Correio de Carajás

Prefeitura de Marabá corta atendimento de crianças atípicas e mães protestam

Ao longo da manhã, mães atípicas se reuniram em protesto contra ação tomada pela gestão municipal/ Fotos: Tais Oliveira
Por: Kauã Fhillipe

Na manhã desta quarta-feira (8), um grupo de mães atípicas se reuniu em frente ao prédio da Defensoria Pública, no núcleo Cidade Nova, em ato de reivindicação após serem notificadas de que o benefício que garantia assistência aos filhos autistas foi suspenso de forma abrupta, sem maiores explicações pela Prefeitura de Marabá.

O benefício em questão é resultado de uma resolução do Município, que, por meio de licitação, firmou convênio com três clínicas especializadas no atendimento a pessoas com autismo. Uma dessas clínicas, segundo as mães ouvidas pelo Correio de Carajás, atendia cerca de 100 crianças e teve o convênio interrompido, causando revolta e indignação.

A estudante de Psicologia e mãe atípica, Lidiane Viana, participou da manifestação e destacou as consequências da suspensão das terapias para as crianças autistas. “Os nossos filhos dependem dessas terapias, porque são essenciais para a vida deles. É uma luta muito grande até chegar nesse vínculo que foi criado entre nossos filhos e a instituição, além de ter sido um processo muito doloroso, muito difícil para a gente conseguir essas terapias”, afirmou.

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Segundo Lidiane, a decisão do município foi tomada sem aviso prévio, e as famílias foram surpreendidas com a informação de que o convênio entre a Prefeitura e as clínicas havia sido interrompido. “Tem mães que lutaram por anos para conseguir o atendimento, e agora tudo foi cortado de repente”, lamentou.

Ela também explica que o processo de regulação proposto pela Prefeitura é burocrático e demorado, o que pode agravar a situação das crianças. Conforme a estudante, o município orientou que as famílias refaçam todo o processo de encaminhamento pelo SUS, passando por consultas com pediatra e neurologista infantil, etapas que podem levar meses. Enquanto isso, as terapias permanecem suspensas.

“Não temos rede de apoio”

Quatro vezes por semana era a rotina de atendimentos do filho de Fábia Lanuzia, dona de casa que, para garantir o tratamento do menino, precisava abrir mão do convívio com os outros dois filhos mais velhos enquanto aguardava o término das sessões. Assim como muitas mães, Fábia não conta com uma rede de apoio e precisa conciliar sozinha todas as responsabilidades da criação dos filhos. O caçula, de 5 anos, fazia acompanhamento especializado há cerca de um ano, uma conquista obtida após uma longa batalha judicial.

Fábia Lanuzia também destaca que as terapias são essenciais para o desenvolvimento dos filhos

“Depois que meu filho entrou na clínica, teve muita evolução. Os profissionais são muito acolhedores, maravilhosos. Antes ele era agressivo, hoje já não é mais; ele responde a comandos e entende melhor o que a gente fala”, relatou.

Segundo as mães, a decisão de suspender os atendimentos não partiu das clínicas, mas da Prefeitura. Elas cobram explicações sobre a motivação da medida e um prazo para que a suspensão seja revogada. Até lá, as crianças permanecem sem acompanhamento, e todo o progresso conquistado, como o do filho de Fábia, corre o risco de ser perdido com a quebra da rotina.

A Defensoria Pública confirmou às mães que deverá ingressar com uma ação judicial contra o município, solicitando esclarecimentos sobre o caso. “A gente só soube boca a boca, não chegou nenhum documento. Por isso viemos procurar os nossos direitos. Eles deram um prazo de 15 dias para resposta”, destacou Fábia.

Espera por uma justificativa

Entre as manifestantes também estava Maiane da Silva, estudante de Pedagogia, que demonstrou indignação com a postura da gestão municipal diante da suspensão das terapias. “Esse benefício ajuda muito, porque mantém nossas crianças reguladas. No dia em que recebi a notícia de que as terapias do meu filho foram suspensas, ele já apresentou crise na escola. Isso faz parte da rotina dele, e quando essa rotina é quebrada, a criança fica totalmente desregulada”, relatou.

O filho de Maiane da Silva fazia acompanhamento há menos de 4 meses e ele, após a suspensão, já apresenta crises na escola

Maiane afirmou que as mães ainda não receberam nenhum comunicado oficial sobre os motivos da suspensão e que mais de 300 famílias aguardam resposta do município. “A única coisa que a gente quer é uma explicação. Algumas mães acreditam que a intenção seja transferir as crianças para a Policlínica, mas ela não teria estrutura para atender toda essa demanda. Isso está prejudicando as crianças e até os profissionais das clínicas, que também foram afetados”, disse.

O Correio de Carajás solicitou posicionamento da gestão municipal sobre os motivos da suspensão do benefício, de quem partiu a decisão e se há previsão para a retomada dos atendimentos, mas até o fechamento desta matéria, não obtivemos resposta.

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