Exatamente às 13 horas, desta sexta-feira (31), o governador Helder Barbalho autorizou a abertura do tráfego sobre a ponte União, no KM-48 da Alça Viária (PA-483), que foi interrompido bruscamente no dia 6 de abril, após a derrubada de quase um terço de sua estrutura. Cerca de 5 mil pessoas, moradoras dos municípios do Acará e Moju, foram recepcionar e agradecer ao governador o empenho pela resposta rápida na construção da ponte, que acontece em tempo recorde.
“A escolha do nome União, ocorre justamente por inaugurarmos uma ponte, um equipamento de transporte, contando com o auxílio de muitas pessoas. A obra é o resultado de uma atitude firme que mostrou a todos que é possível trabalhar com união para construir um futuro melhor para todos os cidadãos do Estado do Pará”, disse o governador Helder Barbalho durante a cerimônia.
“Aqui tem superação, compromisso e colaboração de muita gente, coisas essenciais para fazer o elo de desenvolvimento que tanto nosso Estado precisa”, complementou o governador, que fez questão de agradecer e homenagear cada um dos 600 operários que trabalharam para realizar essa obra.
Leia mais:O governador informou, ainda, que solicitou, à Setran (Secretaria de Estado de Transportes), a realização de um cadastro com todos os operários que trabalharam na Ponte União, e que ficariam sem trabalho após o término da obra. Esse cadastro vai possibilitar que eles possam trabalhar também na obra da ponte Meruú, que será iniciada em breve.
Os operários receberam ainda um certificado de participação na obra da ponte e uma placa com seus nomes, que foi instalada no pilar central junto com a placa do nome do governador e demais autoridades. “Já trabalhei em várias obras e essa foi a primeira vez que recebi uma homenagem. Melhor ainda é descobrir hoje que poderei ir trabalhar na obra de outra ponte e não ficarei desempregado”, disse Silas de Jesus Araújo, operário da obra na ponte.
O pescador Djalma Santos, que mora há 30 anos às margens do rio Moju foi um dos moradores que veio ver de perto a inauguração da ponte. “Agora ficou melhor para todos nós, pois vivíamos sobressaltados com os choques das embarcações nos pilares no horário noturno. Agora vamos dormir sossegados, pois essa obra é diferenciada e tem muita segurança”, disse. Outros trabalhadores também comemoraram a volta da ponte.
Durante abertura da cerimônia de inauguração, o governador recebeu, das mãos do estudante Gustavo Gabriel da Silva, 12 anos, uma mostra da produção da Comunidade Filhos de Quilombola, que voltou a contar com a principal via terrestre de escoamento. Gabriel foi escolhido por ter sido aprovado em primeiro lugar no processo seletivo do Instituto Federal de Educação Tecnológica (IFPA). Com apenas 12 anos, ele foi aprovado para cursar o Ensino Médio.
Na cerimônia, que reuniu o vice-governador, Lúcio Vale, secretários de Estado como João Chamon Neto, o senador Jader Barbalho, a deputada federal, Elcione Barbalho, o presidente da Alepa, Dr. Daniel, prefeitos, vereadores dos municípios do Acará e Moju, entre outras autoridades, houve também a entrega de cheques moradia para 23 moradores do Moju, totalizando R$ 144 mil.
A construção da ponte em tempo recorde devolveu a população do Pará um dos principais acessos terrestres da Região Metropolitana de Belém (RMB) com as regiões sudeste e sul do Pará.
A ponte impressiona pelas inovações tecnológicas em sua base de sustentação, onde foram utilizadas 45 estacas fincadas, em média a mais de 50 metros de profundidade, algumas chegaram a 70 metros de profundidade e ainda 40 estais-com cordoalhas- conjunto de cordas de alta performance. O mastro que sustenta o sistema da ponte foi construído com dois pilares de 3,5 metros por 5,5 metros, que atingiram a cota de altura construídos sobre um bloco de concreto armado com 16 metros de largura e 28 metros de comprimento, escalonado em uma altura de 10,80 metros.
Ao todo, a obra construiu 268 metros que se juntaram aos outros 600 metros remanescentes da ponte, totalizando 868 metros. Toda a ponte está dotada de iluminação com sistema de captação solar, distribuídos em 26 postes novos de um lado da pista, colocados a seis metros de distância um do outro.
Perícia de engenharia foi determinante para a conclusão da ponte
Quem acompanhou as obras de reconstrução da nova ponte União, não imagina o quanto o trabalho pericial realizado, na época, pela equipe de engenharia do CPC Renato Chaves, foi determinante para este momento. No dia 6 de abril de 2019, quando uma balsa carregada de rejeitos de dendê colidiu nos pilares da terceira ponte da Alça Viária, no km 8, a resposta do Estado foi rápida: Em dois dias, o laudo do Centro de Perícias Científicas foi divulgado.
