“Com esses preços daqui uns dias ninguém come carne. Como vai ficar o churrasco do final de semana?”, reclama o motorista Wanderson Amorim enquanto comprava um quilo de carne bovina no açougue na manhã desta sexta-feira (29), em Parauapebas. Os consumidores que procuraram o produto nos últimos dias se assustaram com o aumento do preço em mercados, onde o valor foi novamente reajustado nesta manhã, e em açougues.
O aumentou da quantidade de carne exportada pelo Brasil para a China e o longo período de estiagem foram alguns fatores que elevaram os preços. O Correio de Carajás esteve em um açougue para conferir os preços praticados em Parauapebas.
O preço do acém está custando em média R$ 18,50 o quilo, antes era R$15,50 kg. O contrafilé sai hoje por R$ 24,50 o quilo e antes custava R$ 18, já o filé chega a custar R$ 26 o quilo, antes era R$ 22 kg. A dona de um estabelecimento, Shirley do Amaral, destaca que o preço da carne bovina já vinha aumentando nos últimos meses, mas em novembro foram dois reajustes em 15 dias.
Leia mais:A proprietária do açougue conta que muitos clientes reclamam do preço da carne bovina, mas entendem que essa é uma situação que o mercado brasileiro vem enfrentando. Uma das alternativas dos clientes, diz, é optar por cortes mais em conta, como o chambari a R$ 9 o quilo, a costela mindinha que sai por R$ 15 kg ou a salsicha R$ 8,50 kg.
O que dizem os pecuaristas?
O presidente da Associação dos Criadores do Estado do Pará (Acripará), Maurício Fraga não atribui exclusivamente à China a alta dos preços da carne. Para ele, houve uma série de fatores que levou à disparada do preço, como o longo período de estiagem, e até o preço da comercialização do gado que ficou muito tempo com um desajuste e agora teve valorização.
Segundo o presidente da Acripará, essa é uma época em que há a diminuição da oferta do gado, por se tratar de um período de entressafra, saindo de um período de seca, o que acontece anualmente. Ele afirma, entretanto, que com o início do período chuvoso melhora o pasto, o que propicia a engorda do gado.
A previsão de Maurício Fraga é que os preços caiam quando houver o alinhamento entre a oferta e a demanda, o que deve acontecer apenas nos primeiros meses do ano que vem. “Não existe a possibilidade de desabastecimento da carne bovina no mercado. Não podemos colocar a China como o único fator, eles começam a comprar e Rússia deixou de comprar, então não podemos dizer que foi um fator, mas uma série de fatores que levou ao aumento do preço”, destaca.
A arroba do boi gordo está sendo praticada atualmente por R$ 210 e em outubro a arroba era R$ 160. Já no mês de agosto era R$ 148. A arroba corresponde a 15 quilos. O Pará tem quatro frigoríficos que exportam para China, nas cidades de Castanhal, Água Azul do Norte, São Geraldo do Araguaia e Rio Maria.
Economista explica fatores que levaram à alta
O economista Giliad de Souza Silva, professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), destaca que o Brasil é o maior exportador de carne bovina e é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, sendo seguido pela Austrália em relação à exportação, que passa por estiagem.
“Então você tem o Brasil como maior exportador e a Austrália como a segunda maior exportadora, mas a Austrália está sofrendo um movimento de seca que reduziu a produção pelos pecuaristas de proteína animal”, explica.
O outro fator para o aumento dos preços, segundo o especialista, é que os Estados Unidos, terceiro maior exportador de carne, está travando uma guerra comercial com a China, que é o maior comprador de proteína animal do mundo e, portanto, não tem comprado dos EUA.
Mais um ponto é que não havia expectativa de aumento de demanda da proteína animal no Brasil. “Por isso não houve um ajuste na oferta e na procura de proteína animal pelos pecuaristas, o que teve foi um crescimento na produção do gado de corte, mas não a ponto de acompanhar a demanda da China ou de outros países que também demandaram”, diz, acrescentando que a Ásia está sofrendo com a chamada peste suína que matou quase oito milhões de porcos.
Giliad de Souza cita que alguns frigoríficos que não tinham autorização de venda para China passaram a ter, uma média de 102. “A tendência é que o preço saia do seu nível de regulação e dispare. Acredito que vai acontecer nos próximos períodos um incentivo para ter cada vez mais pecuaristas visando aumentar a produção e em um dado momento vai conseguir acompanhar este surto no aumento da demanda, é provável que aconteça do meio para o fim do primeiro trimestre do ano que vem. Daqui até lá a tendência é que os preços continuem bastante elevados”, explica o economista.
O que diz o governo
Ao jornal O Estado de S. Paulo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou nesta sexta que o preço da carne não deve cair, contradizendo o presidente Jair Bolsonaro havia afirmado em live no Facebook nesta quinta. Conforme o presidente, a mesma ministra teria garantido que “em três ou quatro meses” o preço voltaria à normalidade.
Já o governo do Estado do Pará informou que as entidades representativas dos setores pecuário e supermercadista garantem que não há risco de desabastecimento de carne bovina no estado. (Theíza Cristhine)