Correio de Carajás

Pesquisadores descobrem novo antídoto para picadas de najas

A descoberta foi anunciada por cientistas da Universidade de Sydney, na Austrália, num artigo publicado na revista "Science Translational Medicine". Segundo pesquisadores, achado pode reduzir lesões e amputações e oferecer um tratamento mais acessível.

A cobra cuspideira núbia ou Naja nubiae, espécie de cobra nativa da África. — Foto: The Trustees of the Natural History Museum, London + Callum Mair

Pesquisadores anunciaram nesta quarta-feira (17) a descoberta de que um anticoagulante comumente utilizado na medicina (a heparinapode ser aplicado como um antídoto acessível e eficaz para picadas de cobra naja.

A descoberta foi anunciada por cientistas da Universidade de Sydney, na Austrália, num artigo publicado na revista “Science Translational Medicine”. Segundo os pesquisadores, o achado pode reduzir lesões e amputações e oferecer um tratamento mais acessível.

“Nossa descoberta poderia reduzir drasticamente os terríveis ferimentos causados ​​pela necrose causada por picadas de cobra naja – e também poderia retardar o veneno, o que pode melhorar as taxas de sobrevivência”, disse em um comunicado Greg Neely, autor correspondente do estudo e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Sydney.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano entre 4 e 5,5 milhões de pessoas são picadas por cobras em todo o mundo. Destas, entre 81 mil 138 mil morrem por complicações do envenenamento.

No Brasil, o Instituto Butantan é o principal produtor de soros, que são medicamentos usados para neutralizar os efeitos das picadas de serpentes venenosas.

Cada soro é específico para o gênero de serpente, sendo produzido a partir do seu veneno. Como as najas não são nativas do Brasil, o antiveneno para essas serpentes não é fabricado aqui.

Por isso, o Instituto Butantan, que mantém algumas najas para pesquisa e exposição, importa um número limitado de ampolas de soro para uso em caso de acidentes de trabalho com os profissionais que cuidam dessas serpentes.

Lá fora, porém, cobras naja matam milhares de pessoas por ano e cerca de cem mil sofrem ferimentos graves causados pela necrose – a morte de tecido e células do corpo – provocada pelo veneno, o que pode levar à amputação.

Fora isso, o tratamento antiveneno atual é caro e não trata de forma eficaz a necrose do tecido no local da mordida.

“As picadas de cobra naja continuam a ser a mais mortal das doenças tropicais negligenciadas, afetando principalmente as comunidades rurais em países de baixo e médio rendimento”, alertou Nicholas Casewell, chefe do Centro de Pesquisa e Intervenções sobre Picadas de Cobra da Escola de Medicina Tropical de Liverpool, que também integrou o estudo.

 

Veneno sendo extraído da Naja atra, uma espécie de naja que vive em áreas do sudeste da Ásia. — Foto: Centre for Tropical Medicine. ©Simon Townsley
Veneno sendo extraído da Naja atra, uma espécie de naja que vive em áreas do sudeste da Ásia. — Foto: Centre for Tropical Medicine. ©Simon Townsley

A pesquisa utilizou a tecnologia CRISPR (ferramenta que consegue editar o DNA) para identificar genes humanos essenciais para a ação do veneno de cobra, focando nas enzimas necessárias para a produção de heparinaIsso permitiu aos cientistas adaptar a heparina e moléculas relacionadas como um antídoto eficaz contra a necrose causada por mordidas de cobra.

Em 2019, os pesquisadores utilizaram a mesma abordagem para identificar um antídoto contra o veneno de um tipo de água-viva. Agora, eles estão focados em encontrar antídotos semelhantes para picadas de cobras negras australianas.

“Nossas descobertas são animadoras porque os antivenenos atuais são amplamente ineficazes contra envenenamentos locais graves, que envolvem inchaço doloroso e progressivo, bolhas e/ou necrose tecidual ao redor do local da picada”, acrescentou Casewell.

(Fonte:G1)