Rios de Encontro, o projeto eco-cultural e socioeducativo enraizado na comunidade Cabelo Seco, participou neste final de semana passado de três ‘lives’, ou seja, encontros virtuais. O primeiro tratou sobre Advocacia de Arte Educação em Tempos de Pandemia, realizado pela Associação Internacional de Teatro Infantil e Juvenil (Assistej), da África do Sul.
No segundo, o tema foi Solidariedade Artística com Crianças e Jovens Indianos Impactados pela Pandemia, organizado pela Frente Ásia Sul Contra Fascismo (SASAF). Por fim, foram discutidas as Crises Sanitária, Ambiental e Política Enfrentadas pelo Povo Brasileiro, co-realizado pela Deputada do Parlamento Europeu, Julie Ward, com a Associação pela Liberdade dos Trabalhadores/as.
Na primeira live, mais de 240 teatro-educadores da África assistiram fragmentos do espetáculo Rio Voador, do projeto Rios de Encontro, com intuito de entender o poder dos jovens atores e oficineiros do Coletivo AfroRaiz usarem a dança e a percussão afro-brasileiras como linguagens para sensibilizar profissionais nas áreas de educação, cultura, saúde, segurança e políticos eleitos.
Leia mais:“Nós, arte-educadores na mesa da África do Sul e Zambia, ficamos impressionados pela continuidade de resgate cultural e formação artísticas de jovens na Amazônia”, disse Dr David Andrew, chefe do Departamento de Belas Artes, Universidade de Witwatersrand, acrescentando aparentar ser base da autoconfiança, liderança comunitária e advocacia socioeducativa dos jovens. “Mas ficamos inspirados de como o projeto se conectou com saúde, segurança e economia comunitárias, a partir de colaborações com médicos, policiais e empresários”, declarou.
De acordo com Dan Baron, coordenador internacional do Rios de Encontro, o projeto já é respeitado por influentes brasileiros mundiais, como o pedagogo Paulo Freire e o teatrólogo Agosto Boal. “Impactou muito a capacidade do projeto de se transformar em um paradigma de bem viver comunitário, no contexto da pandemia e desconfiança na política, que exigem propostas populares alternativas”, afirmou.
Ainda segundo Dan Baron, nas lives com lideranças pluripartidárias da Inglaterra e com jovens artistas da Ásia do Sul, ouviu análises bem avançadas sobre o atual modelo de desenvolvimento econômico em falência, além de uma diversidade de projetos com valores e pedagogias parecidos com o do projeto Rios de Encontro.
“Me inspirou ouvir tantos jovens cantando e recitando poemas sobre como superar a ‘ditadura de medo e de desconfiança’ através das práticas comunitárias de energia solar e feiras orgânicas. O lado positivo da Covid 19 é quanto ele acelerou a troca virtual de conhecimentos e projetos, em particular, por jovens já alfabetizados com as novas ferramentas digitais”.
Julie Ward (MEP) vocalizou sua preocupação: “Somos solidários com o povo brasileiro, e em particular, com a Amazônia que visitei em 2017, como artista em residência no Rios de Encontro. O mundo sabe que Brasil já está sofrendo as consequências trágicas das múltiplas crises que vem de um aparteid social e corrupção sistêmica. Mas queremos saber como atuar e colaborar para proteger uma Amazônia segura, o bem viver que o mundo está buscando.”
Dan Baron responde que nessas lives percebeu que já acabou a confiança na democracia institucional de representativos, no mundo. “Já está em construção redes inter-regionais de comunidades de democracia envolvente, cada comunidade bem enraizada em uma formação eco-social que procura se livrar das histórias e sequelas tóxicas do projeto colonial, se nutrindo do movimento Vidas Pretas Importam, para criar um mundo onde toda vida importa. Já estamos traduzindo e organizando nossos vídeos e calendários como recursos pedagógicos para cursos de formação colaborativa em Bem Viver, que ofereceremos na segunda semestre”.
Manoela Souza, coordenadora da formação artística e gestão cultural no projeto, conclui que a pandemia está provocando o mundo a criar uma cultura de solidariedade e trocas internacionais, na prática. “Rios de Encontro disponibilizará contatos de parceiros para outras redes de projetos a fim de criar colaborações inter-regionais sustentáveis”, diz. (Divulgação)