Os dados da inflação de maio trouxeram um alento aos cidadãos de classes mais baixas, que almoçam e jantam em casa, devido à desaceleração mais forte nos preços dos alimentos. Contudo, os reajustes no transporte público em várias cidades fizeram os pobres sentirem mais o impacto da carestia do que os mais ricos.
Conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial e tem como base as famílias com renda acima de cinco salários mínimos, desacelerou de 0,61% para 0,23%, entre maio e abril — dado bem abaixo das estimativas do mercado, de 0,37%. Enquanto isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), indicador da carestia para as famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos, recuou de 0,53% para 0,36%, no mesmo período.
A alta de preços de ônibus urbanos foi de 2,83% em maio, de acordo com o IBGE. Apesar disso, o grupo Transportes deu uma contribuição negativa de 0,12 ponto percentual no IPCA do mês passado — devido, principalmente, às quedas dos preços dos combustíveis (-1,82%) e das passagens aéreas (-17,73%), beneficiando os mais abastados e que não utilizam transporte público.
Leia mais:Conforme dados do IBGE, o grupo Alimentos e bebidas também influenciou bastante para a desaceleração do índice geral ao recuar de 0,71% para 0,16%, entre abril e maio. Segundo André Almeida, analista da pesquisa do órgão, “trata-se do grupo com maior peso no índice, o que acaba influenciando bastante no resultado geral”.
O subgrupo de alimentos registrou quedas de 3,48%, nos preços das frutas; de 7,11%, no óleo de soja; e de 0,74%, nas carnes. “Quando há uma redução nos preços de alimentos in natura e de itens básicos, isso acaba beneficiando consideravelmente a camada mais pobre da população, entre os que recebem até cinco salários mínimos ou que são beneficiários dos programas sociais, porque eles têm o seu poder de compra elevado”, disse o economista Ecio Costa, professor titular de Economia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele destacou ainda que, combinado com o reajuste do salário mínimo um pouco acima da inflação, o poder de compra dos pobres torna-se maior.
O economista e sociólogo, César Bergo, professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB), ressalta, no entanto, que outros importantes itens da cesta dos mais pobres sofreram elevação, como o tomate (de 6,65%), o leite longa vida (2,37%) e o pão francês (1,40%). “Para uma família que consome mais pão, tomate e leite do que fruta e carne, o impacto da inflação continua sendo forte”. Bergo destacou também que o índice do IBGE é uma média, resultado de altas e reduções de preços nos estados, “portanto, alguns estados estão observando inflação e outros, deflação”.
Tanto no IPCA quanto no INPC houve alta em 15 das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE. A maior variação do INPC, por exemplo, ocorreu em Belo Horizonte, de 0,79%, devido ao aumento de 25% do ônibus urbano. São Luís teve deflação de 0,33%, influenciada pelas quedas de 7,63%, nos preços do frango inteiro, e de 5,87% no custo da gasolina.
Para o economista Guilherme Costa Delgado, pesquisador aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e consultor na área agrícola, embora os dados relacionados aos preços de alimentos estejam caindo neste ano, a tendência ainda é que a inflação de alimentos fique acima da média geral do IPCA, podendo girar em torno de 7%. Enquanto isso, as últimas revisões para baixo do mercado devido ao dado da inflação oficial de 2023 estão ficando cada vez mais perto de 5%.
Na avaliação de Delgado, autor do livro Do capital financeiro na agricultura: a Economia do Agronegócio, o país necessita de políticas públicas que contemplem o incentivo à diversificação na produção de alimentos, pois existe uma grande concentração de commodities, que ocupam 90% da área plantada e influenciam no preço da cesta básica. “Quando as commodities sobem no mercado global, sobe também o valor na cesta básica. Quando caem de preço no mercado internacional, o sistema econômico usa a desvalorização cambial para compensar os exportadores, mas onera os consumidores do mercado interno”, disse. Ele defendeu melhor planejamento da produção para o mercado interno e a volta de estoques reguladores para ajudarem a conter as pressões inflacionárias dos alimentos.