Viva o Verão! Viva a temporada de pipas (ou papagaio) em Marabá. Se na cidade é preciso atenção para empinar o brinquedo adorado por crianças e adultos, na praia também é preciso se acercar de cuidados para não ferir pessoas ou causar acidentes.
Embora democrática e com espaço para todos os amantes desse esporte que chegam por lá, a Praia do Tucunaré faz, naturalmente, uma divisão geográfica entre os pipeiros “nutella” e os “raiz”. É uma espécie de reforma agrária, só que na areia.
Leia mais:É preciso esclarecer para os menos cibernéticos, que a expressão Raiz x Nutella tornou-se um meme que compara como as pessoas faziam as coisas antigamente (do jeito raiz), com o modo que as pessoas fazem hoje, cheio de frescura e cuidados (nutella).
O meme brinca com o fato de que hoje em dia as coisas são muito mais “gourmetizadas”, e por isso usa o termo Nutella, se referindo à famosa marca de creme de avelã. Enquanto isso, no passado era tudo mais complicado, de modo mais rústico, feito “na raça”.
E na Praia do Tucunaré, os empinadores de pipa nutella ficam próximo à margem do Rio, geralmente na sombra de uma barraca ou perto dos pais, empinam pipas que voam baixo para não serem cortadas pelos raiz. A mãe fica por perto, vigia, passa protetor solar e leva até água para não desidratar de tanto sol na moleira.
Já os pipeiros raiz vão para o meio da praia depois do almoço, onde não há sombra nem de um sarã, não usam boné e praticamente todos passam cerol na linha para competição inacabável para ver quem derruba mais e vira o “Rei da Praia”.
Para isso, há expectadores, crianças e adolescentes que não levam nenhuma pipa para a praia (de propósito) e ficam assistindo para ver quem perde uma batalha para correr e pegar a pipa.
É o caso de Ronan Pantoja Cunha, nove anos de idade, que no domingo, dia 14 de julho, conseguiu juntar sete pipas que foram arrematadas no ar. “O vento leva, a gente corre sem parar até segurar a linha. Depois disso, ninguém pode tomar mais”, explica o garoto sobre as regras do jogo.
Miqueias Souza, de 23 anos, usa um carretel gigante com uma linha de 300 metros de extensão, marcada pelo cerol. Ele diz que todo domingo passa a tarde na praia apenas para empinar pipa. No meio da entrevista, pergunta se é para falar mal ou bem dos pipeiros. “A gente só tem visto reportagem falando coisa ruim da gente. A única palavra que vejo é ‘cerol’…Por que não dizem como tanta gente gosta, como se constrói uma pipa”, sugere.
No meio da praia, onde os pipeiros raiz se espalham, não há registros de acidentes. Em imagens feitas com drone é possível mensurar que há mais de 200 deles empinando pipa na praia entre as 14 e 18 horas, quando o vento é mais forte e favorável. Mas desde as 11 alguns já ficam por lá.
Voltando ao lado dos pipeiros nutella, encontramos desde bebês de colo, passando por alguns de um ano, dois e até pré-adolescentes. Tá certo que eles precisam mesmo da proteção dos pais e aprender a não usar cerol, mas certamente um dia alguns deles passarão para o “lado da força” e aprenderão o vocabulário dos pipeiros, como reproduzimos logo abaixo. (Ulisses Pompeu)
Vocabulário do Pipeiro
Solta pipa é hoje uma atividade que possui até vocabulário próprio. Fazem parte dele palavras como:
Aparar – Pegar com sua pipa uma outra pipa no ar;
Arriar – Abaixar a pipa para recolhê-la ou cortar outra;
Arrematar – Quando um pipeiro tenta cortar o outro;
Chapar ou embolar – Encontro de duas pipas de modo que se enrosquem sem se cortar,
Corrupio – Pipa rodando no alto;
De bicar – Movimento contrário, para baixo;
De menas – Quando um dos participantes do cruze está com menos linha.
Estancar – Quando acidentalmente a linha da pipa arrebenta.
Fazer à cata – Cortar várias pipas;
Pipa Voada – Pipa que foi cortada e ainda está no ar; Tentear – Usar uma das mãos para dar puxões na linha fazendo a pipa subir;
Tá na minha! – Expressão usada quando se consegue pegar uma pipa voada primeiro;
Voar – Um outro pipeiro consegue cortar sua linha.