Correio de Carajás

Professor mata aulas, alunos deduram e ele dá zero pra turma

Professor mata aulas, alunos deduram e ele dá zero pra turma

O clima não está nada bom entre o professor Rosemiro Laredo e mais de 40 alunos dele do primeiro ano da Escola Estadual de Ensino Médio João Prudêncio de Brito, localizada na Rua C, em Parauapebas, sudeste do Pará. Ele deixou a maior parte de duas turmas sem nota após estudantes mobilizarem um abaixo assinado pedindo a substituição por outro professor da disciplina Língua Portuguesa.

O aluno Bernardo Abraão Santos da Conceição, de 15 anos, diz correr o risco de repetir de ano, além de não estar conseguindo transferência para o Estado de São Paulo, onde pretende finalizar o período letivo, uma vez que os pais possuem a guarda compartilhada dele. “Estou sem nota na matéria de português e o professor não lançou nota de ninguém. Todo mundo se reuniu para um abaixo assinado contra ele porque ele não estava dando aula. E ele disse que não lançaria de quem assinou”, disse, se dizendo preocupado.

Abraão foi um dos alunos prejudicados com falta de nota

“Me sinto bastante prejudicado porque queria ir para SP agora para estudar, mas a escola não dá a transferência porque estou sem nota”, comenta o adolescente, que em cursar Ensino Superior e ser cirurgião plástico. Ele e a mãe dele, Leuda Santos, que trabalha como empregada doméstica, procuraram a Reportagem na tentativa de conseguirem ajuda em relação ao caso.

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Ela afirma ter como único sonho formar os filhos. “Eu não tenho formação, então luto, trabalho como empregada doméstica, luto e crio meus filhos porque quero muito que eles tenham futuro”, diz, reiterando a história contada pelo filho. “Houve um abaixo assinado para que o professor não desse mais aula naquela turma. A própria direção da escola informou que o professor faltava muito e todos os alunos dizem que ele falta muito”, relata.

De acordo com Leuda, os estudantes foram ameaçados pelo professor para que não assinassem a lista e ele teve acesso aos nomes. “Os alunos foram avisados por ele que todos que colocassem o nome na lista não teriam nota. E ele cumpriu, meu filho está sem nota. Ele fez a ameaça e está cumprindo. Estamos praticamente no final do ano e não há notas do primeiro e do segundo bimestre. O que for preciso fazer para que meu filho tenha a nota eu farei porque é meu sonho. Ele (professor) poderia ter feito qualquer coisa na terra que pra mim estaria tudo bem, mas com as notas do meu filho não. É escola pública, mas eu quero ver meu filho formado”, declarou.

Leuda está preocupada com a situação do filho

Ela se preocupa, ainda, em ter problemas com o pai do adolescente caso não consiga pegar a transferência. “Meu filho precisa viajar, eu tenho a guarda compartilhada dele e corro o risco de perder isso por conta desse professor. Eu peço que alguém faça alguma coisa sobre isso e não apenas por mim, mas por todos os alunos que estão sem nota”, afirma.

URE diz que há processo apurando o caso

Procurado, o gestor da 21ª Unidade Regional de Educação, Carlos Eduardo Nascimento, informou que o órgão já teve conhecimento do caso e que existe processo tramitando na Ouvidoria a respeito da situação. “O que a gente pode perceber é que o professor se ausentava com muita frequência da escola, ministrou poucas aulas da disciplina e a maioria dos alunos não teve condição de fazer a prova aplicada na data marcada, alguns se recusaram a fazer. Gerou um tumulto, a direção teve que intervir e não foi aplicada a prova”, explicou.

Carlos Eduardo, gestor da URE em Parauapebas, diz que caso está sendo acompanhado

Ainda segundo ele, em decorrência disso, o Conselho Escolar da instituição se reuniu e votou que os alunos zerados receberiam o conceito mínimo, de 5, para aprovação. “Mas o professor não reconheceu essa deliberação e se recusou a lançar essa nota no sistema. Só o professor tem acesso ao diário online, com a matrícula funcional dele e a senha pessoal. O diretor da escola até tem acesso, mas não tem competência e nem autonomia a fazer isso pelo professor, a não ser que seja autorizado por algum impedimento de saúde, por exemplo. Não é o caso porque o professor não reconhece a decisão do Conselho”, diz.

Em relação ao processo, Carlos Nascimento explica que já foram colhidas oitivas de pais, alunos, do professor e da direção, mas ainda não foi emitido parecer final. Em relação ao caso específico da transferência de Bernardo Abraão, ele garante que a direção tem autonomia – com chancela do Conselho – de atribuir a nota 5 sem burlar regras, uma vez que o Conselho tem poder deliberativo”.

O Correio de Carajás tentou contato com o professor durante esta quinta-feira, mas não conseguiu localizá-lo. (Luciana Marschall e Adersen Arantes)