Correio de Carajás

Parceria com os pais é o segredo da Anísio Teixeira

União entre educadores e pais colaborou para o bom resultado do Anísio Teixeira no Ideb 2021 / Foto: Evangelista Rocha

Quando se trata de educação de qualidade entre escolas públicas em Marabá, a Escola Anísio Teixeira é referência. Localizada na Avenida Nagib Mutran, Bairro Belo Horizonte, Núcleo Cidade Nova, ela recebe anualmente uma extensa fila de adolescentes e jovens que almejam estudar na instituição.

Com 14 turmas de ensino fundamental, divididas os turnos matutino e vespertino, a escola lidera o ranking de pontuação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em Marabá, entre os anos finais do ensino fundamental, que vai do 6º ao 9º ano (fundamental II).

Odineia Pereira Sousa, à frente da direção dos anos iniciais desde dezembro de 2020, declara: “Eu vejo que o diferencial da escola é o engajamento dos professores. Eles colocam a mão na massa, realizam projetos, ações, todo mundo participa e se doa, envolvendo os alunos e os conquistando”.

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Diretora Odineia e a vice-diretora Suellen Cristina celebram os resultados do trabalho na Anísio Teixeira / Fotos: Evangelista Rocha

A equipe escolar conseguiu, inclusive, que durante o período de pandemia de covid-19, o índice de evasão escolar fosse mínimo. Toda essa dedicação se refletiu na nova nota do Ideb, que foi de 5,4, a maior de Marabá para os anos finais do ensino fundamental.

Durante esse período, a parceria entre pais e escola foi essencial para que os alunos não sofressem tanto com os impactos negativos da ausência de aulas. Fosse através da plataforma Google Meet, caderno de atividades ou reuniões particulares e pontuais na instituição, a escola se fez presente na vida do aluno.

“Nós nunca paramos. Devido ao nosso público, na época, fizemos uma pesquisa e constatamos que cerca de 90% dos alunos tinham acesso à internet”, relembra Odineia. O número de alunos que não conseguiam participar das aulas online era baixo e a diretora avalia que de maneira geral, todos foram alcançados.

“Aula online, pais na escola, reuniões com frequência. A escola sempre ficou aberta para os alunos e pais que desejassem vir até ela, não precisava de agendamento. Sempre estivemos abertos e acessíveis aos alunos”.

Para ela, a troca entre os pais e o corpo docente foi e é crucial. Quando a instituição percebe que um responsável não está acompanhando de perto o aluno, ele é chamado para uma conversa com a equipe.

ESTRUTURA

“A gente procura não restringir somente a sala de aula”, afirma a educadora. Com reforço escolar, participação na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), projetos desenvolvidos pela instituição que mobilizam os alunos, ressaltando os estudantes que se destacam, práticas esportivas, trabalhos manuais e visitas externas, o trabalho multidisciplinar é realizado e, de acordo com a diretora, alcança bons resultados.

Sala de Leitura é um dos ambientes da escola que melhoram o desempenho dos alunos / Fotos: Evangelista Rocha

O Anísio é hoje uma das escolas públicas de referência em Marabá, e abraça tanto aqueles alunos que vêm da periferia, quanto os que possuem uma condição financeira mais favorável. Apesar das realidades distintas, Odineia assevera que dentro da escola não existe diferenciação entre eles, todos são tratados de forma igualitária.

Ela lamenta que a escola não consiga abarcar a grande demanda de candidatos a vagas: “Dá uma tristeza quando alguém diz: ‘eu queria estudar aqui, queria uma vaga’. E a gente não tem vaga por conta da superlotação”. Algumas dessas turmas chegam a ter 40, 42 alunos, quantidade que supera o número recomendado por especialistas, que é de até 35 estudantes.

DESAFIOS DO PÓS PANDEMIA

A educadora acredita que as sequelas que a pandemia deixou na educação não serão recuperadas tão rápido e, talvez, nunca seja possível superar as consequências da covid-19: “Eu acredito que o grupo que vivenciou isso (a pandemia) não vai se recuperar como deveria. Porque houve perdas, etapas foram quebradas, a gente tira pelo comportamento dos alunos”.

Ela conta que os estudantes que ingressaram no fundamental II em 2020 atualmente estão no 9º ano, e é visível a dificuldade em habilidades básicas, como leitura, escrita e matemática.

Além do acadêmico, alguns alunos vivenciam outro desafio: as emoções pós pandemia. “A escola é linda para desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos, que às vezes não as têm no ambiente familiar. Como seguir regras, resolver conflitos, lidar com o outro e isso foi quebrado, além do conteúdo (didático)”.

As situações experimentadas atualmente em sala de aula dizem respeito a dificuldade da garotada de entender o papel do professor, compreender as dinâmicas com os colegas, o que é brincadeira e o que não é, entre outras questões de relacionamento.

Fases foram puladas, crianças que não presenciaram o convívio escolar durante 2020, e parte de 2021, ao retornarem para o ambiente educacional permaneceram com a mentalidade de dois anos atrás. E, talvez, sejam essas as sequelas mais difíceis de serem superadas. (Luciana Araújo)