Integrantes do acampamento Nova Conquista, da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), em Parauapebas, denunciam terem sido agredidos por seguranças que prestam serviço para a mineradora Vale, na noite do domingo (21). Bombas de efeito moral e balas de borracha foram disparadas pelos seguranças, aproximadamente às 19h, na região conhecida como Fazenda Lagoa, próxima ao Bairro Nova Carajás, perto da Estrada de Ferro Carajás.
Leonardo Fernandes da Costa e a esposa, Deusa, estavam no momento do confronto. O casal relatou ao Portal Correio de Carajás que um grupo de aproximadamente 70 pessoas foi cedo, por volta das 7 horas, até determinado ponto com o objetivo de ligar energia para o acampamento. “Nós estamos aqui desde 2016 sem energia elétrica”.
Leonardo garante que não houve invasão e que o ponto onde estavam sendo instalados postes e fios elétricos era o limite permitido para o grupo. “Quando chegamos no local os seguranças perguntaram ao grupo o que nós queríamos. Falamos que a gente estava ali para puxar energia para a gente, deixamos bem claro que não queríamos invadir o local”.
Leia mais:O trabalho dos agricultores permaneceu até às 19h, quando, de acordo com Leonardo, se reuniram para uma assembleia. “Na hora que eu fui fazer a oração soltou a primeira bomba de efeito moral e gritando que iriam matar todo mundo. O povo espalhou, menino se perdeu dentro do mato, um foi atingido por 12 balas de borracha”, descreveu.
Leonardo conta que toda a ação durou aproximadamente uma hora, tendo fim com a chegada da Polícia Militar, que foi acionada por eles e que os escoltaram até as casas. Ele afirma que não estavam armados e que 14 pessoas ficaram feridas, entre crianças, homens e idosos.
O Portal Correio de Carajás esteve no local do fato, nesta segunda-feira (22), procurando o líder do grupo, conhecido como Barbudo, mas ele não estava em casa e a informação é de que estaria reunido com advogados. Um boletim de ocorrência foi registrado pelas vítimas na 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil.
A assessoria de comunicação da Vale, procurada pelo Correio de Carajás, encaminhou nota à redação. Leia, na íntegra:
“A Vale informa que no domingo, (21), a sua equipe de segurança foi recebida a tiros de arma de fogo por um grupo de aproximadamente 40 pessoas que ocupam irregularmente área de propriedade da empresa denominada Fazenda Lagoa, no município de Parauapebas. O registro está no boletim de ocorrência número 0071/2020.103382-8, registrado na delegacia de Parauapebas em 22 de junho.
A segurança da empresa foi chamada depois que o grupo invadiu área da empresa e tentou instalar postes para ligação clandestina de energia elétrica no local. Após várias horas de diálogo na tentativa de convencer o grupo a paralisar a ação ilegal, os seguranças iniciaram a operação de desforço imediato utilizando os meios necessários não letais e em legítima defesa.
A Polícia Militar e os bombeiros foram imediatamente acionados para controlar a situação e prestar o atendimento médico. A Vale acompanha o caso e aguardará a conclusão das investigações pelas autoridades, a quem compete a apuração dos fatos.
A Vale vem mantendo diálogo com a comunidade, que desde 2015 ocupa a Fazenda Lagoa, de propriedade da empresa. A área integra processo de reintegração de posse com decisão judicial favorável à Vale, determinando que os invasores deixem o imóvel. Com a nova ação realizada, o movimento descumpre também acordo firmado com a interveniência do INCRA, de não promover invasões.
Desde abril, a empresa se reúne com o grupo de invasores para alertá-los de que invasão de propriedade privada, bem como instalação clandestina de energia são crimes, além de apresentarem alto risco de saúde e segurança para os membros da comunidade, como choque de alta voltagem e risco de incêndio”.
A Prosegur, procurada na data da publicação, encaminhou posicionamento no dia 25/06. Segue, na íntegra:
“A Segurpro informa que sua equipe de vigilância patrimonial, que presta serviço à mineradora Vale, foi acionada depois que grupo que ocupava irregularmente área de propriedade da mineradora, no município de Parauapebas (PA), tentava instalar postes para ligação clandestina de energia elétrica no local por eles invadido.
Após mais de 12 horas de diálogo, na tentativa de convencer o grupo a paralisar a ação ilegal, nossos vigilantes iniciaram a ação de desforço, onde foram atacados pelos invasores, inclusive com disparos de armas de fogo. Em legítima defesa, a equipe reagiu utilizando os meios necessários como spray de pimenta e balas de borracha e dentro das normas regulatórias da atividade de segurança privada.
A Segurpro reitera que seus vigilantes são treinados e certificados pela Polícia Federal. A empresa está à disposição das autoridades, para colaborar com o andamento das investigações”. (Theíza Cristhine – Colaboração Ronaldo Modesto)
Reportagem atualizada às 09h24 de 25/06/2020 para acréscimo de posicionamento.