Correio de Carajás

Post engana ao afirmar que atentados contra Trump e Bolsonaro foram forjados

Enganoso
Post engana ao afirmar que o atentado a tiros contra Donald Trump em 13 de julho e a facada sofrida por Jair Bolsonaro (PL) em 2018 foram forjados. A publicação, com fotos dos políticos atingidos, usa trecho da novela “O Bem Amado”, da TV Globo, exibida 1973, em que o protagonista, um prefeito, planeja um atentado contra ele mesmo para conquistar apoio. Não há nenhuma evidência de que os atentados contra os ex-presidentes tenham sido armados. No atentado contra Trump, que foi atingido na orelha, outras duas pessoas ficaram feridas e duas morreram (uma era o autor dos disparos). O caso está sendo investigado. Sobre o atentado contra Bolsonaro, há diversas imagens do momento do crime. Ele foi operado em São Paulo e já passou por ao menos quatro cirurgias decorrentes da facada. A Polícia Federal concluiu que Adélio Bispo, autor da facada, agiu sozinho.

Conteúdo investigadoPost com a legenda “O golpe” e fotos do ataque a tiros contra Donald Trump e da facada em Jair Bolsonaro, em 2018. A publicação traz também um vídeo com cenas da novela “O Bem Amado” em que um personagem trama um falso ataque contra ele mesmo para ganhar a opinião pública.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O ataque a tiros contra Donald Trump em 13 de julho provocou uma onda de desinformação nas redes sociais, como ocorreu quando Jair Bolsonaro (PL) foi atingido por uma facada durante a campanha eleitoral de 2018. Um dos conteúdos enganosos, com a legenda “O golpe”, usa imagens dos ex-presidentes atingidos e um trecho da novela O Bem Amado, da TV Globo, de 1973, para afirmar que os tiros e a facada foram forjados. Na cena, o personagem Odorico Paraguaçu, prefeito da cidade fictícia Sucupira, planeja um falso ataque contra ele mesmo em busca de apoio dos eleitores.

Leia mais:

Não há evidências de que o atentado contra Trump tenha sido forjado. O republicano, que foi presidente dos Estados Unidos entre 2017 e 2021, entrou na disputa novamente e, durante um comício em 13 de julho, em Butler, na Pensilvânia, foi atingido de raspão na orelha (não se sabe se por uma bala ou estilhaços). Ele saiu do palco em que discursava cercado por seguranças e com sangue no rosto. O atentado deixou outras vítimas – duas pessoas morreram (o autor dos disparos entre elas) e outras duas ficaram feridas.

O Departamento Federal de Investigação (FBI) divulgou que o responsável pelos tiros foi Thomas Matthew Crooks, de 20 anos. Ele trabalhava como auxiliar de cozinha e foi morto no local do atentado por um agente do Serviço Secreto dos Estados Unidos. O FBI conseguiu acesso ao celular do atirador e está em busca de informações sobre o que motivou o crime. Além disso, cerca de 100 pessoas já foram entrevistadas. A investigação continua em andamento.

Já o caso da facada em Bolsonaro, ocorrido há seis anos, foi finalizado no mês passado pela Polícia Federal, que concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho. Era 6 de setembro de 2018 e o então candidato à presidência fazia uma caminhada com apoiadores no centro de Juiz de Fora, em Minas Gerais, quando Adélio, então com 40 anos, lhe deu uma facada. Como o Comprova já mostrou, ele tentou fugir após o ataque, mas foi impedido pelas pessoas no local e, posteriormente, levado à PF, que o autuou em flagrante pelo crime.

À época, mesmo com diversas imagens do ataque, captadas de ângulos diferentes, uma das teorias enganosas era a de que Bolsonaro tinha um câncer no estômago e o ataque teria sido simulado, para que ele fosse operado sem que a doença fosse descoberta. O médico Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, responsável pela cirurgia decorrente da facada, realizada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, negou que ele tivesse câncer. Desde então, o ex-presidente já foi operado ao menos quatro vezes para tratar complicações da facada.

O perfil que publicou o conteúdo foi procurado, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 18 de julho, a publicação tinha 209 mil visualizações, mil compartilhamentos e 6 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre os dois casos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi checado pelo Estadão Verifica. O Fato ou Fake, do G1, mostrou que uma foto de agentes do Serviço Secreto dos Estados Unidos sorrindo durante o atentado contra Trump foi manipulada. A AFP publicou matéria desmentindo uma série de teorias infundadas que surgiram nas redes sociais sobre o assunto, como identidades falsas do atirador e buraco de bala no terno do candidato.

O Comprova também já publicou outras verificações relacionadas a eleições e política, como o caso em que um vídeo de pessoas presas por lavagem de dinheiro em El Salvador foi usado de forma enganosa para afirmar que o grupo era formado por ex-membros da Suprema Corte do país. Outra verificação mostrou que um post engana ao tratar a quantidade de brasileiros no exterior como fluxo migratório recente.

Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.