Correio de Carajás

Povo Akrãtikatêjê ganha 500 mudas de castanha do Projeto Reviver

Indígenas vão reflorestar grande área conquistada por meio judicial com espécies florestais e frutíferas

A comunidade indígena Akrãtikatêjê da Montanha, a 10 km de Morada Nova, acaba de receber 600 mudas para ajudar a reflorestar parte de uma área de 3.600 hectares que eles ganharam na Justiça Federal, onde funcionou a Fazenda Mabel (em Nova Ipixuna). São 500 mudas de castanha-do-pará e 100 de açaí, doadas pelo Projeto Reviver, em parceria entre a Fundação Casa da Cultura de Marabá e Secretaria Municipal de Agricultura.

A entrega das mudas contou com a presença da juíza Renata Guerreiro, titular da 1ª Vara Criminal de Marabá; da cacique Katia Silene, do povo Akrãtikatêjê; da presidente da FCCM, Vanda Américo; e do representante da Promotoria Ambiental, Antônio dos Santos Motta.

Comunidade indígena celebra a doação das 600 mudas para reflorestamento

A entrega aconteceu na última quinta-feira, 28 de outubro, na nova área a ser reflorestada e as partes comemoraram a parceria. Vanda Américo destaca que o objetivo da ação foi contribuir com o processo de reflorestamento da área, retomada pelo povo Akrãtikatêjê no dia 19 de maio deste ano.

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“O Projeto Reviver vem atuando em áreas indígenas degradadas, sempre com apoio da Justiça, Ministério Público Estadual e Seagri. Para alguns, 600 mudas podem parecer pouco, mas é um começo significativo”, explica Vanda.

A presidente da FCCM, que é vereadora licenciada, lembra que o povo indígena Suruí, menos favorecidos financeiramente nesta região, já foi beneficiado pelo Projeto Reviver e há monitoramento daquilo que já foi plantado nos últimos anos.

Mas Vanda ressalta que a pequena comunidade Akrãtikatêjê já recebeu, em sua sede tradicional, contribuição do Projeto Reviver, com doação de mudas de espécies frutíferas, além da implantação de um poço artesiano para essa finalidade. “A Kátia e seus irmãos vão fazer um trabalho de reflorestamento a médio e longo prazo. Essa cacique faz um grande empenho em prol do seu povo. Ela não para e está sempre buscando investimentos para aldeia. A grande missão dessa nova área é revitalizá-la e torná-la produtiva, retirando o imenso pasto e recompondo com castanheiras, piranheiras, jatobá, taturubá, mogno, cedro, sapucaia, entre outras espécies da região”.

As mudas nasceram a partir de sementes de “castanhas de leite”, selecionadas pelos próprios indígenas Akrãtikatêjê.

povo já tinha demarcado como terra do povo Gavião-Acrãqricatejê e a gente foi expulso da nossa terra, devido o interesse do estado construir projeto e a gente foi expulso e demorou uns 40 anos em uma luta contra a Eletronorte para receber essa terra que vem se arrastando a muito tempo.

“Nos fortalecemos pela  luta de nossos pais”

 

Líder inconteste do povo Akrãtikatêjê da Montanha, que habita a Terra Indígena Mãe Maria, a cacique Kátia Silene da Costa Valdenilson explica que a terra de 3.600 hectares que ganharam este ano na Justiça Federal, é fruto de uma luta de 40 anos de seu povo.

Cacique Kátia Silene: “Quando plantamos uma castanheira ou outra árvore, estamos curando a terra”

“Meu pai, grande cacique Payaré, não chegou a ver essa conquista, mas estamos aqui hoje assentados nesta terra. Esse é o legado que ele deixou. Vamos reflorestar e fortalecer a história do nosso povo”, diz Kátia.

Segundo ela, durante os 40 anos de luta e resistência, seu povo se fortaleceu, desde que foram tangidos que foi alagada para construção do reservatório da Hidrelétrica de Tucuruí. “A gente tinha lá grandes castanhais, muitas frutas, muita madeira também, mogno, a gente era um povo rico e farto, e vivíamos na beira do Rio Tocantins. A gente sofreu, mas o sentimento serviu como resistência de luta do nosso povo”.

Na visão do povo Akrãtikatêjê, quando eles plantam uma castanheira ou outra árvore, estão curando a terra. “A nossa terra está doente assim como nós mesmos. Quando você planta, você está construindo um novo mundo, um novo caminho e procurando novas soluções”.

Segundo Kátia, seu pai tinha medo que o povo Akrãtikatêjê ficasse refém da mineradora Vale, cuja ferrovia passa dentro do território indígena.

 

“Meu pai tinha medo que nós ficássemos sedentários e reféns dessa empresa. Ele sempre ensinou um caminho novo, de trabalho, de buscarmos autonomia e de nós podermos dizer que isso aqui é nosso. Esse foi o legado que deixou para nós, de construção e de sempre estar plantando e buscando o melhor para todos”.

Kátia agradece o apoio que seu povo vem recebendo do Projeto Reviver, citando nominalmente os nomes de Vanda Américo, juíza Renato Guerreiro e da promotora Josélia Leontina de Barros. “São três mulheres de palavra e de coragem. Estão sempre de braços abertos para nos apoiar”, elogia.

 

Juíza enaltece força dos povos indígenas

 

A Juíza Renata Guerreiro, titular da 1ª Vara Criminal da Comarca de Marabá, explica que apoia os projetos Reviver e Sarã, que têm contribuído com a proteção ambiental em terras indígenas e em ilhas do Rio Tocantins, respectivamente.

Juíza Renata Guerreiro: “Nosso propósito é ir muito além da sala de audiência, é fazer parte de projetos como o Reviver”

“Esse é um projeto de iniciativa da Fundação Casa da Cultura de Marabá que envolve uma proposta multiinstitucional e multidisciplinar. Nós fomos chamados em função da proposta de conscientização ambiental de uso racional e sustentável do meio ambiente”, explica.

Ela explica que a 1ª Vara Criminal de Marabá recebe os problemas decorrentes do mau uso dos recursos naturais, quando ocorrem os crimes ambientais. “Aderimos a esses projetos dentro dessa perspectiva de uma atividade preventiva e de conscientização, para evitar que esses crimes aconteçam”.

Para a magistrada, presenciar os indígenas alegres pela conquista de uma terra pela qual lutavam há década é um sentimento de felicidade e de justiça.

“Passados tantos anos, agora estão de volta às suas origens. Agora há muito trabalho a ser realizado e assim como o homem foi capaz de destruir e devastar, esse mesmo homem é capaz de reconstruir, de reflorestar e de devolver à sociedade o meio ambiente para que possamos ter as gerações futuras com uma qualidade de vida bem melhor do que a que estamos hoje vivenciando”, contemporiza.

E o sentimento que fica é de justiça e especialmente por mim que faço parte do poder judiciário um orgulho de ser magistrada e de fazer parte dessa instituição que tem essa missão de conferir e de garantir os direitos seja dos indígenas ou da sociedade em geral.

A juíza Renata Guerreiro diz que vai continuar lutando para apoiar os povos indígenas da região. “Nosso propósito é ir muito além da sala de audiência, é fazer parte de projetos como esses (Reviver e Sarã) e muitos outros que tenham o objetivo de resgatar e garantir a dignidade das pessoas e uma vida melhor para todos nós”. (Ana Mangas e Ulisses Pompeu)