Vídeos que circularam nas redes sociais nos últimos dias mostram que moradores dos bairros Infraero, Jardim União e Bela Vista (Núcleo Cidade Nova) estão clamando à Prefeitura de Marabá a construção de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na localidade.
“A população precisa e necessita ser assistida por uma UBS, pois são cerca de 40 mil pessoas que moram neste complexo, e o Ministério da Saúde recomenda que o ideal para cada 2 mil pessoas tenha uma equipe de um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e um agente comunitário. Porém, em Marabá atualmente o que se tem é uma equipe dessas para cerca de 9 mil pessoas. Só quem sofre com isso é a população, que não tem acesso a atendimentos básicos”, diz trecho da postagem que está viralizando nas redes sociais.
Além de suplicar pelo benefício, os moradores informam que é possível construir a unidade de saúde através da captação de recursos no Ministério da Saúde por meio do programa denominado “Novo PAC” do Governo Federal, que está disponibilizando mais de R$ 7 bilhões para a construção de 1.800 UBS´s em todo o Brasil.
Leia mais:O prazo final para o cadastro no Ministério da Saúde seria até o dia 10 de novembro.
O CORREIO tomou conhecimento que entre os anos de 2017 e 2018 existiam recursos para construir Unidades Básicas de Saúde na Vila Sororó, no KM 8 (na Vila São José), Bela Vista e Vale do Itacaiunas. Contudo, o município não utilizou os recursos, que acabaram sendo devolvidos.
A reportagem foi até o complexo dos três bairros e conversou com o representante do Centro Comunitário do Bairro Infraero e com a presidente da Associação de Mulheres do Bairro Bela Vista, Jardim União e Infraero.
Celzamar Alves de Oliveira, conhecido como Incansável Zim, responde pelo Bairro Infraero e está revoltado com a situação de abandono em que os moradores estão em relação à saúde. “Falta um posto de saúde urgentemente. Não estamos precisando de praça, estamos precisando de posto. Existe um terreno ali do lado da creche que já falaram que seria uma UBS, mas que ele (o prefeito) já disse que vai fazer uma praça porque posto de saúde gera muito gasto”.
Morando no bairro há 5 anos, Celzamar diz que o posto de saúde mais próximo fica no Bairro Liberdade, sobrecarregando a unidade de saúde.
Segundo ele, 4 horas da manhã não tem mais vaga porque a fila já está enorme. “Estou revoltado. Não temos nem os agentes de saúde passando nas casas para visitar os idosos para ver se tem alguém doente. Não passa ninguém. Só esse negócio de vacina de cachorro. Tem que vacinar o povo, que é o principal. Porque é o povo que acorda 4 horas da manhã pra ir pra fila de posto de saúde”, adverte o morador, indignado.
Uma das pioneiras do Bairro Bela Vista, Iran Ribeiro Pereira é, atualmente, a presidente da Associação de Mulheres dos Bairros Infraero, Bela Vista e Jardim União. Para ela, as benfeitorias que ainda chegam na localidade são por conta dos muitos pedidos do vereador Frank, que é representante daquela comunidade.
“Uma andorinha só não faz verão. O vereador vai para um lado, vai para o outro, mas depende do prefeito. Ele arranja tratorista pra ajeitar as ruas, conseguiu colocar iluminação aqui no bairro todo, brigou pela linha de ônibus até o final da rua. Ele consegue as coisas pra cá. Temos escola e creche, mas está faltando um posto de saúde”, diz Iran, que mora bem na esquina que cruza os bairros Infraero e Bela Vista.
As queixas do vereador
Representante do Bairro Jardim União na Câmara Municipal de Marabá, o vereador Frank do Jardim União, como é conhecido popularmente, relembra que a luta em prol de uma Unidade Básica de Saúde no complexo é antiga.
“A primeira tentativa que tivemos foi junto ao deputado federal Celso Sabino, que na ocasião disponibilizou uma emenda para a construção do postinho. Estivemos juntos na mesa do prefeito, e ele disse que no momento não construiria porque estava gastando muito com a pandemia e para manter ficaria um custo muito alto. Então, desistimos da emenda”, relembra.
Para o vereador, a falta de um posto de saúde no complexo sobrecarrega ainda mais as UBS dos bairros Laranjeiras e Liberdade, onde o serviço de atendimento médico já é bem fragilizado.
“A população me cobra. Já cheguei a levar representantes da comunidade na sala do prefeito, que disse que é uma vontade dele construir, mas que no momento ele ia priorizar a construção do Pronto Socorro do Hospital Municipal de Marabá, que tem investimento de R$ 18 milhões”.
Segundo Frank, ele vem articulando uma espécie de “vaquinha de emendas”, e já conversou com a deputada federal Andreia Siqueira e com o deputado Chamonzinho para que, juntos, possam somar forças e contribuir com a UBS do Jardim União.
“Mas, precisamos do aval do prefeito para que ela funciona e oferte os serviços básicos para a população”, finaliza.
Existe dinheiro para construir UBS
De acordo com Sezostrys Alves da Costa, assessor técnico da Secretaria de Atenção Primária do Ministério da Saúde (SMS), quando o Governo Federal lançou o Novo PAC para regulamentar a aplicação dos recursos, publicou, em 9 de outubro, a Portaria Nº 1.517 abrindo prazo até o próximo dia 10 de novembro para que os municípios possam manifestar interesse e cadastrar propostas para construção de UBS e outros aparelhos públicos de saúde.
Ou seja, basta a prefeitura enviar uma confirmação de interesse para o Ministério da Saúde, até o dia 10, e em seguida submeter o projeto para construção de uma UBS, para que a Secretaria de Atenção Primária analise o pedido e, caso seja aprovado, autorize o repasse da verba.
Nessa primeira etapa, a Secretaria de Atenção Primária vai selecionar 1.800 unidades no Brasil. O recurso previsto para a construção será de R$ 7,4 bilhões, que serão repassados fundo a fundo, ou seja, de maneira direta do governo federal para as prefeituras.
Prefeitura mantem silêncio
A reportagem do CORREIO entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Marabá (Secom), questionando sobre a possibilidade de construção da UBS na região dos bairros Infraero, Jardim União e Bela Vista, mas desde sexta-feira, 27, não houve retorno.
Atenção Primária
A atenção primária à saúde é fundamental para o tratamento de doenças, mas também é indispensável para promover o bem-estar da população.
As barreiras ao acesso se caracterizam pela oferta restrita de serviços, como: insuficiência de Unidades Básicas de Saúde (UBS); insuficiência de equipes multiprofissionais e de especialistas no escopo ampliado da atenção primária à saúde; insuficiência de consultórios odontológicos nas UBS e dificuldade de provimento e fixação de profissionais.
Por isso, com o Novo PAC, o objetivo é ampliar a infraestrutura das UBS com investimento em obras, equipamentos e materiais permanentes, visando prover condições adequadas para o trabalho em saúde na atenção primária.