- Enganoso
- É enganoso post no Twitter que diz que o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomendou a suspensão da imunização com a vacina da Janssen. A interrupção ocorreu em abril e, no mesmo mês, a vacinação foi retomada.
- Conteúdo verificado: Post no Twitter, publicado em agosto, afirma que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos acaba de aconselhar a suspensão da aplicação da vacina contra a covid-19 da Janssen. A publicação compartilha uma reportagem do jornal El País de abril.
É enganosa a postagem feita pelo empresário e presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paul, Otávio Fakhoury, no Twitter afirmando que a aplicação da vacina da Janssen acabou de ser suspensa pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Na verdade, a interrupção do uso do imunizante ocorreu em 13 de abril e durou apenas 10 dias. Portanto, quando o empresário fez o tuíte, a situação já havia sido normalizada havia pelo menos quatro meses.
A publicação ainda diz que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria se manifestar sobre o caso. Porém, o imunizante só começou a ser utilizado no Brasil em junho, quando as primeiras doses chegaram ao país e a aplicação já tinha sido retomada nos Estados Unidos.
O Comprova entrou em contato com Otávio Fakhoury pelo Facebook e pelo Instagram. Logo após a solicitação de contato, o post foi excluído e substituído por outro no qual ele alega que a suspensão temporária seria prova do caráter experimental das vacinas – o que também é enganoso.
Leia mais:Por meio da assessoria de imprensa do empresário, ele entrou em contato com a reportagem e afirmou que o primeiro post foi um erro e que, ao perceber, ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção. Quanto à afirmação de que a vacina é experimental, Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial. Além disso, afirmou que os posts em seu Twitter se tratam de opinião e não têm a intenção de espalhar mentiras ou enganar ninguém.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. O fato do autor do tuíte ter apagado a publicação considerada enganosa não interrompe a investigação do Comprova. Esta verificação está sendo publicada para esclarecimento das pessoas que tiveram acesso ao tuíte enganoso.
Como verificamos?
O Comprova leu a notícia compartilhada pelo empresário para ver se seu contexto original foi respeitado e notou que ela era antiga. Em vista disso, consultou os sites dos órgãos reguladores citados para conferir o desfecho do caso envolvendo o imunizante da Janssen.
A reportagem assistiu à sessão da CPI da Pandemia para entender o contexto da publicação do empresário e a sua relação com o que foi dito pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE). O parlamentar disse que Fakhoury não perdia a oportunidade de desinformar sobre as vacinas.
Por fim, procuramos o empresário para comentar.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de agosto de 2021.
Verificação
Suspensão temporária das vacinas Janssen
O empresário compartilhou uma notícia da versão brasileira do jornal El País que dizia que “Autoridades dos EUA recomendam interrupção da aplicação da vacina Janssen contra a covid-19 após casos de trombose”. Sem dizer que ela foi postada em 13 de abril, a postagem é enganosa por levar a entender que a situação é atual. Apesar disso, a suspensão já havia sido revogada quatro meses antes.
Em 13 de abril, o Centro de Controle de Doenças e a Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA), as duas agências regulatórias dos Estados Unidos, emitiram uma nota conjunta para suspender temporariamente a aplicação da vacina produzida pela Janssen. A nota dizia que haviam sido relatados seis casos de uma mistura rara de coágulos com queda no número de plaquetas.
Àquela altura, 6,8 milhões de pessoas já haviam recebido a vacina. Os casos eram um por milhão de vacinados. Como isso poderia ser sinal de um efeito colateral extremamente raro, a pausa foi sugerida para que os técnicos pudessem investigar os casos.
Isso é um procedimento normal de segurança. As vacinas passam por rigorosos testes em milhares de voluntários que avaliam a eficácia e a segurança delas. Mesmo assim, ainda é possível que elas tenham efeitos colaterais extremamente raros, que só poderiam aparecer quando a vacina é aplicada em milhões de pessoas. Por isso, os órgãos regulatórios mantêm mecanismos de vigilância dos efeitos colaterais mesmo após a autorização.
