Correio de Carajás

Por que é difícil substituir o Brasil no fornecimento de café aos EUA

Brasil responde por 44% da produção global de café do tipo arábica, o mais comprado pelos norte-americanos, e detém um terço do mercado dos EUA. Concorrentes têm colheitas significativamente menores.

Foto: Freepik

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no último dia 9 que os produtos brasileiros passarão a ser taxados em 50% a partir de 1º de agosto.

A tarifa pode tornar inviável a exportação de alguns itens brasileiros para o país. É o caso do café, que tem seu maior consumo mundial justamente nos Estados Unidos.

Os EUA dependem do grão brasileiro para atender à alta demanda de sua população pela bebida. Se as exportações forem afetadas, o país precisará buscar novos fornecedores.

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Não será uma tarefa fácil. Veja por quê:

  • Os EUA são os maiores consumidores da bebida no mundo, mas não têm produção significativa e dependem do produto importado.
  • O Brasil é o principal fornecedor do café para os EUA e detém cerca de um terço do mercado norte-americano.
  • Os outros grandes exportadores de café têm uma produção bem menor do que o Brasil, especialmente do tipo arábica, a variedade que os EUA mais compram.
  • Até o momento, entre os cinco maiores produtores de café arábica, apenas o Brasil teria a taxa aumentada em agosto. Hoje, o país é taxado em 10%, assim como os concorrentes Colômbia, Etiópia, Honduras e Peru.

Quem são os concorrentes do café brasileiro?

 

O Brasil é o maior produtor de café do mundo, com quase 65 milhões de sacas de 60 kg na safra 2024/2025, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. O segundo colocado foi o Vietnã, com 29 milhões.

Mas o Vietnã produz quase exclusivamente café robusta, diferente do arábica, que é o mais importado pelos EUA. Com isso, a concorrência direta fica restrita a poucos países, com vantagem ainda maior para o produto brasileiro.

Na última safra, o Brasil produziu mais de 43 milhões de sacas de café arábica, equivalente a 44% da produção mundial. A Colômbia, segunda colocada, colheu 13,2 milhões – menos de um terço da produção brasileira. Etiópia, Honduras e Peru vêm depois, com volumes menores.

Os 5 maiores produtores de café arábica do mundo — Foto: Luisa Rivas/Arte g1
Os 5 maiores produtores de café arábica do mundo — Foto: Luisa Rivas/Arte g1

Fernando Maximiliano, analista da consultoria StoneX Brasil, lembra que o Brasil vende cerca de 8 milhões de sacas de café aos Estados Unidos todos os anos.

“A Colômbia, segundo maior produtor, não teria esse café todo para suprir os 100% do que o Brasil deixaria de fornecer. Então, os EUA teriam um desafio bem grande pela frente”, resume o especialista.

Ele explica que, sem outro grande fornecedor de arábica, os EUA poderiam aumentar a compra de robusta e alterar a composição do café vendido. “Ou então buscar o arábica de outro país, mas não vai ser fácil”, completa.

O impacto para importadores e exportadores

 

Os EUA produzem só 1% do café consumido por sua população, o que gera a dependência do produto que vem de fora.

Como os outros exportadores do café têm produção menor que o Brasil, a indústria norte-americana provavelmente pagaria mais caro pela bebida, caso a taxa de 50% seja aplicada.

Dessa forma, a falta de café brasileiro contribuiria para encarecer ainda mais o produto no mercado norte-americano. Segundo dados do governo dos EUA, o preço do café subiu 32,4% no país entre junho de 2024 e maio de 2025.

Os importadores do país não têm muitas alternativas além de buscar um diálogo com o governo Trump. A Associação Nacional de Café dos EUA (NCA, na sigla em inglês) já atua nesse sentido há alguns meses.

Exportadores brasileiros também estão preocupados. A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) defendem o uso da diplomacia para resolver o impasse.

Raio X da exportação — Foto: arte g1
Raio X da exportação — Foto: arte g1

(Fonte:G1)