Correio de Carajás

Propinas atrapalharam 50% das fiscalizações do Ibama

A Operação Concisor, deflagrada na manhã de hoje pela Polícia Federal resultou na prisão temporária de três funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Marabá. Uma quarta pessoa, que atua como madeireira em Eldorado do Carajás, conseguiu fugir do cerco policial. Os nomes dos alvos da operação não foram divulgados. Foram cumpridos, ainda, cinco mandados de busca e apreensão e seis conduções coercitivas, todas de empresários do ramo de madeira. A ação aconteceu de forma simultânea em Marabá, Eldorado, Parauapebas, Breu Branco e Canaã dos Carajás.

Durante coletiva de imprensa realizada no final da manhã na Delegacia da Polícia Federal em Marabá, o delegado Josiel Brito, responsável pelas investigações, informou que o caso vinha sendo acompanhado há mais de um ano, desde 2016, após denúncia da gerência regional do Ibama. “Foram vários meses de investigação e se concluiu que havia vazamento forte das operações do Ibama na região, causando prejuízo não apenas na exigência de vantagem econômica, mas também prejuízo fortíssimo para a atividade do órgão durante a sua execução fiscalizatória. Muitas vezes se chegava às madeireiras e estava tudo parado, sendo frustrada a fiscalização”, explicou.

De acordo com ele, durante o cumprimento das decisões judicias, a Polícia Federal já se constatou – por meio de acesso ao aplicativo WhatsApp instalado nos aparelhos celulares do envolvidos – o íntimo relacionamento entre fiscalizados e fiscalizadores. “Embora não se trate da prisão de fiscais propriamente ditos, mas de servidores de outros setores do órgão fiscalizatório que tinham íntima relação com os fiscalizados, alguns destes envolvidos em outras atividades irregulares, como transporte de madeira em meio a caminhões de tijolos e diversas outras atividades ilegais”, observou.

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O gerente executivo do Ibama em Marabá, Hindenberg Cruz, explicou que o Ibama fez a denúncia, ainda na gerência anterior, ao suspeitar que informações sobre as fiscalizações em empresas madeireiras e áreas de desmatamento estavam sendo vazadas. “A origem das denúncias era a exploração de uma espécie proibida por lei, espécie de castanheira, que chamamos de novo mogno desta região. Estava havendo uma exploração muito predatória e muito constante dessas madeireiras e a gente ia fazer as fiscalizações, mas nos deparávamos com empreendimentos denunciados não operando normalmente. Isso causou suspeitas”, explicou.

O gerente regional acrescentou que ao longo de 2016 e em 2017 foram realizadas aproximadamente 40 abordagens baseadas em denúncias, porém pelo menos metade delas não obtive resultado. “Recebemos várias denúncias e acho que em torno de 50% dessas fiscalizações teve frustração quando chegamos ao local, principalmente Itupiranga e Parauapebas, municípios dos quais tivemos muitas denúncias de empreendimentos explorando e comercializando castanheira. Quando chegávamos lá não encontrávamos mais nada”.

O delegado Brito ressalta que as propinas pagas sequer somavam altos valores e muitas vezes os servidores solicitavam apenas um tanque de combustível em troca de informações sigilosas. “As propinas não eram nem pagas em valores altos, embora qualquer propina seja condenável, mas o grande prejuízo é para o meio ambiente e para o órgão fiscalizatório, sem dúvida. Imagine que cerca de 50% das ações do ano passado foram frustradas de alguma forma”.

Informou, ainda, que apesar da investigação durar mais de um ano, de poucos meses para cá começaram a surgir conversas e documentos que apontaram com mais clareza o estreitamento da relação entre os madeireiros ilegais e os servidores do Ibama. “Só de haver ligações e íntimo contato de amistosidade é como se um policial fosse um amigão de um criminoso. Já é uma conduta suspeita, além dos fatos que conseguimos angariar durante tanto tempo de investigação”.

A princípio, a Polícia Federal entende que o esquema era desorganizado, mas as investigações ainda deverão apurar se havia alguma forma de organização entre os envolvidos. “Embora fossem amigos e colegas de trabalho então as investigações ainda vão esclarecer o liame subjetivo entre eles, a qualidade desse liame e se havia alguma divisão de tarefas, alguma hierarquia entre eles. Essa hierarquia ainda não foi identificada, acreditamos que cada um ia cobrando a sua propina de acordo com a sua conveniência e para sustentar as suas próprias questões particulares”, destacou.

Dentre os empresários que foram conduzidos alguns negaram admitir participação no caso, mas de acordo com o delegado em pelo menos um caso uma pessoa considerada a peça que faltava no quebra-cabeça admitiu durante depoimento que pagou propinas aos servidores, delatando toda a atividade.

O gerente regional do Ibama, Hindenberg Cruz, esclareceu que os servidores eram funcionários administrativos e não fiscais. Apenas uma das pessoas do quadro do Ibama conduzidas para prestar depoimento – e que não foi pressa – é concursada enquanto fiscal, mas estava afastada dessa atividade em decorrência das investigações. “Ele não estava atuando de forma rotineira na fiscalização. Não havia provas concretas contra ele, mas achamos por bem tirar ele um pouco da fiscalização exatamente por conta da operação”.

Por fim, o delegado Brito informou que além de terem as prisões temporárias cumpridas, os servidores serão afastados das funções no órgão federal, “de modo a não mais interferir dessa maneira na atividade do Ibama”.

