Correio de Carajás

Presidente do Sindecomar é afastado e acusa ex-apoiador de querer dinheiro e fazer complô contra ele

Entidade enfrenta desgaste junto à categoria há vários anos e expõe guerra interna pelo poder que parece nunca ter fim

Após o CORREIO DE CARAJÁS divulgar com exclusividade na última sexta-feira (15) uma série de denúncias em desfavor do atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Marabá (Sindecomar), Márcio Alves, ele foi afastado do cargo por unanimidade.
Em uma reunião ocorrida na manhã desta segunda-feira (18), na calçada em frente à sede do Sindecomar, na Rua Sete de Junho, no Núcleo Velha Marabá, a diretoria executiva e o Conselho Fiscal definiram, por cinco votos a zero, que Márcio deveria ser afastado em caráter cautelar e preventivo por 60 dias.
O encontro entre os colaboradores do sindicato aconteceu do lado externo porque o presidente não compareceu à reunião, e tampouco abriu as portas da sede da entidade, já que as chaves ficam com ele.
De acordo com Luciana Ferreira, suplente de Secretaria Geral, o Sindecomar possui o horário de funcionamento regular das 8h às 18h e, durante toda a segunda-feira (18), esteve de portas fechadas pois o presidente não abriu a sede.
Durante o período de afastamento – 60 dias – Márcio receberá uma remuneração de R$ 4 mil mensalmente. Os membros da diretoria consideraram o valor justo, entendendo que Márcio tem uma família para prover o sustento.
“Ele havia aumentado o próprio salário por um valor três vezes maior, sem autorização da Diretoria Executiva. Já estava em R$ 6 mil”, afirma Luciana Ferreira.
Caso Márcio Alves seja julgado inapto para o cargo, em Assembleia Geral – que deve ocorrer em até 60 dias – o presidente será afastado definitivamente da presidência da entidade.
VERSÃO DE MÁRCIO ALVES
Procurado pelo CORREIO DE CARAJÁS, Márcio Alves alegou que não estava sabendo da reunião. “Estou de repouso, minha pressão subiu, mas vou apurar isso mais a fundo”, alegou, enviando fotos do receituário e do atestado médico emitido pelo Hospital Municipal de Marabá, com data de hoje, dia 18 de outubro.
Márcio Alves enviou para a reportagem uma foto da “Declaração de Boa Fé”, assinada apenas por ele, com data de 26 de abril de 2021, sobre a compra do automóvel adquirido por ele e que se tornou alvo das denúncias feitas pela Diretoria Executiva.
“Declaro ainda, estar ciente que o fato de o veículo ter sido adquirido em meu nome, e por minha pessoa representar o sindicato, não cria direitos de propriedade ou de domínio do bem. Somente e, exclusivamente, o direito de uso do veículo para trabalhos referentes à entidade sindical”, diz o documento.
Questionado pelo CORREIO DE CARAJÁS sobre a falta da assinatura dos diretores, Márcio Alves enviou a foto de um outro documento. Dessa vez, supostamente assinado pelos demais integrantes do Sindecomar. O documento explica apenas sobre a utilização do veículo e os horários permitidos.

“Todos sabem, desde que comprei o carro ele sempre foi usado pelo sindicato. Nunca peguei (o carro) pra nada. Tenho moto e ando nela”, argumentou Márcio.

Sede do Sindecomar esteve fechada nesta segunda-feira (18) – Foto: Evangelista Rocha

O presidente afastado questiona o fato de o tesoureiro, Lenilson Pereira, estar envolvido nas denúncias junto com os demais membros da Diretoria Executiva. Ele afirma que os pagamentos e retiradas de dinheiro da conta sindical só é feita mediante autorização em conjunto do tesoureiro e presidente.
“Como que ia sair esse dinheiro que estão falando e o tesoureiro está no meio dessa mentira. Por que ele não fala a verdade? Não entendo isso!”, disse, exaltado, afirmando que se o carro fosse realmente dele, não iria deixar se acabar no trabalho.
DENÚNCIA
Ao CORREIO DE CARAJÁS, Márcio afirma que essa situação envolvendo membros da diretoria do Sindecomar começou com o intuito de tirá-lo da presidência. “Elas contaram com a ajuda do Adelmo Azevedo, que já estava pensando em me dar uma rasteira. Ele aproveitou essa situação e juntou com essas meninas para poder me tirar”.
Em sua fala, Márcio alega que Andresca Lima, secretária geral do Sindecomar, é sobrinha de Adelmo, e com ele saindo do cargo de presidente, quem sobe para a função seria a própria Andresca. “Imagine a sobrinha do Adelmo Azevedo cuidando do cofre do sindicato: a bagunça que não ia ser. Ele (Adelmo) vai no sindicato querendo dinheiro e isso não existe. Acha que tem direito porque ajudou a gente nas eleições, que temos de pagá-lo todo mês, e não é bem assim. O dinheiro é dos trabalhadores”.
Segundo Alves, Adelmo ficou com raiva por não receber dinheiro e se juntou com as diretoras. “Por isso mandei elas de volta para as empresas. Porque não serve para o sindicato gente corrupta, juntando com outro corrupto que é o Adelmo Azevedo, que ficou mais de 20 anos na presidência do Sindecomar. Tenho a minha integridade e vou provar isso”, finaliza.
ADELMO AZEVEDO
Procurado pelo CORREIO DE CARAJÁS para dar sua versão sobre a denúncia feita pelo atual presidente do Sindecomar, Adelmo Azevedo, ex-presidente da entidade, conversou com exclusividade com a reportagem.
“Não tenho nada contra o senhor Márcio Alves. Não participei de nenhuma reunião para tirá-lo do cargo. Ele foi eleito pelos votos dos trabalhadores e com muitas pessoas trabalhando para elegê-lo. Infelizmente, se isolou. Se isolou dos sindicatos de outras cidades, como Parauapebas, Rondon do Pará, Redenção e Tucumã. Inclusive, retirou o sindicato da Federação do Comércio. Ele virou as costas para todo mundo”.
Adelmo Azevedo, que já teve quatro mandatos à frente do Sindecomar, afirma que Márcio Alves foi colocado por ele dentro da entidade.
“Fiz um convite para ele ser presidente do sindicato e não um ditador. Ele é funcionário do Mateus. Achou que o Sindecomar era uma empresa e ele era o patrão. Mas ele é só o representante de uma entidade. E eu não tenho nada a ver com esse afastamento dele. Não pedi em nenhum momento para tirá-lo da entidade ou aplicar um golpe.”
O ex-presidente conta que chegou a chamar Márcio Alves diversas vezes em sua casa para orientá-lo a fazer as coisas certas. “Ele não me ouviu. Tomou as decisões sozinho e com pessoas que não foram eleitas. Infelizmente, as coisas não funcionam assim. Eu não tramei em nenhum momento para tirar Márcio Alves do sindicato”, finaliza. (Ana Mangas)

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