Correio de Carajás

Passageiro tem nome de primata acrescentado na passagem de trem em Marabá

Denilton se autodeclara preto e enxerga a situação como um dano moral proveniente de sua raça

Denilton Rocha Neves, morador de São João de Araguaia, relatou à reportagem do Correio de Carajás um caso de racismo ocorrido em Marabá. No dia 10 de junho, o homem, que precisava viajar para São Luís, no Maranhão, para um tratamento de saúde, pediu a um mototáxi que comprasse sua passagem no estande de venda da Vale no shopping. Ele tinha compromissos médicos agendados para o dia 12.

Em seu documento, é possível ver que não há “Símios” no nome

Ao receber o bilhete, Denilton conta que percebeu um erro que ele considerou ofensivo e racista: após seu sobrenome “Rocha Neves”, estava escrito “Símios”: designação geral em zoologia para as espécies da ordem dos primatas atuais e extintos mais próximos evolutivamente do homem: os gorilas, chimpanzés, bonobos e orangotangos (chamados grandes símios) e os gibões (chamados símios menores).

No entanto, em sua passagem fora acrescentada a designação de primata após seu sobrenome

Se sentindo desrespeitado e humilhado, ele imediatamente buscou resolver a situação. A funcionária responsável pela venda da passagem alegou que se tratava de um erro de digitação, mas, segundo Denilton, o caso foi tratado com desdém. “Disseram que foi um erro simples, mas esse tipo de erro não pode acontecer, ainda mais com uma palavra tão ofensiva”, desabafa.

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A vítima fez várias tentativas para resolver a situação diretamente com a empresa. Ele fez várias viagens entre São João de Araguaia e Marabá, incorrendo em gastos adicionais. Além de não conseguir viajar para cumprir seu tratamento de saúde, Denilton perdeu uma bolsa com documentos e exames importantes durante essas idas e vindas. Sem obter uma solução satisfatória, decidiu registrar um boletim de ocorrência.

O boletim de ocorrência foi registrado dia 10 de junho e será tratado como crime de injúria racial

Racismo, mesmo em suas formas mais sutis, pode ter um impacto devastador na vida das pessoas. O caso de Denilton é um exemplo de como um ato aparentemente pequeno pode desencadear uma série de consequências negativas. “Eu não viajei porque eu não sou macaco. Eu não poderia embarcar com um bilhete que me desrespeitava dessa forma”, afirma.

Posteriormente, a empresa Vale respondeu por e-mail, identificando a funcionária responsável e informando que medidas administrativas seriam tomadas. Ofereceram duas passagens como cortesia, mas não abordaram diretamente a questão do racismo envolvido. Para Denilton, a resposta foi insuficiente. “Ofereceram passagens, mas o dano moral e psicológico não foi considerado. Isso não apaga o que aconteceu”, disse.

Denilton enfatiza que, embora tenha recebido as cortesias da empresa, o dano moral e o impacto psicológico não foram considerados. Ele espera que casos como o seu não se repitam e destaca a importância de tratar todos os clientes com respeito e dignidade. “Esse tipo de situação não pode acontecer com outras pessoas. É preciso haver mais respeito e responsabilidade.”

O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil.

VALE PEDE DESCULPA
Por meio de sua assessoria de Imprensa, a Vale enviou o seguinte posicionamento à Redação do CORREIO: “A Vale pede desculpa pelo ocorrido, que não reflete os padrões de serviço oferecido no trem de passageiros ao longo de 38 anos de operação. Informa que, tão logo recebeu a reclamação por meio do seu canal de relacionamento Alô Vale, abriu investigação interna e tomou medidas administrativas junto à empresa terceirizada responsável pela emissão de bilhetes. A companhia reforça que repudia qualquer ato discriminatório e, como parte de sua política antirracista, mantém um Canal de Denúncia pelos números 0800 821 5000 ou (21) 3485 3000”.

(Thays Araujo)

 

[Atualizado às 19h30, de 24/7, após posicionamento da Vale]