Em agosto do ano passado a Polícia Civil prendeu um analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Marabá, além de outra pessoa, acusados de atuarem no desbloqueio de empresas madeireiras irregulares que constam nos sistemas do Ibama e da Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Sustentabilidade (Semas). (Luciana Marschall e Nathália Viegas)

 

A Operação Concisor, deflagrada na manhã de hoje pela Polícia Federal resultou na prisão temporária de três funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Marabá. Uma quarta pessoa, que atua como madeireira em Eldorado do Carajás, conseguiu fugir do cerco policial. Os nomes dos alvos da operação não foram divulgados. Foram cumpridos, ainda, cinco mandados de busca e apreensão e seis conduções coercitivas, todas de empresários do ramo de madeira. A ação aconteceu de forma simultânea em Marabá, Eldorado, Parauapebas, Breu Branco e Canaã dos Carajás.

Durante coletiva de imprensa realizada no final da manhã na Delegacia da Polícia Federal em Marabá, o delegado Josiel Brito, responsável pelas investigações, informou que o caso vinha sendo acompanhado há mais de um ano, desde 2016, após denúncia da gerência regional do Ibama. “Foram vários meses de investigação e se concluiu que havia vazamento forte das operações do Ibama na região, causando prejuízo não apenas na exigência de vantagem econômica, mas também prejuízo fortíssimo para a atividade do órgão durante a sua execução fiscalizatória. Muitas vezes se chegava às madeireiras e estava tudo parado, sendo frustrada a fiscalização”, explicou.

De acordo com ele, durante o cumprimento das decisões judicias, a Polícia Federal já se constatou – por meio de acesso ao aplicativo WhatsApp instalado nos aparelhos celulares do envolvidos – o íntimo relacionamento entre fiscalizados e fiscalizadores. “Embora não se trate da prisão de fiscais propriamente ditos, mas de servidores de outros setores do órgão fiscalizatório que tinham íntima relação com os fiscalizados, alguns destes envolvidos em outras atividades irregulares, como transporte de madeira em meio a caminhões de tijolos e diversas outras atividades ilegais”, observou.

O gerente executivo do Ibama em Marabá, Hindenberg Cruz, explicou que o Ibama fez a denúncia, ainda na gerência anterior, ao suspeitar que informações sobre as fiscalizações em empresas madeireiras e áreas de desmatamento estavam sendo vazadas. “A origem das denúncias era a exploração de uma espécie proibida por lei, espécie de castanheira, que chamamos de novo mogno desta região. Estava havendo uma exploração muito predatória e muito constante dessas madeireiras e a gente ia fazer as fiscalizações, mas nos deparávamos com empreendimentos denunciados não operando normalmente. Isso causou suspeitas”, explicou.

O gerente regional acrescentou que ao longo de 2016 e em 2017 foram realizadas aproximadamente 40 abordagens baseadas em denúncias, porém pelo menos metade delas não obtive resultado. “Recebemos várias denúncias e acho que em torno de 50% dessas fiscalizações teve frustração quando chegamos ao local, principalmente Itupiranga e Parauapebas, municípios dos quais tivemos muitas denúncias de empreendimentos explorando e comercializando castanheira. Quando chegávamos lá não encontrávamos mais nada”.

O delegado Brito ressalta que as propinas pagas sequer somavam altos valores e muitas vezes os servidores solicitavam apenas um tanque de combustível em troca de informações sigilosas. “As propinas não eram nem pagas em valores altos, embora qualquer propina seja condenável, mas o grande prejuízo é para o meio ambiente e para o órgão fiscalizatório, sem dúvida. Imagine que cerca de 50% das ações do ano passado foram frustradas de alguma forma”.

Informou, ainda, que apesar da investigação durar mais de um ano, de poucos meses para cá começaram a surgir conversas e documentos que apontaram com mais clareza o estreitamento da relação entre os madeireiros ilegais e os servidores do Ibama. “Só de haver ligações e íntimo contato de amistosidade é como se um policial fosse um amigão de um criminoso. Já é uma conduta suspeita, além dos fatos que conseguimos angariar durante tanto tempo de investigação”.

A princípio, a Polícia Federal entende que o esquema era desorganizado, mas as investigações ainda deverão apurar se havia alguma forma de organização entre os envolvidos. “Embora fossem amigos e colegas de trabalho então as investigações ainda vão esclarecer o liame subjetivo entre eles, a qualidade desse liame e se havia alguma divisão de tarefas, alguma hierarquia entre eles. Essa hierarquia ainda não foi identificada, acreditamos que cada um ia cobrando a sua propina de acordo com a sua conveniência e para sustentar as suas próprias questões particulares”, destacou.

Dentre os empresários que foram conduzidos alguns negaram admitir participação no caso, mas de acordo com o delegado em pelo menos um caso uma pessoa considerada a peça que faltava no quebra-cabeça admitiu durante depoimento que pagou propinas aos servidores, delatando toda a atividade.

O gerente regional do Ibama, Hindenberg Cruz, esclareceu que os servidores eram funcionários administrativos e não fiscais. Apenas uma das pessoas do quadro do Ibama conduzidas para prestar depoimento – e que não foi pressa – é concursada enquanto fiscal, mas estava afastada dessa atividade em decorrência das investigações. “Ele não estava atuando de forma rotineira na fiscalização. Não havia provas concretas contra ele, mas achamos por bem tirar ele um pouco da fiscalização exatamente por conta da operação”.

Por fim, o delegado Brito informou que além de terem as prisões temporárias cumpridas, os servidores serão afastados das funções no órgão federal, “de modo a não mais interferir dessa maneira na atividade do Ibama”.

Em agosto do ano passado a Polícia Civil prendeu um analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Marabá, além de outra pessoa, acusados de atuarem no desbloqueio de empresas madeireiras irregulares que constam nos sistemas do Ibama e da Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Sustentabilidade (Semas). (Luciana Marschall e Nathália Viegas)