“No primeiro dia fizemos a primeira perícia. Depois verificamos que estava alta a maré por isso havia a necessidade de fazer uma segunda perícia. No dia seguinte, com a maré baixa, já estávamos lá para detectar as características da ponte. Isso está bem explícito no laudo para que fosse analisada a questão estrutural.
“Caíram 268 metros de ponte e 2 pilares foram atingidos durante a colisão. Mas, sob efeito dominó, foram derrubados mais outros dois pilares, abrindo aquele vão enorme na parte central da ponte. O tabuleiro caiu (pista) em cima do comboio. No dia seguinte o empurrador afundou, ficando apenas exposta a balsa”, reitera o perito Orley Cruz. Os peritos são engenheiros civis e atuam a mais de 20 anos no CPC Renato Chaves.
José Alberto Sá é Pós Doutor pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Orley Cruz tem especialização em eletrônica. Para ambos, trabalhar neste caso foi um desafio superado e bem sucedido. Nem tanto pelo fato do acidente ter ocorrido numa madrugada (quase sem testemunhas), mas principalmente pela dificuldade de acesso a pontos da ponte em que era necessário fotografar para fazer as análises. A qualidade da perícia dependia disso e o Estado ofereceu condições para que isso ocorresse. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros cederam operadores de drones para ajudar nos trabalhos.
“Isso foi muito importante para identificar o ponto de impacto do acidente, porque tivemos uma visão ampla de tudo, em diversos ângulos. Essa é a importância do drone pra construção civil e, a nível pericial, na identificação com mais precisão dos vestígios coletados”, disse o Pós Doutor.
Os peritos também ressaltam que, dependendo da dinâmica do acidente, existe uma situação de risco onde o perito não pode se aproximar tanto, o que dificulta o trabalho.
“O drone vem para dar a rapidez que o trabalho exige. Sem ele teria que usar andaimes e o perito tinha que escalar a ponte. São 24 metros de altura. Levaria tempo também e devido a necessidade de dar uma resposta rápida e pelas condições que nos deram, conseguimos terminar tudo em tempo recorde” disse o outro perito, Orley Cruz.
Além disso, um outro laudo, o ambiental, foi elaborado pelo mesmo setor do CPC Renato Chaves. O perito e engenheiro químico, Rosywaldo Cantuária, analisou amostras para saber se houve algum dano ambiental no Rio Moju, hipótese que foi descartada.
“Houve a coleta da água do rio, também sobre o material na balsa e o combustível que vazou. Mas os resultados laboratoriais não apresentaram nenhuma incompatibilidade ou desconformidade com as normais ambientais no local”, afirmou Cantuária.
Após a divulgação do laudo, as empresas responsáveis pela embarcação foram notificadas, a Procuradoria-Geral do Estado entrou com uma Ação Civil Pública e o Estado foi indenizado.
“Com o trabalho de investigação da Polícia Civil e da perícia do Renato Chaves, conseguimos provar que colapso se deu em decorrência do impacto da balsa. Também conseguimos identificar os responsáveis, ou seja as empresas de navegação e proprietárias da carga que estava na balsa. Com base nisso, preparamos uma ação cautelar de bloqueio de bens das seis empresas envolvidas. Foi deferida uma liminar do bloqueio de R$ 180 milhões de todas as empresas envolvidas. E essa medida foi fundamental para que conseguíssemos R$ 129 milhões, pagos à vista, para nos ajudar a reconstruir a ponte”. Ricardo Sefer – Procurador-Geral do Estado.
PONTE MAIS RESISTENTE
Outra contribuição que a perícia deu ao caso foi detectar que o projeto original da ponte não levava em consideração a peculiaridade do local.
“Uma das constatações do laudo foi que o vão central da ponte era pequeno, apenas 70 metros de largura. A balsa tinha mais que isso. E isso é incompatível para aquele contexto ali. A ponte fica próximo de duas curvas do rio. Então existe muita correnteza (e em sentidos contrários) que faz com que a embarcação não atravesse a ponte alinhada, mas em diagonal. Por isso bateu em dois pilares, de um lado e do outro”. Orley Cruz, perito.
A perícia de engenharia legal recomenda que a estrutura seja mais resistente à ação mecânica. Durante a perícia, também foi constatado que não havia defensas (estruturas de construção civil, flutuantes ou permanentes, que ficam na base dos pilares para proteger a ponte de impactos).
O projeto de reconstrução da nova ponte leva em conta a segurança e resistência da estrutura. Agora, a estrutura terá dois vãos centrais, de 134 metros cada, quase o dobro da anterior. Outra medida que faz parte do novo projeto, é a existência de defensas, que foram projetadas para suportar grandes impactos. (Com Ag. Pará)