Correio de Carajás

Prisão de vereador deixa política quente em Ipixuna

Joãozinho foi preso suspeito de ser mandante, junto com o homem que teria sido autor dos tiros que quase tiraram a vida do também vereador Régis Santana

Joãozinho foi alvo de prisão temporária na quinta-feira, em Nova Ipixuna (Foto/Reprodução)

Dois meses após sobreviver a um atentado a tiros, o vereador Régis Santana se recupera e se mostra surpreso com a prisão de seu colega da Câmara de Nova Ipixuna, João Rodrigues de Barros Filho, o Joãozinho Barros, suspeito de ser o mandante do crime. Em uma coletiva na tarde desta quinta-feira, 13, Régis detalhou sua recuperação, expressa incredulidade diante das acusações e reafirma sua confiança na justiça, enquanto a política e a comunidade de Nova Ipixuna se veem abaladas por essas revelações.

Régis Santana (à esquerda) e o irmão, Filho, deixaram claro que acreditam na Justiça

Regis e Joãozinho são membros da Mesa Diretora. A vítima é 1º secretário, enquanto o suspeito é 2º secretário do Parlamento de Nova Ipixuna.

Sobre a prisão de Joãozinho Barros, Régis destaca que nunca teve desavenças com ele, mas que sempre acreditou que a tentativa de homicídio tinha uma motivação política. “Estou no meu primeiro mandato, fui eleito em 2020 pelo MDB com 293 votos, com meu irmão que já era vereador. Desde que sofri o atentado, sempre acreditei que era um crime de conotação política,” afirma o parlamentar.

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Ele explica que, após migrar para o lado do irmão, Edvaldo Santana de Carvalho, conhecido como vereador Filho, que é pré-candidato a prefeito, percebeu um distanciamento por parte de Joãozinho. Mesmo assim, Régis nunca imaginou que isso pudesse levar a um atentado contra sua vida. Segundo ele, apesar de não haver tanta proximidade, sempre houve respeito entre ambos.

Régis detalha as circunstâncias do atentado e sua recuperação difícil. Ele ainda possui dois projéteis em seu corpo: um na perna, que pode causar paralisia caso a cirurgia seja feita, e outro no braço direito, cuja remoção está sendo planejada no Hospital Regional de Marabá. “A minha vida se bagunçou desde o dia 13 de abril. Perdi a minha liberdade, tenho medo de que os responsáveis ainda possam tentar novamente,” desabafa.

Após o atentado, ele recebeu apoio do irmão e solicitou proteção policial. “Já fizemos isso 15 dias depois do atentado. Nós demos entrada no Ministério Público Estadual, fomos até Belém, e graças a Deus, a Segurança Pública do nosso Estado mostrou um grande empenho em garantir a nossa segurança,” conta.

DEFESA

Diego Freires, advogado representando Régis Santana, também revela detalhes sobre o andamento das investigações. “A Polícia Civil do Estado do Pará pretende realizar buscas para apreender outros envolvidos. A pessoa que estava pilotando a moto ainda não foi identificada, e acreditamos que possa haver mais pessoas envolvidas,” explica.

Ele destacou a importância de manter cautela para não atrapalhar as investigações e elogiou o empenho da Polícia Civil em esclarecer o caso.

O advogado explica que a prisão de Joãozinho Barros é temporária, com um prazo de 30 dias para a autoridade policial decidir se a converterá em prisão preventiva ou se o acusado poderá responder em liberdade. Ele também confirma que Régis Santana recebeu proteção policial, concedida após um pedido ao Ministério Público e avaliada pela Secretaria de Segurança Pública.

Diego Adriano, aponta que investigação é sólida e polícia tem evidências

“A investigação é sólida e a polícia tem evidências suficientes para continuar elucidando o caso. A prisão temporária é um passo importante, mas aguardamos novos desdobramentos,” diz Diego.

CONTEXTO POLÍTICO

O atentado ocorreu em um momento de grande tensão política em Nova Ipixuna. Régis, que era locutor de carro de som antes de se eleger vereador, destaca que sua relação com Joãozinho começou a mudar quando decidiu apoiar a candidatura do irmão. “Em agosto de 2023, quando migrei para o lado do meu irmão, percebi uma mudança, não só em Joãozinho, mas em outros colegas. Eles não aceitavam minha decisão política,” comenta.

Ele acrescenta que a política local sempre foi acirrada, e que o atentado apenas reforçou suas suspeitas de que se tratava de uma ação motivada por rivalidades políticas. “Se é de cunho político, só quem pode tentar tirar a vida é o seu adversário, não seu aliado,” afirma.

IMPACTO

Ao final da coletiva, Régis expressou tristeza e decepção com a situação, mas reafirmou sua confiança na justiça. “Estou muito abalado ainda, muito triste, porque nunca passei por isso na minha vida, mas Deus tem trabalhado e tem feito com que a gente se recupere cada dia mais para a gente voltar a lutar pelo povo do município de Nova Ipixuna,” conclui.

O vereador diz que, apesar das dificuldades, continua focado em seu trabalho e no apoio à candidatura do irmão. “A política é uma luta constante, e estamos aqui para servir ao povo. Minha esperança é que a justiça seja feita e que possamos continuar nosso trabalho sem medo,” finaliza.

OUTRO LADO

O advogado Arnaldo Ramos Júnior assumiu defesa do vereador João Rodrigues de Barros Filho, o Joãozinho, e disse que o direcionamento das investigações não está no caminho certo.

Arnaldo Ramos: “Não é o momento de fazer julgamentos antecipados”

Na visão do advogado, não há motivação alguma para o vereador Joãozinho ter mandado atentar contra a vida de Régis. “Qualquer atentando a autoridade, seja do executivo, do legislativo ou do judiciário, merece uma apuração rigorosa e isenta, longe do disse-me-disse, do achismo, mas através de elementos técnicos que apontem seguramente que um investigado seja autor de um delito”.

Ainda de acordo com o criminalista, não existe motivação e nem havia animosidade entre os dois vereadores que justificasse essa conduta.

Arnaldo Ramos explica que a prisão temporária é uma espécie de prisão decretada durante as investigações, para garantir uma apuração dos fatos sem interferências, mas com prazos determinados. “Não é o momento de fazer julgamentos antecipados, ainda mais tratando-se de ano eleitoral, onde operações desse patamar influenciam a eleição”, observa, ponderando que é preciso aguardar as investigações, com neutralidade total, para que ao final a Polícia Civil possa apontar as provas produzidas que afirme a devida autoria delitiva. (Da Redação)