- Enganoso
- É enganosa a publicação que alega que um grupo de indígenas cobrou dinheiro do Partido dos Trabalhadores (PT) pela realização de uma passeata contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), em Porto Seguro, na Bahia. O grupo, na realidade, reivindicava ações em favor da educação escolar indígena e o ato fez parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, que ocorreu em Salvador entre os dias 25 e 29 de abril.
Conclusão do Comprova: Posts no Facebook e Twitter enganam sobre o objetivo de uma manifestação indígena realizada em 26 de abril, em frente ao CAB, complexo público no qual está localizada parte considerável das secretarias e órgãos do Governo da Bahia. As postagens trazem um vídeo do ato e afirmam que os indígenas estariam cobrando dinheiro prometido pelo governo estadual do PT para a realização de uma passeata contra o presidente Bolsonaro.
Na verdade, o grupo reivindicava ações em favor da educação escolar indígena. O protesto aconteceu em Salvador e fazia parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, realizado na capital entre os dias 25 e 29 de abril.
Leia mais:O encontro é organizado pelo Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) e, este ano, promoveu o debate a respeito de questões territoriais, violência contra indígenas e acesso à saúde e à educação.
Quatro dias antes desse ato, outro protesto ocorreu em Porto Seguro, quando o presidente Bolsonaro estava na cidade para as comemorações de 22 de abril. Esta manifestação foi motivada pelo que os indígenas dizem ser o sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), pela invasão e pela falta de demarcação de terras indígenas.
Ao Comprova, a assessoria do PT da Bahia afirmou que o partido não participou nem organizou o protesto dos povos indígenas em Porto Seguro.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. No Twitter, até o dia 5 de maio, o vídeo teve 5,8 mil interações. Já no Facebook, que classificou o conteúdo como informação falsa, a publicação gerou 116 interações.
O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do post pelo Twitter e aguarda o retorno. O perfil que publicou o conteúdo no Facebook foi procurado por e-mail e WhatsApp, mas não houve retorno até o fechamento desta verificação.
Como verificamos: O Comprova buscou, em sites e nas redes sociais, outras publicações que traziam vídeos da manifestação feitos em ângulos diferentes deste aqui verificado. A pesquisa levou a reportagens de veículos jornalísticos, como o G1, ao site do governo baiano e da Assembleia Legislativa da Bahia, com informações que coincidiram e esclareceram o contexto do ato.
O mesmo foi feito em relação ao protesto de grupos indígenas contra Bolsonaro em Porto Seguro. A fim de checar a motivação e as circunstâncias do ato, foram consultadas reportagens do Mídia Ninja, Hora do Povo, G1 e Giro Ibirataia, além de vídeos compartilhados no Instagram e no Twitter (1, 2, 3, 4, 5, 6).
O local do protesto em Salvador foi confirmado através de uma comparação entre trechos do vídeo aqui verificado, uma publicação no Facebook feita pelo Mupoiba e uma imagem do Google Maps do endereço do CAB. As imagens mostram os mesmos elementos: uma placa vermelha próxima a uma placa de pare, três bandeiras e uma estrutura cinza (este último não aparece no vídeo do Mupoiba).
| Captura de tela do minuto 1:28 do vídeo verificado pelo Comprova.
| Captura de tela da imagem do endereço do CAB no Google Maps. Disponível aqui
| Captura de tela do minuto 0:07 do vídeo publicado pelo Mupoiba no Facebook.
Já para comprovar que Bolsonaro esteve em Porto Seguro na referida data, foram consultadas matérias do site do governo federal e da imprensa, assim como a agenda oficial do presidente.
A assessoria de imprensa do PT da Bahia foi procurada, assim como um dos manifestantes indígenas que aparece no protesto em Porto Seguro. Este último não respondeu até o fechamento desta publicação.
Indígenas protestavam para cobrar demandas educacionais
Ao contrário do que afirma o post verificado, indígenas não cobraram pagamentos do PT por passeata contra Bolsonaro em manifestação que ocorreu no dia 26 de abril em frente ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), na cidade de Salvador. A informação foi desmentida pelo governo baiano.
O ato, na verdade, fez parte do 4º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, realizado na capital entre os dias 25 e 29 de abril deste ano. A iniciativa é promovida pelo Mupoiba e tem como objetivo criar um espaço de diálogo entre as populações originárias e os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado.
Em uma publicação no Facebook, o Mupoiba criticou a reação violenta da polícia e agentes de segurança com os cerca de 300 indígenas que participaram do ato e assegurou que o objetivo do protesto era cobrar demandas relacionadas à educação, como a construção de escolas e transportes escolares.
Protesto contra Bolsonaro em Porto Seguro (BA) ocorreu quatro dias antes
No dia 22 de abril deste ano, Bolsonaro esteve em Porto Seguro para participar de eventos em homenagem aos 522 anos da chegada dos portugueses ao Brasil. A visita consta na agenda oficial do presidente, que registrou a viagem no Twitter.
Como noticiado pelo G1, no mesmo dia, pela manhã, indígenas de 15 aldeias pataxós fizeram um protesto pelas ruas de Porto Seguro motivado pelo sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), pela invasão de terras indígenas e a não demarcação de terras.
Em vídeos postados na internet sobre a manifestação, eles criticam o atual governo e empunham cartazes “Fora Bolsonaro”.
Durante o ato, que teve participação de cerca de 200 indígenas, os manifestantes pintaram com tinta vermelha uma estátua de Pedro Álvares Cabral, localizada no centro histórico da cidade.
A manifestação também foi noticiada pelo site Hora do Povo, que mostrou um vídeo do momento em que os indígenas entraram na área destinada ao discurso de Bolsonaro.
Já o portal local Radar 64 publicou matéria anterior à realização do evento, informando que, além dos povos originários, sindicatos, partidos políticos e entidades populares iriam se manifestar contra os escândalos de corrupção no MEC, as “rachadinhas” e o aumento de preços dos alimentos e combustíveis. Os indígenas teriam pauta de reivindicações próprias.
Nenhum dos diversos vídeos do protesto dos indígenas publicados nas redes sociais (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7) mostra bandeiras de partidos políticos ou centrais sindicais.
Procurada pelo Comprova, a assessoria do PT da Bahia afirmou que o partido não participou nem organizou o protesto dos povos indígenas em Porto Seguro.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo alvo desta verificação cita o presidente Jair Bolsonaro, provável candidato à reeleição, e o PT, partido de outro pré-candidato ao Planalto. Publicações enganosas que mencionam presidenciáveis podem induzir interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação, o que é prejudicial ao processo democrático.
Outras checagens sobre o tema: O mesmo vídeo foi verificado por outras agências de checagem como a Lupa e a Aos Fatos, além do site Boatos.org. Todos chegaram à conclusão de que não se tratava de uma manifestação para cobrar suposto dinheiro prometido na passeata contra Bolsonaro, em Porto Seguro.
Em verificações anteriores, o Comprova mostrou que pessoas gritavam a favor de Lula, e não contra ele em vídeo na Sapucaí; que vídeos de manifestação contra Lula em Passo Fundo são de 2018; que é enganosa postagem afirmando que lançamento da campanha de Bolsonaro reuniu multidão em Brasília e que vídeo de abordagem da PM a torcedores do Sport não tem relação com Lula.
Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 33 diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.