Rios de Encontro, o projeto comunitário eco-cultural e socioeducativo do bairro Cabelo Seco, realizou no último sábado, 3 de outubro, com a Rede Brasileira de Arteducadores (ABRA), o segundo passo virtual do 3º Fórum Bem Viver. Baseado em um processo experimental de rodas de Solidariedade, ‘Performing The World’, Teatro Comunitário Latino-Americano, e Teatro Africano Mundial Rios de Encontro coordenou a busca por uma metodologia virtual capaz de gerar um ambiente seguro para arriscar o inédito, pela vida.
“Partimos de uma conversa sobre como sustentar arte-educadores que inspiram tantas soluções criativas sobre a carência e vulnerabilidade humanas na pandemia”, disse Dan Baron, coordenador internacional do Rios de Encontro. “Juntos, a ABRA e parceiros internacionais de Rios do Encontro idealizamos um fórum de quatro prioridades: escola, cura, política e projetos de solidariedade”.
Ele explica que começaram acendendo uma vela para lembrar todos que passaram ou perderam alguém durante a pandemia, além de cantarem e trocarem experiências de lockdown. “Nós, arte-educadores de Marabá, Juiz de Fora e Moeda (MG), Salvador (BA), São Luís (MA), Florianópolis (SC), Lima (Peru), Auckland (Nova Zelândia), Kampala (Uganda), Lille (França), Barcelona (Espanha), Taipei (Taiwan) e Hong Kong descobrimos uma sede profunda em comum pelo abraço real, conversa íntima e desejo de caminhar com calma e confiança. Após duas rodas, um núcleo gestor emergiu para realizar um Fórum Bem Viver em 15 de Setembro, Dia Mundial da Amazônia.
Leia mais:“Numa conversa pública no ‘Performing The World’ sobre Futuros Sustentáveis do Bem Viver no dia 15 de agosto, experimentamos com uma metodologia artística participativa”, disse Manoela Souza, gestora cultural do Projeto. “Canto coletivo não funciona no Zoom, então apostamos no canto pessoal e na dança. Mostramos um vídeo sobre Rios de Encontro como formação prática em Bem Viver, e um do solo de dança ‘Nascente em Chamas’ da Camylla Alves de nossa Cia AfroMundi. Um grupo de 120 pessoas de 20 países perceberam o potencial da dança curar comunidades sequeladas, na busca de saúde ecosocial”, explica Dan.
Na mesmo tarde, Rios de Encontrou juntou os jovens gestores do Fórum com Karol Cunha do Cursinho Popular Geraldo José e Dirceu ten Caten, deputado estadual de Marabá. “Trocaram relatos sobre a situação extrema nos seus países”, explica Dan. “Perceberam como o povo em cada país estava perdendo direitos humanos atrás da máscara da pandemia.”
Dirceu diz que aprendeu muito com as lideranças de sua geração. “Igual o governo da China, o governo federal brasileiro também está aproveitando da pandemia para acelerar os grandes projetos da mineração e desmatamento, financiados pelo mesmo governo Chinês.” A Karol focalizou sobre os impactos do vírus na saúde e educação. “Fiquei inspirada pelas meninas, mães e avôs de Hong Kong, levando seus projetos às ruas para criar um projeto popular. Quero conectá-las na defesa de nossos rios e florestas”, disse o parlamentar.
Na visão da educadora Manoela Souza, a residência voltou a ser o centro do futuro seguro. Ela conta que no Dia Mundial da Amazônia, o Fórum realizou uma roda sobre o maior aprendizado de cada participante, em casa. “Na Semana de Ação Climática, acendemos uma vela na tela e, depois, o Fórum convidou cada um dos 50 convidados do Brasil e outros 16 países a plantar uma semente na tela. Após as rodas paralelas sobre educação, cura, política e solidariedade, os participantes se entregaram num abraço íntimo-mundial. Todos se emocionaram”, relembra Manoela.
Na avaliação final de Dan Baron, essa performance virtual inspirou cada participante a integrar cuidado pela família, comunidade, cidade, rio, floresta, campo e mundo, a partir de ações reais. “Assim, no virtual, transformamos a pandemia de um alerta cruel em um retiro de formação. Virou uma vivência marcante em como entender o bem viver e como retomar ou reinventar nossas raízes indígenas cortadas ou adormecidas em casa”.