Correio de Carajás

“Parauapebas precisa se preparar para o futuro sem a mineração”, diz geólogo Breno Santos

Descobridor de Carajás, geólogo Breno Santos adverte sobre necessidade de a Capital do Minério buscar alternativas econômicas

Breno Santos alerta que Parauapebas pode virar cidade fantasma no fim do ciclo da mineração/Fotos: Vinicius Moraes
Por: Theíza Cristhine

O geólogo Breno Augusto dos Santos, um dos responsáveis pela descoberta da província mineral de Carajás, faz um alerta sobre a necessidade, urgente, de Parauapebas buscar alternativas econômicas para o período pós-mineração.

“Vão ser vinte, trinta anos com minério rico e depois, sem royalties. Como vai ficar? Parauapebas tem 300 mil habitantes. O pessoal da Vale vai para Canaã, e a população? Vai se tornar uma cidade fantasma?”, questiona, sugerindo alternativas em setores como turismo e pecuária de qualidade.

Aos 85 anos, Breno foi homenageado no evento Café com Ciência, como parte das comemorações dos 15 anos do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém. Evento reuniu jornalistas da Capital, de Parauapebas e do Maranhão.

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O questionamento de Breno Santos sobre o futuro de Parauapebas ocorreu após o Correio de Carajás perguntar a ele qual cidade herdaria o famoso martelo geológico – um dos símbolos da descoberta de Carajás – se Marabá ou a ‘Capital do Minério’.

O geólogo prontamente respondeu que gostaria que o objeto fosse para Parauapebas por ser mais perto de Carajás, no entanto, revelou que o museu feito na cidade ficou diferente do sonhado por ele. O objetivo era que o local documentasse todo o passado, “não só geológico, como existe na Fundação Casa da Cultura de Marabá”, mas também fosse uma área cultural para a comunidade participar e um centro de pesquisa científica. O objetivo era criar um núcleo de pesquisa focado na inovação para o futuro de Parauapebas, o que segundo ele não aconteceu.

“É importante que a cidade de Parauapebas encontre novos caminhos para o futuro, com turismo, talvez uma pecuária de qualidade”, sugeriu o geólogo.

O Correio também perguntou para Breno se ele acredita ser possível coexistir mineração e preservação ambiental. Ele afirmou ser possível, desde que a mineração seja feita com responsabilidade e fiscalização.

“É impossível a humanidade evoluir sem a mineração, não há como, desde a idade da pedra que o homem evoluiu por causa da mineração, mas é importante que ela seja feita sempre com responsabilidade”, pontuou.

Geólogo voltou ao Pará para celebrar os 40 anos do Complexo Minerário de Carajás/Foto: Vinicius Moraes

O geólogo também diferenciou mineração de garimpo ilegal. “Hoje se confunde garimpo, lavra clandestina com mineração. Aquilo não é mineração, é crime.”

Para ele, a preservação da floresta, de matas ciliares e encostas é essencial para evitar tragédias ambientais, como as enchentes no Rio Grande do Sul. “O trabalho de reflorestamento que a Vale está iniciando deveria ser praticado por todas as prefeituras da região, antes que aconteça um desastre aqui”, alertou.

Breno fez questão de enfatizar que a vida lhe deu grandes presentes, o primeiro deles foi estar no helicóptero que fez o primeiro pouso em Carajás. “Ter sonhado antes de todo mundo que Carajás poderia ter muito ferro foi uma dádiva que eu tive naquele momento, mas eu não fiz nada para merecer isso, por outro lado, eu sou a única pessoa no mundo que acompanha Carajás desde de 1967 até hoje”, comemorou.

O geólogo ainda compartilhou que ao pedir demissão em 1997, ao chegar em casa a mulher perguntou como ficaria Carajás, divertiu-se ao contar a preocupação da esposa de quem seria o guardião do lugar. A esposa faleceu anos depois, mas antes, ambos visitaram Carajás para que ela se despedisse.

A verdade é que o menino nascido em Olímpia, interior de São Paulo, entrou para a história ao descobrir a reserva de minério de ferro de Carajás em 1967, quando ainda era empregado da US Steel. Hoje, aos 85 anos ele celebra o privilégio de poder contar a própria trajetória, e faz questão de nomear todos que fizeram parte dessa jornada durante suas palestras.

Atualmente, o geólogo mora em Niterói, no Rio de Janeiro, entretanto, Breno já escreveu como deseja contar o último capítulo da vida dele: “Carajás está no meu sangue, tanto que as minhas cinzas serão jogadas lá”, disse.

Para embalar o último ato, Breno pede ainda que as cinzas sejam jogadas ao som da canção clássica My Way, eternizada na voz do cantor Frank Sinatra, a quem fez questão de citar um trecho da obra durante a palestra:

“Eu vivi uma vida completa,

Eu viajei por toda e qualquer estrada,

E mais, muito mais que isso,

Eu fiz isso do meu jeito.”

A famosa foto do jovem geólogo de 27 quando descobriu minério de ferro em Carajás

40 anos do Complexo Minerário de Carajás

 

O Complexo Minerário de Carajás, maior província mineral do mundo, completa 40 anos de operação. Descoberto em 1967 pelo geólogo Breno Augusto dos Santos, o projeto começou a operar em 1985, com mina, usina, porto e ferrovia interligando o Pará ao Maranhão.

Hoje, a Vale foca na produção de minerais essenciais à transição energética e no combate às mudanças climáticas, com o Programa Novo Carajás, que prevê R$ 70 bilhões em investimentos até 2030 para manter a produção de minério de ferro de alta qualidade e ampliar a extração de cobre.

O Mosaico de Carajás protege 800 mil hectares de floresta amazônica e é um polo de turismo ecológico e pesquisa científica, com a mineração ocupando apenas 3% da área. A empresa também mantém a Meta Florestal de recuperar 100 mil hectares e proteger outros 400 mil até 2030, com projetos como o da Belterra, que integra reflorestamento e agricultura sustentável.

Café com Ciência

O ITV, com unidades em Belém (Desenvolvimento Sustentável) e Minas Gerais (Mineração), atua em pesquisa e inovação, com foco em conservação da biodiversidade, bioeconomia e soluções sustentáveis para a mineração. Entre as contribuições, destacam-se o sequenciamento genético do coronavírus e o Projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira, que mapeia o DNA de espécies ameaçadas e de interesse econômico.

O evento ressaltou a importância da preservação ambiental, como a manutenção de 800 mil hectares de floresta no Mosaico de Carajás, e apresentou os números: mais de R$ 1 bilhão investidos em pesquisa, quase 2 mil publicações científicas e 86 patentes.