Nesta segunda-feira (30), das 19h30 às 22h, a Biblioteca Municipal Orlando Lobo, em Marabá, será palco do lançamento dos livros ‘Esquizossemiótica e Psicologia da Diferença’ e ‘Semiopsicologia da Diferença e Arte’. As obras são fruto do trabalho de Diego Marques, professor doutor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), e do grupo de pesquisa em Semiótica e Esquizoanálise que ele coordena.
Durante o evento, os livros serão vendidos e a renda será destinada para custear a hospedagem dos alunos que participarão do Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ENABRAPSO).
Em Esquizossemiótica e Psicologia da Diferença, ele desenvolve uma metodologia que investiga as transformações do desejo a partir da relação com obras de arte, inspirando-se na Esquizoanálise, desenvolvida por Gilles Deleuze e Félix Guattari, e na Semiótica de Charles Sanders Peirce. Segundo o professor: “O desejo, nessa leitura, rompe com as estruturas dominantes de linguagem e nos permite acessar outras sensibilidades, outras formas de estar no mundo”.
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O segundo livro, Semiopsicologia da Diferença e Arte, é resultado da parceria do professor com 11 alunos do grupo de pesquisa (10 da Psicologia e 1 de Letras), que aplicam a metodologia nas obras de artistas modernos como Edgar Munch, Egon Schiele, Henri Matisse, Anita Malfatti, Pablo Picasso, Salvador Dalí e Di Cavalcanti. O livro também conta com a participação da Professora Dra. Flávia Lemos (UFPA), do Professor Dr. Manoel Ribeiro (UEPA) e alunos da Faculdade de Comunicação.

HISTÓRIA E TRAJETÓRIA
Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), Diego Marques leciona na Faculdade de Comunicação (Facom), atua no programa de Pós-Graduação em Letras (Poslet) e é colaborador da Faculdade de Psicologia (Fapsi).
Sua trajetória começou no mestrado em Psicologia na Universidade Federal do Ceará, onde estudou o drible no futebol como gesto singular e desejante. No doutorado, aprofundou o tema com uma análise semiótica e psiconeurológica de processos de criação coletiva. Ao se tornar docente, criou um grupo de pesquisa que dialoga com artistas modernos para entender a arte como aliada na construção de novos mundos. A motivação vem, principalmente, do interesse dos alunos em compor o coletivo de estudos.

“A arte serve como reterritorialização em tempos de mudança. Os artistas criam linguagem e, com isso, criam mundo”, afirma.
A metodologia do grupo incorpora a cartografia semiótica do pesquisador Fance, que permite uma leitura dos signos para além da linguagem verbal, compreendendo expressões artísticas que nem sempre representam algo diretamente.
“O que nos interessa é essa produção de desejo como potência estética, política e ética. Entender como a arte inventa vida nos ajuda a compreender como o desejo opera na criação de novos modos de existir”, completa.
O grupo de pesquisa nasceu em sala de aula, na disciplina Psicologia e Arte, quando o professor introduziu conceitos de esquizoanálise e semiótica, despertando grande interesse entre os estudantes. “Os alunos se encantaram e perguntaram se podiam continuar estudando isso comigo fora da sala. Assim nasceu o grupo”.
Nos encontros, os discentes fazem análises coletivas de obras de artistas como Munch e Di Cavalcanti, aprofundando a compreensão das formas de desejo expressas nas pinturas.
“Começamos estudando os conceitos e depois passamos a analisar juntos os quadros. Foi um movimento coletivo muito potente”, afirma Diego.
Para ele, o artista é alguém “que pensa forçado”, impulsionado por acontecimentos intensos que desestruturam modos tradicionais de existir. Inspirado pela esquizoanálise, ele destaca que “enquanto o burocrata tenta voltar ao protocolo, o artista inventa novos mundos. Ele não foge do caos, ele transforma o caos em obra”.
Nas análises, os alunos escolhem artistas cujas obras carregam a força de acontecimentos trágicos, traduzidos em ‘rede de afetos’ na pintura. “A gente chama de mente esquizo essa capacidade de mediar o caos e a imagem. O que nos interessa é esse meio: como o acontecimento se torna arte”, explica.
O entusiasmo dos estudantes tem sido o motor da pesquisa. “São os alunos que salvam o pesquisador diante de tanta burocracia. Quando eles se envolvem, tudo ganha mais sentido”, diz o professor. Motivados, os alunos se organizaram para apresentar nove trabalhos no Encontro Nacional de Psicologia Social.
Para viabilizar a viagem, montaram uma barraca no São João da Unifesspa para vender caldo e pudim, esforço que emocionou o docente: “Pensei: caralho, que coisa bonita! Aí decidi doar parte do valor dos meus livros para a gente alugar uma hospedagem legal, onde todos possam ficar juntos”.
Nesse cenário de acolhimento, o grupo cresce com o envolvimento espontâneo de estudantes de várias turmas, muitos sem ter cursado disciplinas com ele. “Isso é o mais gratificante. É um desejo que se espalha, como diz Percy, um amor que faz crescer. Eles mesmos incentivam outros colegas, se organizam, se ajudam. É uma força que nasce apesar dos silenciamentos, como um lírio brotando no asfalto”, conclui.
(Luciana Araújo)