O ano era 2015. Na manhã de uma terça-feira, precisamente em 18 de agosto, quando o sol estava nascendo, a professora Juliana de Souza, então secretária de Educação de Parauapebas, foi surpreendida enquanto ainda dormia. “É da Polícia Federal. A senhora está detida.”
A cena — com ela deixando o lar e chorando, sem entender muita coisa — logo tomou conta da mídia paraense e gerou diversas especulações sobre as razões pelas quais a ex-secretária, considerada muito competente e honesta, estaria sendo conduzida à Delegacia da PF em Marabá, onde acabou passando oito dias de muita tristeza, angústia e apreensão até que os fatos fossem devidamente esclarecidos.
Juliana retornou a Parauapebas na tarde de 26 de agosto e foi recebida com festa na entrada da cidade por uma multidão composta por centenas de pessoas que acreditavam em sua inocência. Mas, depois da detenção, muita coisa mudou.
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Na época, a professora Juliana e outras pessoas, entre servidores públicos e empresários, foram acusados, entre tantas atrocidades, de desvio de recursos públicos do ainda hoje polêmico transporte escolar de Parauapebas.
Ela conseguiu provar que, primeiro, não havia verbas federais envolvidas no transporte escolar de Parauapebas que motivassem uma detenção por mera suspeita de desvio de recursos. E, segundo, Juliana provou e comprovou que simplesmente não houve qualquer desvio de recursos. “Infelizmente, o estrago na minha vida já havia sido feito”, lamenta a ex-secretária, que foi procurada pela Reportagem do Correio, tamanho o entusiasmo popular para que ela retorne de forma triunfal à Secretaria Municipal de Educação (Semed).
Denunciação caluniosa
Qualquer cidadão poderia à época — e pode fazê-lo ainda hoje — consultar no portal do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) as liberações de recursos federais para transporte escolar ou qualquer outro serviço de educação. Nos anos em que Juliana de Souza foi secretária, Parauapebas recebeu as seguintes verbas federais para o transporte escolar: R$ 275 mil em 2013; R$ 85 mil em 2014; e R$ 147 mil em 2015.
Esses valores são tão irrisórios perante o desembolso do município com recursos próprios no transporte escolar (na ordem de R$ 12,8 milhões em 2013; R$ 3,6 milhões em 2014; e R$ 8 milhões em 2015), mas houve algum anônimo que, movido por despeito, tenha feito denunciação caluniosa, alegando que a então secretária havia desviado dinheiro do transporte escolar em 2014, o que não era verdade.
O processo foi extinto por ausência de elementos, mas Juliana ficou machucada e com a honra em xeque perante a sociedade. Outro detido injustamente junto com a professora, o administrador Shirlean Rodrigues, figura benquista em Parauapebas, acabou falecendo de decepção e desgosto por ter sido acusado de suposto crime que não cometeu.
Juliana foi afastada da Semed e se isolou por um tempo, a fim de superar o episódio traumático. Como a boa gestora que foi, não teve uma condenação sequer na justiça e, como demonstração de uma gestão de excelência, teve todas as contas aprovadas junto ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Juliana jamais cedeu
Diversas correntes políticas começaram, desde 2017, a olhar “com carinho” para Juliana, tentando levá-la a diversos partidos por ter sido uma notável gestora. Ela sempre foi resistente a andar com o governo do atual prefeito Darci Lermen, dispensou ocupar qualquer tipo de cargo que lhe fosse oferecido por convicção pessoal e focou em iniciar uma graduação em Direito a fim de buscar o conhecimento necessário para se defender das línguas ferinas que volta e meia acusam-na sem saber o que de fato aconteceu naquela manhã triste de 18 de agosto de 2015. Dedicada, Juliana está concluindo o curso e foi aprovada de primeira no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Seu exemplo de superação fez com que se identificasse com Aurélio Goiano, vereador e prefeito eleito de Parauapebas. Juliana caiu nas graças de Aurélio, que também foi duramente perseguido e teve o mandato cassado pela Câmara em 2022, conseguindo retornar em grande estilo e mostrar, com sua vitória nas urnas para prefeito, que o mundo dá voltas.
A parceria entre Juliana e Aurélio tem dado tão certo que ela é, disparado, o nome mais cotado dentro e fora da educação para assumir a Semed, o que tem feito com que muita gente ruim resgate o episódio da detenção dela e crie fake news em grupos de WhatsApp e redes sociais.
No entanto, aviso aos navegantes: a professora já começou a processar por calúnia e difamação as línguas levianas, que a associam, sem provas, a qualquer desvio de recursos. E mais: a justiça estadual está acatando as alegações. “A internet não é terra sem lei. As pessoas têm de buscar se informar sobre os fatos antes de saírem acusando equivocadamente as outras”, alerta Juliana, que foi buscar no Direito uma forma de fazer justiça a ela própria.