O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira (24) que tomou uma dose de reforço da Sputnik V porque seus níveis de anticorpos haviam caído e que também participou de testes de uma forma nasal da vacina russa contra a Covid-19.
As declarações foram dadas no dia em que o governo russo anunciou uma nova versão da Sputnik V para adolescentes e a forma de spray nasal do imunizante — e que pretende exportá-lo.
Putin afirmou que tomou o reforço em forma de injeção e, dias depois, recebeu o spray nasal (que é aplicado como um pó pulverizado em ambas as narinas).
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“Foi só isso, não senti nada. Nada”, afirmou o presidente russo. “Hoje, depois desses dois procedimentos, já fiz algum esporte pela manhã”.
Apesar da declaração de Putin e do anúncio da comercialização, não foram divulgados estudos científicos que comprovem a eficácia das novas formas de imunização — nem que o spray nasal deve ser aplicado após uma dose da vacina na forma injetável.
Denis Logunov, vice-diretor do instituto Gamaleya, disse a Putin no domingo (21) que a vacina nasal ainda não foi testada em estudos clínicos e atualmente está sendo usada “principalmente ‘off-label’, como de costume, testando em membros da equipe e monitorando”.
Os protocolos científicos estabelecem que vacinas e remédios precisam passar por várias fases de testes clínicos, com padrões técnicos e em milhares de pessoas, até que se estabeleça se eles são seguros e eficazes.
Vacina não aprovada
Até o momento, nem mesmo a versão original da Sputnik V — que é aplicada em duas doses — foi aprovada nem pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nem pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês).
A vacina russa também não foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil — foi autorizada apenas a importação excepcional de um lote de 928 mil doses, mas a decisão não garante a qualidade, a eficácia ou a segurança do imunizante.
Kirill Dmitriev, chefe do RDIF (fundo soberano russo que investiu na Sputnik V e a vendeu para dezenas de países), disse que vai comercializar a forma nasal da vacina para outros países em 2022.
Desencontro de informações
O Instituo Gamaleya havia anunciado em junho que pretendia lançar em setembro uma versão nasal da vacina Sputnik V para crianças de 8 a 12 anos — o que não ocorreu.
Nesta quarta, a vice-primeira-ministra da Rússia, Tatiana Golikova, anunciou que o Ministério da Saúde vai registrar hoje uma nova vacina, a Sputnik M, para uso em adolescentes de 12 a 17 anos (e que a imunização está prevista para começar no fim de dezembro).
Não está claro nas declarações das autoridades russas porque a vacina para adolescentes será em forma de injeção e porque o spray nasal será usado em adultos — diferentemente do que foi anunciado pelo Instituto Gamaleya em junho.
Covid e vacinação na Rússia
A Rússia foi rápida em desenvolver e aprovar a Sputnik V no ano passado, mas a população tem se recusado a tomar as vacinas disponíveis (44% dos russos tomaram ao menos uma dose e só 37% estão completamente imunizados).
Com isso, o país está vivendo uma quarta onda de Covid-19 que é a mais mortal da pandemia — com recordes diários de casos e mortes —, e o governo tem atribuído o surto atual à relutância da população em se vacinar.
Muitas pessoas hesitam em receber o imunizante por não confiar nas garantias do governo russo sobre a sua segurança, o que fez com que outubro tenha sido o mês mais mortal da pandemia até o momento no país.
Vacina em spray nasal
Diversas pesquisas vêm sendo realizadas em diversos países ao redor do mundo para tentar desenvolver um spray nasal contra a Covid-19. Isso ocorre porque a parte interna do nariz é uma das principais portas de entrada do vírus no corpo humano.
Mas todos os estudos ainda estão em fases iniciais de testes.
Em julho, a Universidade de Oxford anunciou que testaria uma versão da vacina da AstraZeneca aplicada como spray nasal — e ofereceu até R$ 3,2 mil para voluntários.
Em agosto, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Chicago e da Universidade Duke publicado na revista científica “Science Advances” afirmou que a vacinação intranasal pode ser mais eficaz e ter menos efeitos colaterais.
Em setembro, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa para a Agricultura, a Alimentação e o Meio Ambiente da França, em parceria com a Universidade de Tours, criaram e patentearam uma vacina intranasal. Mas o estudo foi conclusivo em animais.
Há cerca de um mês, o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) pediu autorização à Anvisa para iniciar estudos clínicos de fase 1 e 2 de uma vacina contra a Covid-19 administrada em spray nasal.
(Fonte:G1)