias fenólicas, como flavonoides e antocianinas.

Estudos relatam efeitos benéficos de frutas vermelhas e roxas na prevenção de certos tipos de câncer: do trato gastrointestinal e de mama e, em menor grau, de fígado, próstata, pâncreas e pulmão.

O consumo regular de morango, framboesa, mirtilo, amora, cereja, açaí, romã, ameixa, jabuticaba e uva vermelha/roxa auxiliam na atenuação da inflamação, na inibição da angiogênese, na proteção contra danos ao DNA, assim como efeitos nas taxas de proliferação de células pré-malignas e malignas.

  1. Azeite de oliva virgem

Os benefícios do azeite de oliva já foram alvo de diversos estudos de pesquisadores de diferentes nacionalidades. Segundo diversas pesquisas, o consumo regular de azeite de oliva pode desempenhar papel importante na redução do risco de incidência e mortalidade por câncer, além de outros benefícios, como reduzir riscos de morte por doenças cardiovasculares.

Mas qual seria o tipo mais saudável para incluir na alimentação? Para descobrir a resposta, estudo realizado por pesquisadores espanhóis analisou as diferentes categorias de virgem e extravirgem para descobrir qual a relação entre o consumo de azeite e a mortalidade a médio e longo prazo. A pesquisa concluiu que, embora os dois ingredientes sejam mais benéficos do que outras gorduras, apenas um deles ajuda a reduzir a chance de câncer e doença do coração.

O estudo concluiu que o azeite de oliva do tipo virgem ajuda a reduzir riscos de morte por câncer e doenças cardiovasculares. Para chegar a esse resultado, os cientistas acompanharam alimentação e estado geral de saúde de 12.161 pessoas adeptas da Dieta do Mediterrâneo, rica em frutas, vegetais, grãos, oleaginosas e óleo de oliva.

Os pesquisadores observaram que o consumo moderado de azeite de oliva virgem reduziu pela metade o risco de mortalidade cardiovascular. Eles também verificaram que o consumo de azeite de oliva previne a formação de substâncias capazes de lesar as células do corpo. Desta forma, o ingrediente pode ter efeito protetor contra o desenvolvimento de câncer.

  1. Arroz integral

Um relatório do Fundo Mundial de Pesquisa em Câncer e do Instituto Americano para Pesquisa em Câncer (AICR) traz fortes evidências de que consumir arroz integral, assim como os demais cereais integrais, ajuda a proteger contra o câncer, em especial o colorretal e o intestinal.

Recomendações do AICR pedem padrão alimentar que forneça, pelo menos, 30g por dia. Isso dá fibra alimentar, nutrientes antioxidantes e compostos que protegem contra o câncer.

— Grãos integrais contêm quantidades substanciais de fibra e variedade de micronutrientes, além de apresentarem baixa ou relativamente baixa densidade calórica. Alguns exemplos de cereais integrais são arroz integral, trigo, aveia, cevada, centeio, quinoa, linhaça e chia — cita a nutricionista Fabiana Montovanele de Melo, que atua na área técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), ligado ao Ministério da Saúde.

Melhores dietas para reduzir risco de câncer

Dieta mediterrânea

Um estudo norte-americano publicado no ano passado mostrou que a dieta mediterrânea pode reduzir o risco de morte em mulheres por câncer, entre outras enfermidades. Essa dieta adota consumo maior de frutas, legumes, cereais integrais, azeite de oliva, peixes e frutos do mar e diminui a ingestão de carne vermelha e de sal.

Durante 25 anos, os pesquisadores acompanharam mais de 25 mil profissionais de saúde inicialmente saudáveis. Foi constatado que as participantes que seguiam a dieta mediterrânea apresentaram risco até 23% menor de morte por todas as causas, com benefícios específicos contra o câncer e doenças cardiovasculares.

Os resultados indicaram evidências de alterações biológicas em biomarcadores de metabolismo, inflamação e resistência à insulina que poderiam ajudar a explicar a redução do risco de morte.

Dietas veganas, vegetarianas ou ovo-lacto-vegetarianas

Seguir uma dieta vegana, vegetariana ou ovo-lacto-vegetariana reduz significativamente o risco global de desenvolver câncer, doenças cardíacas e morrer precocemente por doenças cardiovasculares, revelou uma revisão de 48 meta-análises com mais de 20 anos de investigação.

