Um caso inusitado ocorreu na noite de sábado (24) em Marabá: acionados para atender a uma ocorrência de violência doméstica, policiais militares simplesmente não apresentaram o acusado na delegacia. Pelo contrário: o liberaram no meio do caminho. O resultado foi um desastre, pois o acusado voltou à casa e tentou esfaquear a companheira, assim como deu o maior trabalho para a outra guarnição policial que teve de prendê-lo.
O caso se registrou na Avenida 31 de Março, Bairro das Laranjeiras (Núcleo Cidade Nova). Os policiais envolvidos são os cabos Cleyton Nunes da Silva, Diego Araújo Seixas e Robson Lima da Cruz, suspeitos de incorrer, em tese, nos crimes de desobediência e prevaricação. Eles passaram dois dias presos no quartel do 4º Batalhão de Polícia Militar (4º BPM), mas saíram após pagamento de fiança.
O caso
Leia mais:Quando a primeira chamada chegou ao NIOP, uma viatura com a tenente Gabrielle foi ao local, mas outra guarnição também chegou lá ao mesmo tempo. A vítima estava com uma vermelhidão no pescoço (por tentativa de estrangulamento) e também o filho dela se dizia ameaçado de morte pelo companheiro de sua mãe, o indivíduo Adevaldo da Silva Lima.
A oficial conversou com a vítima e seus filhos, perguntando se ela denunciaria seu companheiro, tendo a mesma dito que sim. A policial pegou os documentos pessoais da vítima e dos filhos, que seriam testemunhas no caso. Em seguida, Gabrielle orientou aos PMs da outra guarnição que apresentassem o acusado na delegacia, pois ela iria atender a outra ocorrência.
Acontece, porém, que passados alguns momentos, já na madrugada de domingo, a tenente recebeu uma nova informação via rádio de que o indivíduo Adevaldo da Silva Lima havia tentado esfaquear a companheira. Isso a deixou assustada porque Adevaldo era exatamente o homem que ela tinha visto entrar na viatura momentos antes.
O que ocorreu foi o seguinte: no meio do caminhão, ao invés de levar todos os envolvidos para a delegacia, os policiais liberaram o acusado, porque, segundo eles, a vítima teria desistido de proceder contra seu companheiro.
Os militares levaram a mulher de volta para casa e informaram que iriam deixar o acusado na casa de seus pais, acreditando que tudo se resolveria amigavelmente. Ocorre que Adevaldo voltou por cima do mesmo rastro para terminar o que havia começado.
Felizmente, a guarnição da tenente Gabrielle retornou ao local rapidamente, mas não encontrou mais o acusado, apenas as mesmas vítimas de antes, amedrontadas dentro da casa, que havia sido arrombada pelo agressor. A guarnição da PM partiu em busca de Adevaldo e o encontrou perto de uma arena esportiva, onde ele estava armado de uma faca.
Os militares pediram que ele soltasse a arma e deita-se no chão, mas Adevaldo se negou e tentou partir para cima dos policiais, momento em que um dos militares efetuou um disparo de bala de borracha, de modo que o indivíduo caiu, mas não soltou a faca, momento em que a tenente utilizou técnicas de imobilização para contê-lo. Só assim, Adevaldo foi finalmente preso.
A vítima foi levada à Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), onde contou em depoimento que em nenhum momento desistiu de proceder contra Adevaldo. Disse apenas que no meio do caminho os policiais conversaram com o acusado e com ela e resolveram não seguir até a delegacia.
Na data de ontem, o CORREIO entrou em contato, por telefone, com o coronel Luciano Morais Pereira, presidente da Corregedoria da Polícia Militar, em Marabá, solicitando um posicionamento da PM em relação ao caso. O oficial atendeu prontamente à mensagem telefônica e orientou que o jornal entrasse em contato com a Assessoria de Comunicação da PM por e-mail, o que foi feito exatamente às 14h22, mas o correio eletrônico não foi respondido. (Chagas Filho)