Correio de Carajás

População idosa cresce 120% em Marabá em apenas 12 anos

Atualmente, 41 homens e mulheres acima de 60 anos são acolhidos em instituições de longa permanência no município

Idosos do CIPIAR, em Marabá, têm várias atividades lúdicas e de sociais ao longo do ano

O Dia do Idoso, celebrado em 1º de outubro, não é apenas uma data para comemorações, mas um momento de reflexão profunda sobre o papel dos mais velhos na sociedade e os desafios que enfrentam em um país que envelhece rapidamente.

Em Marabá, duas instituições destacam-se por sua dedicação ao acolhimento e cuidado dos idosos: o Lar São Vicente de Paulo e o Centro Integrado da Pessoa Idosa “Antônio Rodrigues” (CIPIAR). Elas representam um espaço de acolhida para aqueles que, por diversas razões, perderam o amparo familiar e encontraram nas mãos do poder público o caminho para uma velhice digna.

Neusa Ventura de Faria, presidente do Lar São Vicente, conhece bem a importância de oferecer um lar para quem já percorreu longas jornadas. “São 26 anos de história”, relembra, em meio ao cotidiano da instituição que abriga hoje 18 idosos. A seleção dos residentes segue critérios rígidos, definidos para garantir que aqueles realmente necessitados sejam acolhidos.

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“O idoso primeiro faz a ficha no CREAS, onde um assistente social acompanha o caso e avalia se ele tem perfil para o Lar. Para ser aceito, é preciso que não tenha família e que esteja em situação de vulnerabilidade.” O Lar São Vicente está localizado na Folha 6, Nova Marabá, e oferece abrigo e cuidados para quem, muitas vezes, chegou ao fim de suas forças.

O processo de acolhimento em Marabá não se resume ao Lar São Vicente. O Centro Integrado da Pessoa Idosa “Antônio Rodrigues”, o CIPIAR, coordenado por Adriana Ferreira, é outro ponto crucial na rede de apoio local.

“Temos hoje 23 idosos aqui, sendo quatro mulheres e 19 homens. Todos chegam a nós após um cuidadoso estudo do caso”, explica Adriana. A admissão no CIPIAR segue protocolos estabelecidos em parceria com o Ministério Público e o Conselho Municipal de Direitos da Pessoa Idosa, numa articulação que envolve toda a rede socioassistencial da cidade. “Quando há suspeitas de violação de direitos, maus-tratos ou abandono, o CREAS é acionado. Se o estudo social comprova a necessidade, é solicitado o acolhimento institucional”, detalha.

LEI

Essas iniciativas em Marabá ganham ainda mais relevância à luz das legislações federal e municipal, que amparam a população idosa. A Lei 10.741, de 2003, conhecida como Estatuto do Idoso, estabelece uma série de direitos para as pessoas com mais de 60 anos, assegurando-lhes proteção e dignidade. No município, essa proteção foi reforçada pela Lei Municipal 18.096/2022, fruto de um projeto de lei do vereador Alécio Stringari.

Essa legislação, promulgada em março de 2022, veio para sistematizar e fortalecer o atendimento à pessoa idosa, esclarecendo os papéis dos órgãos responsáveis por sua defesa, como o Conselho do Idoso, e consolidando a presença das instituições de longa permanência – um termo mais adequado e humano, que substitui a antiga expressão “asilo”.

A criação dessa rede de proteção também facilitou o aumento de reclamações de maus tratos. O número para denúncias, o Disque 100, tem sido uma ferramenta importante para combater abusos em Marabá. Segundo o Conselho do Idoso de Marabá, em 2022 foram registradas 205 denúncias de maus-tratos contra pessoas idosas no município, revelando uma realidade que, antes, muitas vezes permanecia invisível.

DADOS

Esse esforço se mostra ainda mais crucial à medida que o Brasil, como um todo, experimenta uma transformação demográfica significativa. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2022, aproximadamente 29 mil idosos viviam em Marabá naquele ano, inserida numa população total de 266.533 habitantes.

Doze anos antes, em 2010, ainda segundo o IBGE, Marabá tinha uma população total de 233.669 habitantes. Desses, 12.492 eram pessoas idosas, ou seja, tinham 60 anos ou mais, representando apenas 5,35% da população total da cidade naquele ano.

No panorama regional, o mesmo censo revelou que apenas 7% da população nortista tinha mais de 65 anos, enquanto no Pará esse índice era de 7,3%. O índice de envelhecimento no Norte era de 27,6%, e no Pará, 29,6%, demonstrando uma menor concentração de idosos na região em comparação com outras partes do país.

Para medir a qualidade de vida da população idosa, em 2023, o Instituto de Longevidade mostrou, por meio da terceira edição de análise, um índice com base em 23 indicadores, avaliando áreas como saúde, socioambiental e economia. Marabá foi classificada como uma das 326 “cidades grandes” do Brasil, aquelas com mais de 100 mil habitantes e que oferecem melhores condições para a vida dos idosos.

Nessa avaliação, o município ficou em 244º lugar. Mas já foi pior. Em 2017, Marabá figurou como a pior cidade para envelhecer no Brasil. Foi a partir daí que a gestão municipal instalou o CIPIAR, a Praça do Idoso e outros serviços para esse público.

MEDIDAS

À medida que a população envelhece, aumenta a necessidade de políticas públicas eficazes e de instituições como o Lar São Vicente e o CIPIAR, que garantem não apenas um teto, mas também cuidados e dignidade para aqueles que mais precisam.

Além dos números, as histórias que se desenrolam dentro dessas instituições revelam outro lado da velhice, muitas vezes marcado pela solidão, mas também pela resiliência. Os idosos que chegam ao Lar São Vicente e ao CIPIAR carregam, em suas memórias, vidas inteiras de trabalho, sacrifícios e sonhos. Agora, encontram-se nesses lugares não apenas assistência, mas um sentido de comunidade.

(Thays Araujo)