Correio de Carajás

Projeto Sereno: audiência pública discute impactos em Marabá e Curionópolis

Empresa RMB promete apoiar comunidades, oferecer 500 empregos diretos e beneficiar e industrializar manganês no próprio estado

Ampliação do Projeto Sereno prevê oferecer 500 empregos para moradores da região
Por: Ulisses Pompeu
✏️ Atualizado em 19/08/2025 10h44

A comunidade de Marabá será palco, nesta quarta-feira (20), de uma audiência pública para debater o Projeto Sereno, empreendimento da empresa Recursos Minerais do Brasil (RMB) voltado à extração e beneficiamento de manganês no sudeste do Pará. O encontro, promovido no contexto do licenciamento ambiental conduzido pela SEMAS-PA, pretende aproximar a população dos objetivos e impactos do projeto, que já está em operação, mas passará por processo de expansão. A audiência está agendada para as 16 horas, no Plenário da Câmara Municipal de Marabá.

A Reportagem do CORREIO analisou o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), o qual mostra que o principal objetivo do Projeto Sereno é a produção de manganês, garantindo retorno econômico para o país e, especialmente, para os municípios de Marabá e Curionópolis, com geração de empregos diretos e indiretos, arrecadação de tributos e dinamização da economia local. Mas, claro, o interesse econômico da empresa está à frente disso tudo, embora o RIMA não deixe isso claro.

O empreendimento está localizado em uma área estratégica da Província Mineral de Carajás, reconhecida mundialmente pelo seu potencial mineral. Além de justificar-se pela rigidez locacional da jazida, a RMB ressalta que busca adotar práticas de gestão ambiental responsável, com monitoramento de recursos naturais, controle de emissões e medidas de recuperação de áreas degradadas.

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Impactos socioambientais

O estudo ambiental aponta benefícios e riscos associados ao projeto. Entre os impactos positivos, destacam-se:

  • Geração de 500 empregos diretos nas fases de implantação e operação;
  • Aumento da arrecadação municipal e estadual, ampliando a capacidade de investimento público em saúde, educação e infraestrutura;
  • Dinamização da economia regional, com fortalecimento do setor de comércio e serviços.

Por outro lado, também foram identificados impactos negativos, como:

  • Supressão vegetal e alteração da fauna local, com risco de afugentamento de espécies e atropelamento de animais em rotas de transporte;
  • Mudanças na qualidade do ar, solo e recursos hídricos, em função da retirada de vegetação, circulação de maquinário pesado e geração de poeira e efluentes;
  • Ruídos e vibrações decorrentes das atividades de lavra e beneficiamento;
  • Sobrecarga em serviços públicos (saúde, educação e habitação), devido ao aumento da população atraída por novas oportunidades de trabalho.

 

O RIMA também ressalta a presença de áreas de preservação permanente (APPs) e nascentes na região do projeto, além da proximidade de unidades de conservação como a Reserva Biológica do Tapirapé e a APA do Lago de Tucuruí, que exigem cuidados adicionais.

Impactos em Marabá e Parauapebas

Embora o projeto esteja instalado entre Marabá e Curionópolis, os efeitos também se estendem a Parauapebas, distante cerca de 80 km.

  • Marabá deverá sentir de forma mais direta o impacto econômico, já que é o maior centro urbano da região, com infraestrutura para absorver parte da demanda por serviços e mão de obra. A expectativa é que a arrecadação de tributos fortaleça o setor público municipal. Contudo, também existe o risco de pressão sobre a rede de saúde e saneamento, já considerados deficitários.
  • Parauapebas, cidade que já convive com forte dependência da mineração, pode sentir efeitos indiretos como aumento do fluxo migratório, sobrecarga de vias e serviços públicos e maior competição territorial por atividades econômicas. A integração logística entre os municípios também poderá ser intensificada, ampliando o tráfego de veículos pesados na região.

A mineradora informa que planejou estratégia para desenvolver novos produtos à base do minério, como sulfato, hidróxido e carbonato de manganês para atender o agronegócio, dependente da importação de insumos; além de briquetes concentrado com 45% de manganês destinado ao setor siderúrgico.

“Nosso compromisso é implantar o empreendimento de maneira responsável, promovendo harmonia com meio ambiente e comunidades no entorno do projeto, sempre com um olhar voltado para a sustentabilidade, pois temos convicção da capacidade de desenvolvimento que um empreendimento desse porte de oferecer para a região”, afirma Samuel Borges, CEO do Grupo RMB.

O executivo ressalta ainda que a RMB tem investido pesado em novas tecnologias para desenvolver equipamentos e novos produtos do minério de manganês.  Segundo ele, um dos fatores que pesou na decisão de verticalizar a produção de manganês no Pará se deve a sua forte ligação com estado.

A RMB adquiriu também ativos de manganês da Vale no Pará, que acrescentam novas reservas ao portfólio da mineradora.  “Essa aquisição permite a empresa agregar valor na produção de manganês. Vamos beneficiar e industrializar o minério no próprio estado”, afirma Borges, destacando que a negociação com a Vale levou cinco anos para ser concluída.

Segundo Borges, a RMB pretende alocar recursos, para estruturar projetos de forma compartilhada envolvendo estado e municípios que trarão benefícios para comunidades no entorno do empreendimento, como por exemplo, a revitalização rio Sereno, que está degradado, pela extração ilegal de ouro e manganês. A RMB iniciou diálogo na Vila Alto Bonito estimulando os moradores a organizarem uma associação para que juntos possam discutir melhorias para a comunidade. “A iniciativa busca promover o fortalecimento do relacionamento com a comunidade, marcado pelo respeito, transparência e confiança”.

A RMB ouviu também sugestões de ações que poderão ser apoiadas nas áreas de educação, esporte, meio ambiente e geração de trabalho e renda para beneficiar a comunidade, e já elabora programas de educação ambiental, capacitação de mão-de-obra local e apoio a saúde que irão beneficiar os moradores da comunidade. Estão previstas a construção de uma nova escola, com internet e computadores para professores e alunos, além de posto de saúde equipado para atendimento básico aos moradores. ”Nossa expectativa é ajudar a comunidade a se desenvolver, investindo em projetos que tenham impacto positivo na vida nos moradores”, comenta Warley Pereira, diretor de Relações Institucionais e Comunicação da empresa.

Audiência pública: espaço para diálogo

A audiência pública será uma oportunidade para que moradores, representantes de entidades sociais e autoridades municipais tirem dúvidas sobre o projeto e apresentem preocupações. O RIMA reforça que as medidas mitigadoras incluem programas ambientais de monitoramento de fauna, flora, qualidade da água, ar e solo, além de projetos sociais voltados às comunidades do entorno.

Em um território historicamente marcado por grandes empreendimentos, como a Hidrelétrica de Tucuruí e o Programa Grande Carajás, a discussão sobre o Projeto Sereno se insere em um debate mais amplo: como conciliar mineração, desenvolvimento econômico e sustentabilidade socioambiental no sudeste do Pará.

Serviço:

A audiência pública sobre o Projeto Sereno acontece nesta quarta-feira (20), às 16 horas, no  Marabá. O evento é aberto à população e integra o processo de licenciamento ambiental conduzido pela SEMAS-PA.