Correio de Carajás

Professora da Unifesspa lança livro sobre racismo linguístico contra os povos indígenas

Flávia Marinho Lisbôa questiona a língua como linha de força do dispositivo colonial

Flávia Marinho Lisbôa lança livro no auditório da Unifesspa com a presença de lideranças indígenas/ Fotos: Evangelista Rocha

“Esse livro trata dessa relação conflituosa – a presença indígena na universidade é conflito, assim como dos quilombolas, do negro e do LGBTQIA+ – porque a partir do momento que ela se insere, traz provocações para esse espaço que foi secularmente branco e monocromático. Nós estamos aqui para colorir esses espaços que são coloniais e eurocêntricos. Que a nossa presença traga outras possibilidades acadêmicas de existir dentro desse espaço”, diz Flávia Marinho Lisboa, autora do livro “Racismo linguístico e os indígenas Gavião na universidade: língua como linha de força do dispositivo colonial”.

O lançamento aconteceu na tarde de quinta-feira, 16, no auditório da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, e contou com a presença de lideranças indígenas do Povo Gavião, como Kátia Akrãtikatêjê, Zeca Gavião Kyikatêjê e Jopramre Parkatêjê; da comunidade indígena e de universitários.

Flávia Lisbôa é professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, com doutorado em Letras/Estudos Linguísticos, pela Universidade Federal do Pará.

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Até o ano de 2021, Flávia era professora na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), onde esteve à frente da comissão que instituiu a política de acesso específico e diferenciado para indígenas e quilombolas.

“O livro é fruto da minha tese de doutorado e desse relacionamento que foi estabelecido com o Povo Gavião e também dessa expectativa de projetos de futuro que tanto a universidade se coloca na atualidade, a partir dessa presença indígena”, sintetiza.

Segundo a autora, a obra retrata e alerta para a desumanização dos indígenas e africanos no processo de colonização, que não ficou no passado. Para ela, os sistemas de exclusão se manifestam até hoje, e o campo linguístico não fica de fora.

“A imposição do português em padrões protegidos e compartilhados entre uma elite foi a forma como a hegemonia apagou, e continua eliminando, a possibilidade de circularem por espaços de prestígio (como a universidade) pessoas indígenas e negras”, afirma.

A obra nasceu por intermédio de pesquisa de campo e entrevistas com alunos e lideranças indígenas. O trabalho, de acordo com a pesquisadora, parte da experiência e das dificuldades do Povo Gavião e, claro, de outros povos de uma forma em geral.

O objetivo da pesquisa é falar dos povos indígenas e tratar das diferenças cosmológicas, das diferenças de visão de mundo e da forma como se relacionam com esse mundo, que é que marca essa diferença com o mundo ocidental.

“Nosso convite é pensar nessas dificuldades de estudantes dos povos indígenas, que vem da oralidade, que tem uma cultura, que tem outra visão de mundo que não a ocidental. O livro traz uma discussão da história da colonização do nosso país. A presença de negros e indígenas na universidade tem no máximo dez anos, mas a universidade já existia há muito tempo. Quando falamos das dificuldades de hoje, estamos falando de um rompimento colonial. A universidade sempre teve como base a ciência moderna, a ciência eurocêntrica, e quando esses povos adentram a universidade eles nos convidam a pensar na produção de conhecimento de outras formas”, finaliza. (Ana Mangas)