📅 Publicado em 10/11/2025 17h27✏️ Atualizado em 10/11/2025 17h36
Ao longo do final de semana, vários veículos foram flagrados passando sobre a nova ponte do Rio Araguaia, entre São Geraldo do Araguaia (PA) e Xambioá (TO). A atitude, assim como comentários nas redes sociais, evidencia que aos olhos dos leigos a ponte já está totalmente pronta, mas ocorre que essa não é a realidade. O que impede a sua liberação ao tráfego não é a espera por um ato de inauguração oficial, mas uma série de testes de segurança que são obrigatórios, assim como adequações de sinalização que ainda serão auferidas pelas autoridades do Dnit.
Engenheiros ouvidos pelo Correio de Carajás confirmaram que esse é o rito necessário e legal antes que a ponte possa receber o tráfego de carga, por exemplo. Esses mesmos profissionais se mostraram assustados que as pessoas tenham forçado a passagem pela ponte nos últimos dois dias, colocando suas próprias vidas em risco, na visão deles.
O portal divulgou os vídeos que mostravam populares retirando os cavaletes de metal que faziam o bloqueio do acesso e vários caminhões, ônibus, veículos de passeio e motos trafegando de lado a lado. Somente no final da tarde de domingo é que uma equipe da Polícia Rodoviária Federal chegou a São Geraldo e passou a guardar o local, assim como funcionários da empreiteira responsável pela obra. A rodovia está no leito da BR-153.
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LIBERAÇÃO DE NOVA PONTE
A inauguração de uma nova ponte em uma rodovia federal é um marco para a logística e para as comunidades que ela conecta. No entanto, antes que o primeiro carro possa cruzar a estrutura, um complexo e rigoroso processo de inspeção e certificação é exigido por lei para garantir a total segurança dos usuários.
Esse procedimento, conduzido pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), envolve múltiplas etapas técnicas, desde a verificação minuciosa de cada parafuso até testes de carga com o uso de caminhões pesados.
Longe de ser uma mera formalidade, a liberação de uma ponte é a etapa final que atesta que a obra foi executada em total conformidade com o projeto de engenharia e com as rígidas normas técnicas brasileiras. O órgão central nesse processo é o DNIT, vinculado ao Ministério dos Transportes, que atua como o guardião da segurança e da qualidade da infraestrutura viária do país.

A “Identidade” da Ponte
Assim que a construtora finaliza a obra, a primeira etapa crucial é a Inspeção Cadastral. Este procedimento funciona como a criação da “certidão de nascimento” da ponte. Uma equipe de engenheiros especializados do DNIT, ou por ele designada, vai a campo para realizar um levantamento completo da estrutura.
Nesta fase, os inspetores verificam se as dimensões, os materiais e os métodos construtivos correspondem exatamente ao que foi definido no projeto executivo. Cada detalhe é documentado, incluindo um extenso registro fotográfico e a criação de uma ficha técnica que acompanhará a ponte por toda a sua vida útil. Este cadastro é a base para todas as futuras inspeções de rotina e manutenções.

A prova de carga
Um dos momentos mais importantes e visualmente impressionantes do processo de liberação é a Prova de Carga. Regulamentada pela norma ABNT NBR 9607, essa etapa simula as condições mais severas de tráfego que a ponte enfrentará.
Existem dois tipos principais de prova de carga:
1.Prova de Carga Estática: Caminhões com peso controlado são posicionados em pontos estratégicos da estrutura. Sensores de alta precisão medem as deformações e os deslocamentos da ponte. Para ser aprovada, a estrutura deve se comportar dentro dos limites calculados no projeto e recuperar a maior parte de sua forma original após a remoção das cargas.
2.Prova de Carga Dinâmica: Veículos pesados cruzam a ponte em diferentes velocidades para avaliar o comportamento da estrutura sob vibrações e impactos. Este teste verifica a estabilidade e o conforto para o usuário.
Embora não seja obrigatória para todas as pontes, a prova de carga é frequentemente exigida para obras de grande porte, com vãos extensos ou que utilizam tecnologias inovadoras, servindo como a validação final da capacidade e segurança estrutural.
Vistoria final
A liberação para o tráfego só acontece após uma vistoria final abrangente, na qual uma equipe multidisciplinar do DNIT inspeciona detalhadamente todos os componentes da obra. O processo é metódico e segue um roteiro definido por normas como a DNIT 010/2004-PRO.
A luz verde para o tráfego
Somente após a conclusão bem-sucedida de todas essas etapas, a equipe de fiscalização do DNIT emite um Termo de Recebimento Provisório. Este documento atesta que a obra está concluída e segura, autorizando sua abertura ao público. A partir daí, a ponte entra em um período de garantia, geralmente de cinco anos, durante o qual a construtora ainda é responsável por corrigir eventuais defeitos.
Com a liberação, a ponte é integrada ao sistema de gerenciamento de obras de arte do DNIT, que programa inspeções rotineiras (anuais ou bienais) para monitorar sua condição e garantir sua durabilidade e segurança ao longo das décadas. Portanto, cada nova ponte inaugurada representa não apenas um avanço logístico, mas o resultado de um trabalho de engenharia e fiscalização que coloca a segurança em primeiro lugar.
Silêncio
O Correio e Carajás tentou ouvir tanto o Dnit, quanto o Ministério dos Transportes sobre a falha de segurança que permitiu a passagem de centenas de veículos sobre a ponte nos dias 8 e 9 de novembro, sobretudo de madrugada, mas não obteve resposta. Um motociclista teve a moto colhida por um carro de passeio na rampa do lado de São Geraldo na manhã de domingo (9) e foi socorrido a um hospital.
Em visita ao canteiro de obras da ponte no último dia 6, o ministro dos Transportes prometeu a inauguração oficial para o final deste mês de novembro, mas não especificou data. A travessia entre o Pará e o Tocantins naquele trecho segue feita por balsas.
É preciso destacar que a empreiteira responsável pelos acessos ainda vai construir as defensas laterais às cabeceiras, item primordial, principalmente do lado de Xambioá, onde loco após sair da ponte o motorista já se depara com uma curva acentuada e perigosa.
No domingo, uma chuva forte que caiu na região levou muita terra e evidenciou várias falhas na compactação do aterro da cabeceira, também do lado de Xambioá. (Colaboração: Nilson Amaral)