A pausa da aplicação durou dez dias. Em 23 de abril, os dois órgãos divulgaram que o estudo dos casos permitiu concluir que os coágulos realmente estavam relacionados com a vacina da Janssen. No entanto, reconheceram que a chance deles ocorrerem é “muito baixa” e determinaram a retomada da aplicação.
“A FDA considera que os benefícios conhecidos são maiores do que os riscos conhecidos em indivíduos acima dos 18 anos”, informou a agência. Ela também anunciou que manteria o sistema de vigilância para detectar eventuais aumentos nos riscos trazidos pelo imunizante. A possibilidade de coágulos foi incluída na bula como um efeito colateral muito raro (abaixo de 1 caso para cada 10 mil).
No tuíte apagado, o empresário pede que a Anvisa “se manifeste”. É importante lembrar que embora tenha recebido autorização para uso emergencial em 31 de março da Anvisa, as primeiras doses da Janssen só chegaram no Brasil em 22 de junho – dois meses após sua aplicação ter sido retomada nos Estados Unidos.
Por telefone, Fakhoury disse que o primeiro post, que dava a entender que a suspensão da vacina tinha ocorrido recentemente, foi um erro e que ao perceber ele excluiu a publicação e fez uma nova com a correção.
Vacinas em uso foram testadas e aprovadas
Em seu segundo tuíte, o empresário alega que as vacinas são “experimentais”. Fakhoury disse se referir ao fato do imunizante ter sido aprovado em caráter emergencial e que os posts em seu Twitter se tratam de opinião. “Eu faço opinião, não trato como a publicação de um jornal. Eu não sou contra a vacina. A vacina tem que ser disponibilizada a todos, mas os riscos têm que ser explicados e cada um decide se vai tomar. Ninguém quer mentir ou enganar ninguém. Eu tenho opiniões e tem gente que não gosta”, afirmou.
No Brasil, quatro vacinas estão aprovadas para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Pfizer e a AstraZeneca têm autorização para uso definitivo. Já Coronavac e Janssen têm autorização para uso emergencial.
De acordo com a Anvisa, nesse tipo de autorização, as vacinas continuam a ser avaliadas e só podem ser usadas pelo governo, não podendo ser comercializadas por clínicas e laboratórios. Apesar da autorização ser concedida de forma mais rápida, a agência exige que o imunizante tenha finalizado todos os testes e comprovado sua eficácia e segurança.
Já a FDA explica que a aprovação em caráter emergencial é mais rápida, mas todos os dados disponíveis são avaliados antes de concedê-la. “Uma vez submetida, o FDA avaliará a solicitação e determinará se os critérios legais relevantes foram atendidos, levando em consideração a totalidade das evidências científicas sobre a vacina que estão disponíveis.” Entre esses critérios, estão dados de segurança e eficácia.
Todas as vacinas em uso já terminaram as três fases de testes em humanos exigidas pela Anvisa e pelas principais agências reguladoras do mundo. A Janssen terminou os testes em janeiro de 2021 e conseguiu uma eficácia global de 66%; a Coronavac também finalizou os testes em janeiro e conseguiu a eficácia de 50,38%; a Pfizer terminou os testes ainda em novembro de 2020 e conseguiu eficácia de 95%; e a AstraZeneca em janeiro, com 82% de eficácia.
O autor do post
Otávio Fakhoury é um empresário e financista apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desde julho de 2021, é também presidente do diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em São Paulo.
Fakhoury é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) em inquéritos que apuram a atuação organizada na divulgação de fake news e na promoção de atos antidemocráticos. O empresário já financiou um dos blogs alvo da Polícia Federal e que já teve conteúdos checados pelo Comprova. Em entrevistas anteriores, o empresário afirma que o inquérito das fake news é “cerceamento à liberdade de expressão”.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O post verificado aqui teve mais de 1,5 mil interações no Twitter antes de ser apagado.
Conteúdos enganosos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.
O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 33 diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.