Assim que o Portal Correio de Carajás tomou ciência da história da Thalyta Yasmim Gouveia Nunes – a jovem estudante que aos 14 anos é apaixonada por leitura e sonha em ter uma estante para guardar seus livros – a reportagem convidou Airton Souza, 39 anos, escritor marabaense com mais de 40 obras publicadas, para que ele pudesse conhecer a menina. Nada mais justo do que promover um grande encontro entre escritor e leitora.
Com a ajuda da equipe técnica da Escola Municipal Inácio de Souza Moita, em especial da professora de Língua Portuguesa, Luciana Furtado, Airton Souza e a equipe do Correio de Carajás adentraram à sala de aula do 9º ano C, da qual Thalyta faz parte.
Além de alguns livros de sua autoria, Airton presenteou Thalyta com o livro “A República”, de Platão, que era uma das obras que a adolescente mais tinha vontade de ler. “Saber que uma menina de 14 anos conhece coisas que eu não tive a oportunidade de conhecer, como Platão, me deixa muito feliz. Ela desejava ter o livro A República, e eu com a idade dela nem imaginava que existia um filósofo chamado Platão. Estou com vontade de chorar. Fiquei muito emocionado porque a história dela é muito parecida com a minha”, diz ele com a voz embargada.
Leia mais:Todos os alunos da sala ficaram vidrados com a cena. Airton aproveitou a oportunidade e falou da importância da leitura e de como os livros mudaram sua vida, através dos estudos, da dedicação e da força de vontade. “Eu estava condenado à morte. A escola pública e os livros me salvaram”, sintetizou ele.
Ao Portal Correio de Carajás, o escritor afirma que se enxergou em Thalyta por suas histórias serem tão parecidas, menina da periferia que luta para escrever sua própria história. “Ela vai ser muito mais do que eu, pode ter certeza, e é isso que me deixa mais feliz nesse momento. Talita já consegue ver coisas que aos 14 anos eu não tinha condições psicológicas, emocionais e nem socio-históricas de enxergar. Ela vai longe”, profetiza o artista.
Muito emocionado em poder contar sua história em uma escola pública e presenciar a determinação de Thalyta, Airton admite que aquela manhã foi de arrepiar. “Espero que surjam mais Thalytas nas escolas de Marabá. Precisamos transformar essa cidade e mostrar que o livro é importante. Essa adolescente meia e focada veio nos dizer exatamente isso: enfrentar as situações adversas através das coisas mais bonitas que existem no mundo, como a literatura”, finaliza.
O encontro não foi apenas entre Thalyta e Airton. Os colegas também se emocionaram. Boa parte deles não sabia da história de determinação daquela menina tímida com quem compartilhavam, há alguns meses, os espaços da escola, como sala de aula, pátio, entre outros. Com dois anos de pandemia, uma parte dos alunos, como Thalyta, veio de outras escolas públicas e privadas. Como as aulas estavam sendo on-line, eles pouco sabiam uns sobre os outros.
Agora, vão se separar de novo, porque em 2022 vão cursar o ensino médio e no bairro só tem esse nível de ensino à noite. Thalyta é uma que está de mochila pronta para o Oneide Tavares, na Folha 30. “Eu queria continuar estudando aqui, mas só tem ensino médio à noite. A viagem da escola para minha casa é longa e perigosa à noite. Não vou me arriscar”, explica. (Ana Mangas)