Jhonis de Jesus Pinheiro Ferreira, de 25 anos, foi transferido nesta quarta-feira (29) para a Cadeia Pública de Parauapebas após a Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Deaca) cumprir um mandado de prisão contra ele no dia anterior, terça-feira (28).
Ele é alvo de uma investigação que visa esclarecer se praticou abuso sexual contra uma criança de três anos, filha da companheira dele, e acabou preso em meio a uma história confusa e permeada de mentiras.
Jhonis jura ser inocente. A mãe da criança e o advogado Tony Araújo acreditam na inocência e alegam que o padrasto é vítima de armação do pai da criança. O casal diz sofrer ameaças frequentes do pai biológico da vítima. A delegada Ana Carolina, responsável pela investigação, entretanto, afirma que Jhonis e a mãe da criança mentiram em diversas oportunidades para a Polícia Civil.
Leia mais:O caso chegou até as autoridades após a criança ter passado um final de semana na casa de uma amiga da mãe. Na ocasião, verbalizou que o padrasto, Jhonis, teria colocado o dedo na vagina dela, que ela teria sentido muita dor, que teria sangrado e que ele teria feito ela beber água da privada.
Diante desses fatos, relata a delegada, esta amiga procurou a mãe da menina e um tio, informando a situação. O tio foi quem procurou a Polícia Civil, relatando o fato. “A gente instaurou o inquérito policial para verificar e depois disso essa mãe procurou a delegacia relatando que estava sendo ameaçada pelo ex e que ele teria colocado na cabeça da filha que ela inventasse que estaria sendo abusada sexualmente, para prejudicar o namorado (Jhonis)”.
Desde o início da investigação, informa a delegada, a mãe da criança negava manter relacionamento com o acusado. “Ela falava que não vivia com ele, que teria se separado dele há muito tempo, mas quando a gente foi investigar descobriu que ela mentiu o tempo todo para a Polícia Civil. Ele vivia com ela há muito tempo, tinham uma união estável. No condomínio onde eles moravam as pessoas achavam até que a menina era filha dele. Quando a gente fez a prisão ele estava lá”, relata.
Ainda de acordo com ela, a mãe da criança nunca deu credibilidade para a fala da filha e tentou inviabilizar o trabalho da Polícia Civil. “Não quis trazer a criança para ser ouvida pela psicóloga, todos os dias inventava uma desculpa. Fomos ouvindo testemunhas de revelação, ou seja, pessoas para quem essa criança revelou o abuso sexual. A mãe falava todo tempo que não estava com o agressor, que ele não frequentava mais a casa, que ela não tinha mais relacionamento com ele, mas sabendo que era mentira e que a criança estava vivendo no mesmo ambiente que o agressor decidi representar pela prisão preventiva dele”, acrescenta.
A delegada afirma que irá encaminhar o inquérito, inclusive, para a Vara da Infância e Juventude. “Eu vi que a mãe, além de não acreditar na fala da filha, estava pouco se importando pela integridade física e psicológica da criança. Acredito que essa mãe não tem condições de continuar com a guarda”, afirma.
O próximo passo da Polícia Civil é tentar fazer a escuta especializada da criança que atualmente está com o pai. Conforme a delegada, descobriu-se, ainda, que Jhonis chegou a deixar a mãe da menina por cárcere privado durante 10 dias. “Ameaçou matar ela e toda a família, inclusive pediu para testemunhas omitirem esse fato para a polícia, para tentar melhorar a situação dele em relação a esse crime atual”.
ACUSADO
Ouvido pelo Correio de Carajás, Jhonis nega veementemente ter cometido o abuso e alega ser vítima de uma armação do pai da criança. Ele conta que passou a morar no condomínio da mãe da menina e acompanhou o ex dela agredindo a mulher fisicamente. Em uma dessas situações, o homem acabou preso pela Lei Maria da Penha e passou três meses recolhido.
Neste período, Jhonis e a mãe da criança se aproximaram. “A gente passou a gostar um do outro e veio se relacionar. Com três meses ele saiu da cadeia e falou que ia me matar, que ia matar a minha esposa, que nós tramamos de botar ele na cadeia, que ia se vingar, que ia tomar a filha e que ia fazer o inferno na minha vida”, diz Jhonis.
Ainda conforme ele, também neste período a mãe da criança acabou tendo um desentendimento com a amiga. Após isso, as duas reataram e a criança foi passar o final de semana na casa desta pessoa, onde teve contato com o pai biológico. Deste contato, sustenta, teria passado a repetir a história do abuso.
“A minha companheira me comunicou que a criança estava falando essas coisas, viemos na delegacia, fizemos o boletim de ocorrência e fomos no IML fazer os exames. Esse exame vai comprovar que não teve abuso”, diz, acrescentando ser pai de mais três filhos, além de conviver com os quatro da companheira.
Ele garante que irá provar inocência e depois irá processar o pai da enteada. “Pelo fato de eu estar perdendo meu emprego, é a segunda vez que eu perco meu emprego por causa dele. Assim que provar minha inocência vou processar ele e ele vai ter que pagar por essa acusação”.
MÃE
A mãe da criança, também ouvida pela Reportagem, confirmou as agressões e prisão do ex, assim como as ameaças após ele deixar a cadeia. Ela afirma que proibiu contato da filha com o homem, mas ele conseguiu falar com menina na casa da amiga da família.
“Nesse dia ela (amiga) postou uma foto da minha filha e o pai da criança ligou para ela, minha amiga disse que deu o celular pra criança e foi tomar banho, quando saiu do banheiro a criança já estava falando que o Jhonis tinha colocado o dedo na parte íntima dela e tinha sangrado”.
Quando a criança chegou em casa, conta, passou a dizer que ganharia presentes do pai biológico. “Ela chegou dizendo que o pai ia dar uma bicicleta, ia dar um brinquedo, ia dar um monte de presentes. Depois que ela falou com o pai começou a falar que o Jhonis tinha mexido com ela, que tinha colocado o dedo na parte e tinha sangrado, ela começou a falar que ele colocou ela pra beber água do vaso. De imediato liguei pro Jhonis e ele falou pra gente vir na delegacia”.
DEFESA
O advogado Tony Araújo diz confiar na palavra do cliente e que pretende provar que ele é vítima de uma suposta armação. “Uma criança de três anos é fácil de induzir, implantar ideias nela. O pai biológico da criança teria prometido presentes para ela falar isso, há vídeos dela dizendo que o pai teria prometido presentes para ela falar isso e será juntado aos autos”, declarou.
Para ele, o padrasto é vítima da situação. “Inclusive quando ele soube que estavam falando isso sobre ele, de imediato, junto com a esposa que é a mãe da criança, veio até a delegacia registrar boletim de ocorrência pedindo para ser investigada a situação, porque ele não fez isso”.
O advogado adiantou que o resultado do exame sexológico ainda não foi divulgado, mas em conversa preliminar com o médico, este teria apontado não haver indício de violência sexual contra a criança, que passará por avaliação psicológica.
“Ele (Jhonis) está muito revoltado, porque é natural que a pessoa injustiçada como ele está sendo se revolte. Ele está abalado, psicologicamente. A defesa está trabalhando para provar que tudo não passou de suposta armação para colocar meu cliente na situação que ele está hoje”, finalizou Araújo. (Luciana Marschall e Ronaldo Modesto)