Correio de Carajás

‘Preciso medicá-lo para dormir’, diz mãe de menino que teve dedos decepados em escola de Portugal

A paraense Nivia Estevam, que mora em Portugal, relatou que o filho já sofria outras agressões anteriormente. "Puxões de cabelo, pontapés e já chegou com marcas físicas no pescoço", diz em entrevista. Segundo ela, José era agredido por ser brasileiro e negro

Menino teve dedos decepados na escola — Foto: Arquivo pessoal

A soldadora brasileira Nivia Estevam, 27, viveu um dos momentos mais assustadores da sua vida quando descobriu que seu filho, José, de 9 anos, teve dois dedos decepados enquanto estava na Escola de Fonte Coberta, em Cinfães, no Distrito de Viseu, em Portugal. Ela foi avisada pela instituição, mas apenas quando chegou no hospital entendeu a gravidade do ferimento. “Fiquei — e ainda estou — em choque”, disse.

Ela e o filho se mudaram de Belém, no Pará, para Souselo há sete anos. O menino começou na escola em setembro deste ano e já havia se queixado de outras agressões anteriormente. “Ele já havia reclamado para a professora sobre puxões de cabelo, pontapés e, em 5 de novembro, eu mesma fiz, via mensagem, uma queixa, pois ele chegou com marcas físicas no pescoço e disse que foi um menino que tentou enforcá-lo”, conta. Segundo ela, José era agredido por ser brasileiro e negro.

O episódio mais grave, no entanto, ocorreu na última segunda-feira (10). “Foi no primeiro intervalo para o lanche. Eles foram liberados e ele estava com vontade de fazer xixi, então, foi ao banheiro antes de lanchar. Assim que entrou, dois colegas de turma entraram logo atrás. Quando ele foi fechar a porta da cabine, as duas crianças empurraram a porta. Acredito que a intenção era amedrontá-lo e prendê-lo lá dentro, mas a mão dele estava no vão da porta e os dedos foram amputados imediatamente”, diz.

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“As crianças ainda seguraram a porta, ele gritou, perdeu muito sangue e, como não tinha força para abrir a porta, num ato de desespero, de sobrevivência, ele se arrastou por debaixo da porta. Foi quando as crianças correram. Ele disse ter sentido uma dor enorme, muito medo de morrer, pois sangrou muito”, acrescenta. Quando conseguiu sair do banheiro, gritou por socorro e pediu ajuda para os funcionários da escola.

‘Fiquei — e ainda estou — em estado de choque’

 

Quando soube do incidente, a professora ligou para Nivia, que foi correndo para a escola. Segundo ela, ambulância foi chamada e demorou cerca de 30 minutos para chegar. “Ainda passamos mais de 30 a 40 minutos na frente da escola, por protocolo, escolhendo o melhor hospital”, conta. Inicialmente, ela não sabia da gravidade da situação, só compreendeu o quadro do filho quando chegou ao hospital. “Fiquei — e ainda estou — em estado de choque, mas precisei me manter firme para não passar para o meu filho”, destaca.

O garoto passou por cirurgia, mas não foi possível reimplantar os dedos decepados . José parte do indicador e do dedo do meio. “Os médicos puxaram a pele do dedo para cobrir o que está faltando e utilizaram a pele do único dedo que a escola mandou para cobrir o osso. Foram colocados dois ferros para segurar a pele e o osso. Ele está com a mão enfaixada e só poderá tirar com os cirurgiões plásticos dia 23 de novembro”, explica.

José no hospital — Foto: Arquivo pessoal
José no hospital — Foto: Arquivo pessoal

‘É preciso medicá-lo para ir dormir’

 

José recebeu alta no dia seguinte. “Ainda não voltamos para nossa casa, estamos na casa da minha sogra, em outro distrito, por medo da nossa integridade física”, lamenta a mãe.

Nivia e José — Foto: Arquivo pessoal
Nivia e José — Foto: Arquivo pessoal

O pequeno está se recuperando, mas Nivia afirma que ele ainda sofre com sequelas do acidente. “Ele toma remédios para dor e antibiótico de 12 em 12 horas. Passa o dia bem, pois deixo ele mexer no celular e assistir TV, mas quando chega a hora de dormir, ele volta aos acontecimentos do dia 10. Só chora e é preciso medicá-lo para ir dormir”, conta.

Segundo Nivia, a escola disse que foi apenas uma “brincadeira que deu errado”, que “eram coisas de crianças”. Mas a mãe, claro, ficou indignada. “Estou recebendo ajuda jurídica e pretendo entrar em tribunal para obter justiça”, destaca. “Ele não voltou à escola desde o ocorrido, nem irá voltar. Já estamos procurando outra [escola]”, finaliza.

(Fonte: G1/ Crescer)