A proporção de mulheres abaixo dos 40 anos com câncer de mama mais do que dobrou entre 2009 e 2020, de acordo com dados disponibilizados pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama). Em 2009, 7,9% das mulheres com câncer de mama tinham menos de 40 anos. Em 2020, porém, a porcentagem passou a 21,8%.
O que pode explicar a incidência dos casos na faixa etária é a falta de diagnóstico precoce de nódulos e tumores nas mamas. A mamografia, exame para identificar possíveis alterações mamárias, é recomendada pelo Ministério da Saúde para mulheres acima dos 50 anos – 68,5% das pacientes iniciaram seus tratamentos acima dessa idade entre 2018 e 2022, segundo dados do Radar do Câncer.
Nesta segunda-feira (5/2), comemora-se o Dia Nacional da Mamografia. No entanto, pacientes e profissionais questionam a recomendação etária do exame, já que mulheres mais novas vêm sendo constantemente atingidas pela doença. “Antigamente, era mais comum que as mulheres mais velhas tivessem câncer, mas esse padrão de idade mudou, devido ao estilo de vida, à alimentação, ao estresse, o que muda o número de pessoas com câncer, independentemente de ser mulher ou não”, afirma Mayara Passos Chiecon, de 34 anos, assistente de secretaria de graduação e paciente de câncer de mama, ao Correio.
Leia mais:A capixaba de Cachoeira do Itapemirim descobriu o tumor com ajuda do marido, que percebeu uma pequena bolinha ao lado de sua mama. “Pensei que era algo hormonal, às vezes a mama incha… […] Constatou-se que era um câncer e não um nódulo benigno qualquer, e eu iniciei o tratamento de imediato”, lembra.
Depois de um primeiro tratamento, ela descobriu a volta do câncer e teve que realizar quimioterapia outra vez, além de realizar a mastectomia, que é a retirada da mama.
“Na minha vivência enquanto paciente oncológica, eu tenho percebido que cada vez mais mulheres novas, da minha idade ou até mais novas, têm desenvolvido o câncer. Infelizmente, duas pessoas próximas a mim na faixa dos 30 anos vieram a óbito. Fazendo a mamografia mais cedo, ajudaria a evitar que a doença evoluísse para quadros piores”, defende Mayara.
A tendência de adoecimento jovem também é percebida por Maira Caleffi, mastologista, fundadora e presidente voluntária da Femama. A especialista ressalta que existem evidências em diversos países que indicam que a mamografia deve ser recomendada acima dos 40 anos, não mais dos 50.
Além disso, Caleffi, que é coordenadora do Núcleo de Saúde da Mama do Hospital Moinhos de Ventoaponta, diz que o histórico familiar e a densidade mamográfica devem ser indicativos para realizar exames até antes dos 40. “Quando há uma suspeita de câncer por pacientes jovens, o diagnóstico demora justamente por ela ser jovem. Mulheres jovens com tumores grandes vão ao médico, fazem exames de mamografia e às vezes lhe é dito que ‘isso não é nada, é benigno, é hormonal'”.
“Não conheço outras maneiras de fazer o diagnóstico precoce que não seja pela mamografia. Como nós vamos lidar com as mulheres abaixo dos 50 anos, para que tenham um diagnóstico precoce e chances de cura, sem mamografia? Eu não conheço”, completa a médica ao Correio.
A mastologista Mariana Fiori, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, orienta mulheres que tenham história familiar de câncer para que procurem por uma avaliação com um profissional, independentemente da idade. “Além disso, desde jovens, façam atividade física regular, mantenham o peso adequado, tenham um estilo de vida saudável e fiquem atentas aos sinais do corpo. Assim, o risco da doença pode ser, de fato, diminuído”.