Entre os tipos específicos de câncer estão fígado, cólon, pâncreas, pulmão, próstata, bexiga, melanoma, rim e linfoma não-Hodgkin.

Os vegetarianos não comem carne animal, enquanto os ovo-lacto do vegetarianismo permite laticínios e ovos, excluindo todas as carnes, as aves e os peixes. Já o veganismo, a forma mais estrita de vegetarianismo, proíbe quaisquer produtos alimentares feitos de carne, aves e frutos do mar, assim como quaisquer subprodutos animais, como a gelatina.

No entanto, a eficácia dessas dietas pode ser sabotada com escolhas alimentares inadequadas, como sucos de frutas, grãos refinados, batatas fritas e refrigerantes, advertem os autores do estudo.

— As menores taxas de câncer estão associadas com dietas à base de vegetais, frutas e legumes, com pouca ou nenhuma carne ou outros produtos de origem animal. Em estudos de investigação, os veganos apresentam as taxas mais baixas de câncer quando comparados com qualquer outra dieta. A próxima taxa mais baixa foi para os vegetarianos, indivíduos que evitam carne, mas podem comer peixe ou alimentos provenientes de animais, como leite ou ovos — pontua o doutor em Ciências com ênfase em Oncologia.

Câncer no Brasil e no mundo

No mundo, de acordo com a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS), são registrados 19,9 milhões de novos casos de câncer por ano, com o registro de 9,7 milhões de mortes anuais.

Os cânceres mais comuns são de pulmão, mama, colorretal, próstata, estômago e fígado. Já os cânceres com os maiores números de mortes são os de pulmão, colorretal, fígado, mama, estômago, pâncreas, esôfago, próstata e colo do útero.

No Brasil, a estimativa é de 704 mil novos casos de câncer em 2025, sendo que 101,9 mil são de câncer de pele não melanoma. O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer em mulheres no Brasil. Já o câncer mais letal entre os homens brasileiros é o de pulmão.

Como diminuir os números atuais

Uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividade física são aspectos essenciais da existência humana e que podem influenciar o risco de câncer de diversas maneiras. Os especialistas afirmam que níveis desequilibrados e inadequados desses fatores podem alterar a homeostase normal e reduzir a resistência a desafios externos, além de criar um ambiente propício ao acúmulo de danos no DNA e, portanto, ao desenvolvimento e à progressão do câncer.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração é que a obesidade e o sedentarismo podem alterar o ambiente metabólico sistêmico do organismo, de modo a criar microambientes celulares que podem favorecer o desenvolvimento do câncer em diversos locais.

— Estima-se que entre 30% e 50% dos casos de câncer podem ser prevenidos por meio de hábitos saudáveis e evitando-se a exposição a carcinógenos, poluição e certas infecções crônicas. Uma alimentação saudável, a prática de atividade, entre outros fatores modificáveis, que caracterizam um estilo de vida saudável, têm o potencial de reduzir significativamente a carga global de câncer ao longo do tempo — ressalta o professor de educação física Fábio Carvalho, que atua na área técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Inca.

O alto crescimento da incidência do câncer, a complexidade do tratamento e o alto risco de mortalidade revela a urgência da necessidade de rever a habitual cultura alimentar do mundo moderno, em que há o afastamento do consumo diário de alimentos naturais, substituídos pelos que fornecem prazer e não nutrientes.

— A pandemia de sobrepeso, obesidade e doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial e colesterol alto estão diretamente relacionadas à piora do hábito alimentar do brasileiro. A educação nutricional deve ser inserida nas medidas de saúde pública e em toda a cadeia produtiva alimentar com urgência, pois, assim como a má nutrição está relacionada com grande parte dos problemas de saúde da população, a boa nutrição está altamente relacionada com a cura dessas enfermidades — frisa a nutricionista Inarí Ciccone, mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Fontes:

Fabiana Montovanele de Melo é nutricionista do Instituto Nacional de Câncer (Inca), com mestrado em Alimentação Humana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado em Alimentos e Nutrição pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Fábio Carvalho é professor de Educação Física, com mestrado e doutorado em Saúde Pública (Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz), e tecnologista em Ciência e Tecnologia da área técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Inarí Ciccone é nutricionista, especialista em obesidade, emagrecimento, fertilidade e longevidade e oncologia, com mestrado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

José de Moura Leite Netto é jornalista especializado em saúde e doutor em Ciências com ênfase em Oncologia pelo A.C.Camargo Cancer Center.

(Fonte:G1)