Correio de Carajás

Protestos marcam o mês de setembro em Marabá

Os motivos dos protestos são diferentes, mas o resultado é sempre o mesmo: vias interditadas e engarrafamentos sufocantes e quilométricos sob forte calor

Protesto dos moradores do São Félix foi o mais longo: 13 horas de ponte e rodovia interditadas/ Fotos: Divulgação

As cidades de grande e médio porte no Brasil costumam abrigar problemas sociais de toda sorte, que acabam culminando em manifestações com interdição de pontes, avenidas e rodovias. No caso de Marabá, no sudeste do Pará, não é diferente. Historicamente, a cidade é palco de protestos, mas nos últimos 30 dias a situação se intensificou, com quatro ocupações de rodovias, que renderam muita reclamação e pouco resultado.

O último grande ato ocorreu no dia 24, quando moradores do Bairro Cidade Jardim ocuparam a rodovia BR-230 (Transamazônica), que dá acesso ao loteamento. A reivindicação principal dos habitantes do bairro é por água nas torneiras, um problema crônico, que nunca foi resolvido e passa por demandas do município e do governo do Estado.

Quando os moradores compraram os primeiros lotes receberam a promessa de que teriam ruas asfaltadas e água jorrando nas torneiras. Nem uma coisa, nem outra. Existe asfalto sim, mas é pouco e os buracos tomam conta da maioria das ruas. Quanto à água, ela só pinga nas torneiras e isso tem tirado a paz da comunidade, que resolveu protestar. A manifestação se encerrou no final da manhã, mas não há indício de que tenha gerado algum efeito prático ainda. Apenas a promessa de que carros-pipa vão abastecer as casas.

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Habitantes do Cidade Jardim fizeram manifestação por água na torneira

Caso do São Félix

Já no último dia 17, moradores do Núcleo São Félix interditaram a ponte do Rio Tocantins (BR-222), única ligação do chamado “lá de lá” com o resto da cidade. A reivindicação deles tem a ver com o temor de serem despejados caso não paguem valores milionários pelas casas em que moram, pois os primeiros donos da área em questão (Avenidas Tiradentes e Zacarias Assunção) ganharam na Justiça uma ação de perdas e danos que tramitava havia 38 anos.

Alguns imóveis simples estariam avaliados em até R$ 2 milhões. Sem ter como pagar, eles decidiram chamar atenção das autoridades e da sociedade de forma geral, promovendo uma interdição que durou mais de 13 horas. O problema está sendo debatido entre a classe política, embora seja uma questão judicial. E como nada ainda foi resolvido, eles ameaçam ocupar a Estrada de Ferro Carajás, também na ponte do Rio Tocantins, a qualquer momento.

Sem-teto

Antes disso, nos dias 28 e 29 do mês passado, algumas famílias de sem-teto, que ocupam uma pequena área em litígio no Bairro Nossa Senhora Aparecida, promoveram duas interdições: a primeira na BR-222 foi algo bem rápido, que não causou muito estrago; já a segunda, na BR-230, provocou engarrafamento, incêndio na mata que margeia a pista e briga entre sem-teto e seguranças da área já durante a noite. Depois de idas e vindas, os sem-teto não desistiram e continuam nos arredores da “terra prometida”.

Sem-teto que lutam por moradia também fizeram um piquete na BR-230

Forma e conteúdo

A fotografia dos protestos é sempre a mesma: barricadas formadas por pneus em chamas, cartazes apelando para as autoridades, carros de som, microfone nas mãos dos que se expressam melhor e muito descontentamento de quem precisa seguir viagem, mas não pode.

No caso de Marabá, o que infla as manifestações é o fato de que a cidade tem veículos demais para as ruas. São mais de 100 mil veículos circulando todos os dias pela cidade, cortando três rodovias federais e uma estadual. Além disso, a cidade é espaçada, com os núcleos urbanos afastados, de modo que qualquer pequeno acidente forma gargalos no trânsito. No caso de um protesto, então, a situação se intensifica.

Chama atenção também a motivação das manifestações: a maior parte é ligada a moradia e infraestrutura mínima, fruto de uma cidade que cresceu a partir de ocupações urbanas, ou de loteamentos vendidos a toque de caixa, sem que o Estado e o Poder Judiciário fossem capazes de acompanhar as demandas que cresceram junto com as casas.

(Chagas Filho)